“O MST apoia a todas as lutas sociais do povo brasileiro”

 

 

Da Página do MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vai engrossar os atos populares programados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) para esta quarta-feira (06/07) em todo o Brasil. A intenção é tentar reacender a chama das lutas sociais no país, que teriam sido abandonadas pelos partidos políticos.

“Na eleição de 2010, percebemos que as propostas das centrais sindicais eram mais avançadas do que a dos partidos”, diz o coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile. “E muito mais avançadas ainda do que o programa da candidata Dilma”, completa.

Para Stedile, este tipo de mobilização é necessário para pressionar o governo Dilma Rousseff a adotar um “projeto de desenvolvimento nacional” que atenda os interesses dos trabalhadores.

Abaixo, leia a íntegra da entrevista concedida e publicada editada pela Agência Carta Maior.

Por que o MST decidiu unir-se à CUT na mobilização?
 
O MST apoia a todas as lutas sociais do povo brasileiro. E ficamos muito contentes quando a CUT (Central Única dos Trabalhadores) nos procurou com seu programa de mobilização nacional. A partir disso, realizamos reuniões com os demais movimentos socais, da via campesina e urbanos, para que todos, de alguma forma, pudéssemos nos somar nessa jornada do próximo dia 6 de julho.

O movimento sindical é a principal força organizada da classe trabalhadora brasileira. E por isso tem muita responsabilidade para a retomada das lutas sociais e conseguir, por meio das mobilizações, arrancar da classe dominante as melhorias das condições de vida para todo povo.

Do ponto de vista do MST, qual a reivindicação mais importante a ser lançada nas mobilizações?
 
A CUT tem apresentado uma pauta muito importante de pontos que interessam a sua base, mas também a toda classe trabalhadora. De nossa parte, vimos, como parceiros de classe, que hoje a principal bandeira que pode unificar todo movimento sindical e todos os movimentos sociais é a luta pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. É uma conquista necessária e importantíssima para diminuir a exploração e melhorar as condições de trabalho e de vida. 

E temos a luta pela garantia da universalização dos direitos sociais básicos, como saúde e educação.  Na saúde, por exemplo, a situação é vergonhosa, e será preciso que todos nos mobilizemos para que haja um atendimento digno e universal pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
  
No campo da educação há unidade nos movimentos para que o governo destine 11% do PIB na forma de recursos públicos, para ampliar em muito o acesso dos jovens à universidade, já que apenas 10% têm acesso a um curso superior. Para realizar um grande programa de superação do analfabetismo, que atinge 14 milhões de trabalhadores adultos. E para ampliar a rede de escolas técnicas e IFETs (Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica) em todo interior.

Nós do MST e da via campesina temos nossa pauta especifica, unitária, que tem alguns pontos emergenciais, como a anistia das dívidas dos pequenos agricultores ao PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), acelerar o assentamento das 80 mil famílias acampadas e implementar programas estruturantes de distribuição de renda e  desenvolvimento econômico no meio rural.

A pauta geral divulgada pela CUT parece bem “à esquerda”. O MST acha que está faltando quem defenda, no cenário político, uma agenda com esta característica?

 
Nós estamos enfrentando um enorme desafio entre todas as forças da classe trabalhadora brasileira: é que os partidos políticos ditos de esquerda, não têm conseguido apresentar programas da classe trabalhadora. Porque os partidos, como fruto da derrota dos países do leste, da crise ideológica e da ofensiva do capital, acabaram priorizando a luta institucional e se descaracterizaram do ponto de vista ideológico e da classe. Basta ver a forma como os parlamentares votam em questões que interessam aos trabalhadores, no Congresso.

Assim, já nas eleições passadas, durante o ano de 2010, nós percebíamos que as propostas apresentadas pelo Fórum Unitário das Centrais Sindicais, eram mais avançadas do que a dos partidos. E muito mais avançada ainda do que o programa da candidata Dilma.
 
Isso é ruim, mas também tem seu lado positivo, pois demonstra que há setores organizados da classe trabalhadora, que tem reservas ideológicas suficientes para repautar um programa de mudanças estruturais, a partir da visão da classe. E por isso, cumprimentamos essas iniciativas e devemos participar delas, na construção de programas e propostas para a sociedade a partir dos interesses dos trabalhadores que são a maioria do povo brasileiro.E são quem produz toda riqueza e os bens que circulam na sociedade.

O governo Dilma está precisando ser puxado mais para a esquerda? Por quê?
 
O governo Dilma é resultado de uma composição de classes sociais, diversas e até antagônicas, que foi possível e necessária para ganhar as eleições frente a um projeto de recolonizar nosso país e de reaplicar o neoliberalismo, como era a proposta da aliança das classes dominante, representada por José Serra.

No entanto, falta ao governo Dilma um projeto de desenvolvimento nacional, a partir dos interesses populares, que dê unidade a todas as forças populares. A intencionalidade de administrar o estado, para que haja crescimento econômico com distribuição de renda, é insuficiente como projeto de nação.
 
Para que isso acontece, não depende da vontade do governo ou dos partidos de sua base. Será necessário um verdadeiro mutirão, de debates, de construção de unidade, de uma verdadeira mobilização social a nível nacional, que vá  construindo uma unidade de forças em torno de um projeto de desenvolvimento, que seja nacionalista, justo socialmente, ambientalmente sustentável e hegemonizado pela ótica dos interesses populares. E isso leva tempo, depende da correlação de forças, do contexto internacional.
 
No entanto, as iniciativas da CUT e de outras centrais sindicais e movimentos sociais são fundamentais, porque será a partir da luta social, da mobilização, que a gente pode ir construindo identidades, interesses comuns, que sustentem um projeto político.
 
Assim, esperamos que a jornada do próximo dia 6 de julho, seja apenas o inicio da retomada de muitas mobilizações, unitárias e nacionais, que devem ocorrer outras já em agosto, depois em outubro, e assim sucessivamente, até que consigamos um patamar de reascenso do movimento de massas.