MST comemora 25 anos na BA com lutas e conquistas

Por Wesley Lima e Alan Tygel
Da Página do MST

Entre os dias 6 e 7 de setembro o MST comemorou 25 anos de existência na Bahia. Os festejos aconteceram na primeira área ocupado pelos Sem Terra no estado, o Assentamento 4045, localizado no município de Alcobaça, tendo como objetivo relembrar e festejar as lutas e conquistas do movimento durante esse período histórico.

Lutadores e lutadoras que ajudaram a consolidar o Movimento no estado desde a sua primeira ocupação participaram da comemoração, além, de parceiros e da direção estadual e regional. No total, mais de mil pessoas puderam festejar este momento.

Durante os dois dias de festas aconteceram homenagens aos companheiros e companheiras que ajudaram a construir e fortalecer a luta do Movimento no estado, exposição do artesanato e da produção regional, um resgate histórico contando o início da luta pela terra nos municípios baianos e diversas atrações musicais.

O que não poderia ficar de fora deste momento de abertura é a reafirmação das bandeiras de lutas do MST na Bahia, que têm como ponto de partida a Reforma Agrária, cultura, o combate a violência sexista, democratização dos meios de comunicação, saúde pública, educação do campo, diversidade ética, soberania alimentar.

Desta forma, Jaime Amorim, da direção nacional do MST salientou que “devemos nos colocar a serviço da luta contra o latifúndio, defendendo nossas bandeiras e permanecendo nela até o fim”.

 

O marco destes festejos foi o plantio de mudas de árvores num pomar criado no assentamento, no local em que se situou o acampamento, há 25 anos. A ideia central ao plantar árvores frutíferas é eternizar os 25 anos de lutas, resistência e conquistas do MST na Bahia.

 

Histórico

A história do MST na Bahia se inicia cinco anos depois que o movimento se consolida no sul no Brasil. O mesmo surge da indignação às desigualdades sociais provocadas pelo sistema capitalista e o latifúndio. Assim são demarcados seus objetivos enquanto movimento social: Lutar pela terra; lutar por reforma agrária; e lutar por uma sociedade mais justa e fraterna.

No dia 6 de setembro de 1987 o MST reuniu cerca de 350 famílias vindas dos municípios de Alcobaça, Teixeira de Freitas, Prado, Itanhém e Itamaraju que juntas ocuparam a fazenda 4045. O nome se refere à marcação das áreas de eucalipto na região, que já existiam naquela época.

Cada família envolvida na ocupação lutava por uma melhor condição de vida. A princípio as dificuldades eram muitas por falta de estrutura física para mantê-las resistindo. Mesmo assim, no dia 7 de setembro já estava consolidada a primeira ocupação de terra do MST na Bahia.

Conquistas

Durante esses 25 anos de lutas e resistências foram várias as conquistas do MST que beneficiaram a classe trabalhadora.

Entre elas temos a emissão de posse para 132 assentamentos onde residem 10.483 famílias. Estas famílias produzem e promovem sua independência financeira e política por meio da agricultura familiar. Há ainda mais 212 acampamentos, totalizando 34.292 famílias nas áreas.

Porém, a luta do MST não se resumiu apenas pela conquista da terra. O movimento criou neste período os setores que atuam nestas áreas junto com os órgãos públicos para desenvolver ações públicas para as famílias assentadas e acampadas.

Dentro deste contexto, por exemplo, a implementação de Agroindústrias e Fecularias, a organização das redes produtivas do café, leite, cacau e mamona, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa. Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) são ações que beneficiam os trabalhadores e trabalhadoras sem terra em toda a Bahia.

Os 25 anos do MST na Bahia são marcados por uma trajetória que organiza a classe trabalhadora, buscando refletir a sociedade e fazendo da terra um espaço coletivo que produza bens que gera a soberania alimentar e ideológica.

Desafios

Elizabeth Rocha, da coordenação nacional, lembrou aos participantes a importância das conquistas obtidas nestes 25 anos, e salientou os enormes desafios que ainda existem para a consolidação do movimento no estado baiano.

No campo da produção, o movimento na Bahia já alcançou uma marca expressiva controlando redes e cadeias de produção de café, cacau, leite, mamona e mandioca. E é nos acampamentos onde a produção se destaca. 

Mas os desafios nesta área ainda são grandes, segundo a dirigente. O primeiro deles é fixação da marca do MST. “Muita gente consome nossos produtos sem saber que são da reforma agrária. Temos que avançar nas agroindústrias para valorizar nossos produtos e para todos saberem que estão consumindo produtos do MST”.

Além disso, a mudança da matriz produtiva se coloca como um dos maiores desafios: “Antigamente não víamos como problema usar agrotóxicos. Hoje, temos a consciência de que devemos produzir sem venenos e adubos químicos, adotando a agroecologia como modelo de produção”. Algumas áreas do estado, como o assentamento Terra Vista, em Arataca, já possuem produção 100% agroecológica. Em outras, como o Recôncavo, há em curso uma formação massiva em assentamentos e acampamentos em transição agroecológica.

A comunicação e a cultura também foram citadas como elementos chave para o movimento no estado. “Já temos rádios, produção de cadernos de formação, registros de atividades, da nossa história. O objetivo agora é construir uma cultura que não seja de massa, e que possa educar o povo, e não deseducar como fazem os grandes meios de comunicação.” 

Beth falou ainda dos desafios para a juventude e para as mulheres. “Com a idade do nosso Movimento, aqueles que participaram da fundação já não têm mais tanta energia para militar. Por isso temos que cuidar da renovação de nossos quadros. A formação da juventude é uma prioridade do movimento. Hoje temos cerca 600 educadores e mais de 5000 educandos. E temos uma grande novidade: além dos cursos superiores de agronomia, letras e pedagogia, vamos abrir em breve uma turma de Direito. Vamos ocupar mais esse espaço historicamente dominado pelas elites.”

As mulheres, segundo Beth, vêm ganhando cada vez mais importância no Movimento. “Já realizamos o 11 acampamentos das mulheres, e temos cada vez mais mulheres na direção e em cargos importantes.”

Beth finalizou ressaltando a importância das parcerias nesta trajetória de 25 anos no estado da Bahia. “Sem elas, nunca teríamos chegado até aqui.” Na festa foram homenageados alguns parceiros do movimento nesta caminhada: o Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias (NEPPA), o Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul (CEPEDES), a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Quilombo, o Partido dos Trabalhadores, a Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais, o grupo Geografar, a UNEB, o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).