Exôdo rural entre a juventude é uma realidade cada vez mais presente no Brasil


Por Rachel Duarte
Do Sul 21

Por Rachel Duarte
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Debate antigo, o êxodo rural de jovens é uma realidade cada vez mais presente no Brasil. O desenvolvimento territorial está afetando diretamente esta camada da população, que se vê em constante dilema pessoal entre o campo e a cidade. Ao chegar aos centros urbanos, muitos ficam vulneráveis e não raro são tentados ao mundo do crime. Autoridades federais e gaúchas iniciaram um novo processo de redefinição das políticas públicas necessárias para atender de forma igualitária a juventude rural e urbana. O primeiro debate ocorreu nesta segunda-feira (26) na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 1996 e 2006 o número de jovens com até 29 anos que deixaram o campo chegou a três milhões. “Nos jovens rurais está depositada a continuidade da atividade agrícola das famílias do campo, que são responsáveis pela capacidade produtiva do país e em manter a soberania alimentar do Brasil”, alerta a coordenadora de Desenvolvimento Humano do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ana Tereza Ferreira.

O principal problema da migração dos jovens para o campo é a falta de acesso a bens culturais e a falta de autonomia no campo, explica a coordenadora. “O campo envelheceu e os jovens rurais também querem ter acesso aos bens das demais juventudes. Na sua atividade no campo eles não são autônomos e precisam dividir a renda com o pai, dono da propriedade. Com as mulheres a subordinação é ainda maior”, salienta.

Ainda de acordo com o IBGE, os jovens brasileiros entre 15 e 29 anos têm um nível de escolaridade 50% maior do que os que moram no campo. A diferença entre os analfabetos é seis vezes maior no meio rural, por isso, a busca para uma vida melhor na cidade está na esperança de uma elevação da escolaridade.

O jovem não é marginalizado apenas pela escassez de incentivos para uma melhor vida e autonomia no meio rural. Outro fator é a expansão desordenada de territórios periféricos no último período. De acordo com o representante da Secretaria Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades, Marden José de Andrade, desde a década de 70 até 2007, mais de 150 milhões de habitantes passaram a viver nos centros urbanos. “Atualmente, 40% da população brasileira vive em regiões metropolitanas. Nestes aglomerados o crescimento populacional é desordenado e facilita para a escassez de serviços públicos”, justifica.

Segundo ele, estão previstos no Orçamento da União para 2012, recursos específicos para resolução de conflitos fundiários urbanos. “Criamos a Política Nacional de Prevenção a Conflitos Fundiários Urbanos e queremos evitar estes conflitos”, explica.

Criminalidade

Territórios vulneráveis, como as periferias, favorecem a violência e a organização criminosa. Neste contexto, a população jovem mais uma vez é a mais exposta aos fatores externos, devido à carência de políticas públicas específicas para a juventude. “Há décadas se debate a juventude e todos dizem que os jovens são o principal foco das ações sociais do Estado brasileiro. Mas, se é verdade que o país vive um bom momento na sua economia, geração de renda e habitação, também é verdade que falta pensar na inclusão dos jovens nestas políticas”, critica a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB).

A parlamentar, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, defende que é preciso manter o jovem no espaço rural com acesso à internet e com autonomia para sua própria moradia. Ela também sugere valorizar as potencialidades dos jovens como forma de desenvolver políticas assertivas. “Não queremos formar robôs. Precisamos oferecer oportunidades que não deixem os jovens dependentes, como oferecer microcrédito para os que produzem cultura alternativa”, exemplifica.

Neri da Costa, coordenador nacional do Projeto de Proteção de Jovens em Território Vulnerável (Protejo), do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), avalia que o programa é importante para combater a violência e competir com o crime. Por outro lado, a política está sendo redefinida pelo governo federal. “Estamos rediscutindo a metodologia do projeto. Ele foi implantado em 2007. Agora estamos revendo a grade de ações, a possibilidade de vínculo com outros projetos para que, em 2012, ele seja mais exeqüível”, afirma.

O Protejo presta assistência, por meio de programas de formação e inclusão social, a jovens adolescentes expostos à violência doméstica ou urbana ou que vivam nas ruas. O trabalho tem duração de um ano, prorrogável por mais um, e tem como foco a formação da cidadania desses jovens por meio de atividades culturais, esportivas e educacionais. “A Praça da Juventude, na Vila Bom Jesus (em Porto Alegre)  também é uma ação do Pronasci e poderia ajudar na disputa com o crime, mas os recursos também foram perdidos”, critica o diretor de Juventude da Confederação Nacional das Associações de Moradores, Getúlio Vargas.

Atitude consciente

O coordenador da Central Única das Favelas do Rio Grande do Sul (Cufa-RS), Manoel Soares, acredita que as políticas públicas podem ser as melhores, mas, sem uma formação cidadã, serão sempre insuficientes. Ativista das iniciativas sociais nas periferias gaúchas, o comunicador é contrário aos críticos aos jovens do século 21. “Não acredito que é só a juventude de 64 que era inteligente e politizada. Isso é um pensamento antigo”, fala. Manoel alerta que os jovens precisam ser mais protagonistas do Brasil de hoje. “Não dá pra ficar só vendo Crepúsculo ou ouvindo Restart. Quem tem o poder na mão para se contrapor as deficiências do sistema são vocês”, completa.