“Latifúndio do agronegócio e governo mineiro têm uma aliança”

 

Por Geanini Hackbardt
Da Pàgina do MST

 

Por Geanini Hackbardt
Da Pàgina do MST

Marili Zacarias, integrante da direção nacional do MST, expõe a paralisia da Reforma Agrária, faz uma breve análise sobre o papel que o governo tucano tem desempenhado em Minas Gerais e relembra as propostas e ações que o Movimento realiza para transformar esta realidade. Dentro de um contexto de cerco aos Sem Terra mineiros, ela destaca a importância da aliança entre os trabalhadores.

O MST de Minas Gerais enfrenta grandes desafios na luta pela democratização da terra. Quais são as principais questões que o movimento discute hoje sobre a situação do campo?

Minas Gerais é um estado de grande extensão territorial, superior ao tamanho da França. Também é um estado diverso e com abundância de riquezas naturais. Porém, seu território está sendo extorquido pelas empresas transnacionais como a Vale, a Fibria, a Bunge…

O latifúndio ainda predomina em algumas regiões, como o Norte e o Jequitinhonha. Mas as transnacionais do agronegócio têm avançado muito. Isso significa uma concentração cada dia maior das terras, aliada ao desenvolvimento do capital.

Esse projeto gera a riqueza concentrada nas mãos de poucos, enquanto aumenta a fome, a miséria, a violência e a degradação ambiental. Ao contrário do que é propagandeado, o agronegócio não gera empregos, não produz alimentos e sim commodities, produtos de monoculturas, comercializados em escala mundial e negociados no mercado financeiro antes mesmo de serem produzidos.

O MST enfrenta esse modelo e faz lutas para denunciá-lo. Na ação do 8 de março, por exemplo, nós – mulheres da Via Campesina – derrubamos cana e arrancamos soja transgênica no Triângulo.

E ainda tem o Estado, que sustenta esse modelo, subsidiando os negócios destas empresas com dinheiro público. As terras devolutas, nas quais poderíamos assentar milhares e milhares de Sem Terra, estão entregues às empresas transnacionais, por meio de concessão. Elas pagam menos de um real por ano para cada hectare de terra e tem lucros exorbitantes no plantio de eucalipto. E isso é só um pouco do caos em que Minas se encontra.

A Reforma Agrária passa por um momento de estagnação no estado. Qual é a estratégia que o agronegócio e o latifúndio têm adotado para impor seu projeto para o campo? Qual é a postura que o Estado adota diante disso?

Esse modelo baseado no latifúndio e no agronegócio está aliado ao governo mineiro, disputa terras, tecnologias e recursos públicos. Também se apropriam das forças jurídicas para realizar despejos dos nossos acampamentos, criminalizando o movimento social e os pobres que lutam.

O governo dos tucanos, em qualquer estado, é marcado pela intensa repressão e por relações truculentas com os movimentos. Só nesses quatro meses de governo Anastasia já foram executados quatro despejos de áreas onde as famílias Sem Terra produziam seus alimentos, tinham escola e já comercializavam seus produtos em feiras e mercados na região. E ainda existem mais 13 pedidos de reintegração de posse. Parece que o judiciário está vendido à essa corja.

Temos casos emblemáticos como a Ariadnópolis, no sul. Um latifúndio com mais de 8 mil hectares de improdutividade, por que não foi desapropriado até hoje. No Jequitinhonha, a fazenda Nova Alegria, onde aconteceu o massacre de Felisburgo, até hoje está parada.

Nada foi feito, Chafik anda solto, impune. Agora a Fazenda Inhumas, no Triângulo, já estava com decreto assinado, a terra já adquirida e nosso povo foi despejado. E assim vai, esse descaso por todo o estado. Daqui a pouco vão querer despejo nos assentamentos antigos. Mas não vamos nos calar enquanto essa situação continuar, enquanto a reforma agrária em MG não se concretizar.

Então o estado se posiciona em favor do agronegócio. Como ele se comporta em relação aos assentamentos?

Há quatro anos que nenhuma família é assentada em Minas, temos acampamentos de oito a 10 anos, com centenas de famílias vivendo no barraco de lona todo esse tempo. Além disso, estamos sem assistência técnica e créditos para consolidação dos assentamentos.

O Incra do estado é uma das instituições com maior quadro de funcionários e técnicos, mas que não trabalham para a concretização da Reforma Agrária. Toda estrutura da instituição está imobilizada na burocracia e na ineficiência, o que inviabiliza o andamento dos processos dos assentamentos e o acesso a algumas políticas públicas.

Para piorar, alguns órgãos vinculados ao estado parecem ter ordem expressa para dificultar nossa vida. Por exemplo, por que é tão difícil para os Sem Terra conseguir um licenciamento ambiental? Como as mineradoras, as construtoras de barragens, os plantadores de eucalipto conseguem? Os nossos assentamentos hoje estão consolidados no papel, mas na realidade falta toda a infra-estrutura: estrada, energia elétrica, casa, escola, saúde, enfim, tudo o que diz respeito ao papel do estado, está ausente.

O governo do estado nunca entrou nas nossas áreas para abrir estradas, construir barraginhas, implementar agroindústrias, capacitar a produção e a comercialização dos produtos… somente a Polícia Militar se faz presente, nos despejos.

Aparentemente os números da Reforma Agrária não coincidem com a realidade. O que MST tem feito diante deste entrave? O que propõe concretamente para realizar suas propostas?

O papel do MST é seguir rompendo as cercas do latifúndio e, agora, enfrentar o agronegócio. Não vamos permitir que ele avance com seus venenos, devastando as riquezas que pertencem ao povo! O MST constrói em suas áreas um outro modelo de agricultura, baseado no respeito à terra, às sementes e à natureza, produzindo alimentos saudáveis, sem veneno. Trabalhamos a cooperação, buscando criar agroindústrias. Isso significa aliar tecnologia à geração de empregos e renda no campo.

Porém, somos apenas uma parte de um projeto popular, que é muito maior. Um projeto de sociedade, forjado junto a uma infinidade de movimentos que lutam por um mundo mais justo, igualitário e humano.

Para nós, o poder deve estar nas mãos dos trabalhadores e das trabalhadoras deste país, que realmente produzem as riquezas. Assim, reafirmamos a unidade entre o campo e a cidade e organizamos nossa jornada de lutas nacional com um grande acampamento do MST em Belo Horizonte.

E logo depois seguimos para o grande encontro dos Movimentos Sociais de MG. O 3º Encontro não é um evento isolado. É um processo que pretende acumular forças para vários outros momentos. É o início de um enfrentamento massivo ao governo que impõe o choque para o povo, que precisa de terra, trabalho e educação.