Ação contra a cobrança de royalties pela Monsanto vale em todo o país

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Do Valor Econômico

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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O Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu que o resultado da ação coletiva de dois sindicatos de produtores rurais do Rio Grande do Sul contra a Monsanto – uma discussão bilionária sobre royalties na comercialização de sementes de soja transgênicas – valerá no país inteiro. Os valores em discussão podem chegar a R$ 15 bilhões, segundo dados do processo.

No começo de abril, os agricultores conseguiram uma decisão na Justiça de Porto Alegre proibindo a Monsanto de cobrar 2% de royalties sobre a comercialização de grãos produzidos com sementes de soja transgênicas, tolerante ao herbicida Roundup Ready. A decisão também obriga a empresa a devolver tudo o que já foi cobrado desde a safra 2003/2004.

Agora, com o posicionamento da 3ª Turma do STJ, a sentença de Porto Alegre valeria para produtores de todo o país, caso se confirme. Mas a Monsanto já recorreu da decisão de primeira instância, apresentando um recurso de apelação para o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS).

A Monsanto afirmou em nota que a cobraa dos royalties se mantém até decisão judicial definitiva. “Enquanto durar o andamento da ação e não houver uma decisão definitiva da Justiça sobre o mérito, o sistema de cobraa de royalty pelo uso da tecnologia Roundup Ready continuará funcionando normalmente com base nas garantias legais estabelecidas”, diz o texto.

A empresa também afirma que a decisão do STJ “em nada altera o mérito da questão, pois apenas estabelece a abrangência nacional de futura decisão de mérito da ação que ainda tramita perante o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS).” A Monsanto afirmou que não irá recorrer da decisão do STJ, pois já está pacificado na Corte que as ações coletivas têm abrangência nacional.

A relatora do caso no STJ, ministra Nancy Andrighi, ressaltou que a ação proposta no Rio Grande do Sul abrange todos os produtores rurais que trabalham com as sementes de soja transgênicas, independentemente de estarem associados aos sindicatos que entraram com o processo. Ela foi acompanhada por unanimidade pela 3ª Turma. “Não é possível conceber tutela jurídica que isente apenas os produtores do Rio Grande do Sul do pagamento de royalties”, afirmou a ministra. “A eventual isenção destinada apenas a um grupo de produtores causaria desequilíbrio substancial no mercado atacadista de soja.”

A decisão que afastou a cobraa dos royalties foi tomada pelo juiz Giovanni Conti, da 15ª Vara Cível de Porto Alegre. O recurso da Monsanto suspende os efeitos da sentença até um novo posicionamento do Judiciário. “O país inteiro vai ficar de olho na 5ª Câmara Cível do TJ-RS”, diz o advogado Néri Perin, que defende os sindicatos, referindo-se ao colegiado que julgao recurso da Monsanto.

A empresa cobra dos agricultores um valor sobre a compra de suas sementes com base nos direitos de propriedade intelectual. Além disso, exige royalties sobre as safras subsequentes. Na ação, os sindicatos questionam a incidência dos royalties sobre essas safras posteriores, que são produzidas por sementes próprias, obtidas das safras resultantes da semente original. Segundo os sindicatos, a cobraa chega a R$ 1 bilhão por safra.

Os agricultores acusam a Monsanto de cometer abuso na cobraa e defendem que os direitos de propriedade intelectual só poderiam valer na compra original das sementes, e não nas safras posteriores.

Os sindicatos citam o artigo 10 da Lei de Cultivares – nº 9.456, de 1997 -, segundo o qual “não fere o direito de propriedade sobre a cultivar protegida aquele que reserva e planta sementes para uso próprio“. Outro argumento deles é que a semente transgênica seria resistente e já teria “contaminadoas plantações. Assim, de acordo com eles, mesmo os grãos tidos como convencionais acabariam sendo identificados como transgênicos no teste de origem feito pela Monsanto, no momento da comercialização.

a Monsanto diz que o royalty é a forma pela qual é remunerada pelos investimentos para desenvolver a tecnologia da soja.