Encontro de Amigos do MST reforça luta pela Reforma Agrária

Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST


 

Mais de 200 pessoas de diversos movimentos sociais, partidos políticos e ONGs se reuniram na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), no Encontro de Amigos e Amigas do MST, no sábado (8/12).

Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST

 

Mais de 200 pessoas de diversos movimentos sociais, partidos políticos e ONGs se reuniram na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), no Encontro de Amigos e Amigas do MST, no sábado (8/12).

João Pedro Stedile, dirigente do MST, iniciou o encontro com uma análise das forças atuantes na luta de classes da sociedade brasileira e como isso se reflete no campo.

“O que enfrentamos hoje na agricultura não é mais o latifundiário atrasado. Agora, quando lutamos pela terra é preciso enfrentar todo o sistema capitalista, representado principalmente pelo capital financeiro e pela burguesia, que ao ver que não tem hegemonia total no governo, se agarra no Poder Judiciário e na mídia”, disse.

Em relação ao governo Dilma, Stedile afirma que a Reforma Agrária se encontra parada porque o governo, devido a sua composição de forças heterogêneas, não é capaz de realizar mudanças que alterem a estrutura social do país

Para ele, apesar de ser um governo melhor para as classes mais baixas do que um governo neoliberal, ainda não representa os interesses da classe trabalhadora nem da maioria da sociedade brasileira.

“O governo vem desde 2002 representando uma frente política de classes, como a burguesia, o capital financeiro, a classe média, os trabalhadores e os pobres. Disso resulta um governo equilibrado, com alta popularidade, mas que não serve para mudanças estruturais”, analisa.

De acordo com o dirigente do MST, “por causa dessa aliança, o governo toma medidas antagônicas, algumas vezes beneficiando o agronegócio, às vezes a classe média, e às vezes os trabalhadores. Nos temas que significariam mudanças estruturais, nos quais uma classe vai perder para a outra, o governo não interfere. Basta ver o Código Florestal, piorado para preservar os interesses dos proprietários de terras. A Reforma Agrária, por ser uma medida que altera as estrutruas, saiu da pauta por esse motivo”.

Desafios dos trabalhadores

Em relação à classe trabalhadora e aos movimentos sociais, Stedile apontou que desde a década de 1990 vivemos um longo período de refluxo dos movimentos de massa. E no refluxo, a classe trabalhadora não tem conseguido acumular forças para tomar iniciativa e enfrentar seu inimigo principal, os capitalistas. Nesse período, é preciso explorar e denunciar as contradições do capital para a sociedade.

“Apesar de vivermos em um período histórico adverso para os trabalhadores, as contradições do capitalismo se agravam a cada dia, seja na cidade ou no campo. O modo de produção capitalista beneficia apenas uma minoria, e no caso do campo, essa minoria se preocupa apenas com o lucro, destruindo o meio ambiente cada vez mais. A sociedade está se dando conta que o agronegócio é perverso e cobra pedágio da população”, acredita.

A maior contradição do agronegócio, de acordo com ele, é o uso abusivo de agrotóxicos. Por isso, a importância da campanha contra os agrotóxicos.

“A campanha contra os agrotóxicos, da qual o MST e Via Campesina fazem parte, denuncia o fato dos grandes produtores não conseguirem produzir alimentos sem utilizar veneno, porque o agrotóxico é a forma de substituir a mão de obra camponesa e de acabar com a biodiversidade. É óbvio que esse modo de produção vai causar desequilíbiro ambiental, e temos que denunciar essa situação para conscientizar e obter o apoio da sociedade”, alerta.

Stedile aponta que a situação dos Sem Terra, que vem sendo cada vez mais ignorados pelo governo, é insustentável. “Temos 87 mil famílias acampadas, que a presidenta Dilma e o governo dizem ‘esperem’. Estar no acampamento hoje já é um ato de resistência”.

Participaram também do ato advogados, defensores públicos e juízes.

Apoio

Militantes e figuras públicas demonstraram seu apoio ao MST e à Reforma Agrária. Confira algumas declarações:

“O MST tem um papel fundamental para construiur um projeto nacional brasileiro. O movimento é responsável pela luta que garante o direito a terra, pela erradicação da miséria no meio rural e pela organização dos trabalhadores no campo. Não é possível falar da história do Brasil sem mencionar o MST como um ator importante.”

Paulo Teixeira, deputado federal (PT)

“A importância desse encontro é importante para nós do sistema de justiça, pois a maioria dos integrantes da justiça faz parte de um círculo que representa as classes dominantes. É extremamente importante que estejamos preparados para romper com esta situação, e que permitamos espaço para que as classes da produção possam ocupar o Judiciário, para que seja feita a distribuição da Justiça, garantindo os Direitos Humanos.

Estamos aqui para aprender, para ouvir. Sair da nossa caverna de Platão e aprender com a sociedade. Recentemente fizémos uma luta muito grande pela questão das terras indígenas, e a Reforma Agrária é um tema que está ligado a isso, é um débito que o Estado brasileiro tem a cumprir. É um direito constitucional que deve ser garantido, e estamos empenhados nessa luta”.

José Henrique Rodrigues Torres, presidente do conselho executivo da associação Juízes Pela Democracia

 

“Faço parte da Associação dos Amigos da Escola Florestan Fernandes e apoio do Movimento dos Sem Terras pelo seu papel histórico exemplificado na vida de homens e mulheres, velhos, crianças e jovens que lutam pelo seu pedaço de chão. A reforma agrária, neste país tão grande, é ainda sonho não realizado, obra inacabada. Por tudo isso,  o MST é merecedor de admiração e apoio!”

Dora Martins, juíza de Direito da Vara Central da Infância e da Juventude do TJSP

“O MST é a grande referência nacional e de resistência para o cumprimento da Reforma Agrária. E ele localiza muito bem o embate com o agronegócio, a lógica exportadora brasileira, que reprimarizao país e ao lado da hegemonia do capital financeiro, formam hoje uma espécie de bloco do poder. Esse debate conjuntural que prepara o movimento social para fazer enfrentamentos é muito importante. É necesário resgatar uma plataforma política para todos os movimentso sociais, seja nos Direitos Humanos, na Reforma agrária ou na democratização dos meios de comunicação e na mudança estrutural da política econômica, cujo grande beneficiário é o capital financeiro e o agronegócio”. 

Ivan Valente, deputado federal e presidente nacional do PSOL

(Fotos de Ronaldo Godega e Pedro Lucas)