CPT critica falta de resultado na apuração de morte de casal

Do Terra Magazine

 

Do Terra Magazine

 

O andamento das investigações do assassinato do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria Bispo do Espírito Santo, ocorrido em 24 de maio, em Nova Ipixuna, no Pará, preocupa a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em entrevista a Terra Magazine, o advogado da entidade em Marabá (PA), José Batista Afonso, criticou a falta de resultados durante as apurações, quatorze dias após o duplo homicídio.

– Até agora, não há novidade a respeito da identificação, seja de autores ou de possíveis mandantes do crime. A polícia não informou e não divulgou nada. Já vamos para praticamente 15 dias. O inquérito tem prazo para ser concluído em um mês e, por enquanto, não temos resultados. O tempo corre contra. Pelo que o governo havia anunciado, a Polícia Federal e a Polícia Civil iriam atuar conjuntamente no caso para solucionar o mais rápido possível e ter o maior contingente de agentes envolvidos nas investigações.

Batista critica ainda as declarações que a polícia do Pará tem dado em relação às mortes dos trabalhadores rurais Herenilto Pereira dos Santos e Marcos Gomes da Silva. Apontado como testemunha no caso do homicídio de Zé Cláudio e Maria, Herenilto foi encontrado morto no dia 28 do mês passado, no Assentamento Praialta-Piranheira, no município de Nova Ipixuna – o mesmo onde morava o casal de extrativistas.

Já Marcos Gomes da Silva foi executado a tiros na última quinta-feira (2), em Eldorado dos Carajás. A exemplo do que ocorreu com Zé Cláudio, ele teve a orelha decepada.

– A polícia tem se adiantado e feito conclusões sem ter feito investigação. Conclui que o crime não tem relação com a questão da terra. Se a apuração comprovar isso, ótimo. Não estamos dizendo que tem. Queremos que a polícia investigue. Agora, a polícia concluir sem ter chegado à autoria é queimar etapa, atropelar o processo. O correto é investigar antes e concluir depois – afirma Afonso.

Ele aponta mais problemas ao andamento do trabalho:

– Nesta segunda-feira, conversei com a viúva e com o cunhado do Herenilto. Eles afirmaram categoricamente que não havia qualquer suspeita, nenhuma notícia de envolvimento dele com prática de crime. A polícia logo informou que podia ser tráfico de drogas. É muito ruim, porque, em alguns momentos, a polícia se comporta como polícia política. E ela tem que ser, acima de tudo, técnica.

O advogado acrescenta que a mulher do agricultor e o cunhado tiveram que deixar o Assentamento Praialta-Piranheira por falta de segurança.

– Eles me contaram que tiveram que mudar do assentamento, onde viviam há 18 anos, porque não se sentem seguros em morar ali. Desde que recolheu o corpo de Herenilto, a polícia não esteve mais na casa deles, segundo disseram. A situação de instabilidade e de insegurança é grande dentro do assentamento. Isso é reflexo da ausência da polícia. Não é que a polícia tenha que estar lá 24 horas por dia, mas poderia, pelo menos, transmitir uma sensação de segurança para as famílias que lá estão. Quanto mais o pessoal abandona a área do assentamento, mais difícil para as investigações. São pessoas que, de certa forma, foram ouvidas no inquérito, portanto, são testemunhas.

“Governo não pode atuar como bombeiro”

Para enfrentar de forma eficiente a violência na região, José Batista Afonso defende implantação de políticas com efeitos a médio e a longo prazo.

– É claro que esses assassinatos estão relacionados a algumas causas. Se pegarmos essa região do Pará, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso e Rondônia, observamos que é uma área de expansão do agronegócio em direção à Amazônia. De acordo com monitoramento feito pela CPT, nos últimos anos, é nessa região que se concentra a maioria dos conflitos registrados pela entidade. Embora as cinco mortes tenham se concentrado em duas semanas, essa região sempre teve muitos homicídios. Isso significa que ou governo investe no enfrentamento das causas que geram a violência ou ela tende a continuar. É preciso ter política de efeitos a médio e longo prazo. Não dá para ser uma política paliativa em função dos homicídios com maior repercussão. O governo não pode atuar como bombeiro. É preciso atingir as causas geradoras do conflito, entre elas, a impunidade, a extração ilegal de madeira sem controle na Amazônia, a devastação ambiental, que o governo tem pouco controle, e a grilagem.

O advogado da CPT completa:

– Foram cinco homicídios. É uma situação que, de fato, preocupa. Mesmo que algum deles não tenha a causa relacionada com a questão da terra, eram trabalhadores rurais. Não há como negar. A maioria deles aconteceu enquanto a polícia estava na região. Significa que quem pratica os crimes tem pouco medo da presença da polícia.