“Desnacionalização da terra afeta soberania alimentar”, diz líder da CUT

 

 

 

Por Leonardo Wexell Severo
Da Página da CUT

 

 

 

 

Por Leonardo Wexell Severo
Da Página da CUT

 

“A desnacionalização da terra afeta a soberania alimentar, o meio ambiente e a sustentabilidade, e representa mais renda para os estrangeiros, principalmente num momento de crise, em que ampliam a transferência de recursos para fora do país”, afirmou o secretário nacional de Administração e Finanças da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Quintino Severo, durante a sua participação nesta quarta-feira (20) no IV Congresso da Agricultura Familiar da Região Sul, em São Lourenço do Oeste, no interior catarinense.

Na avaliação do dirigente cutista, com a crescente estrangeirização do campo e a redução dos alimentos a simples commodities, “o Brasil corre o risco de ver as exportações das multinacionais crescerem, com o povo passando fome”.

“A lógica de que o agronegócio é a saída para ampliar a exportação e alavancar a balança comercial, adotada como política pelo governo acaba fomentando um modelo individualista e concentrador de terra e de renda que vai contra o interesse coletivo”, ressaltou Quintino, defendendo que é preciso fortalecer e ampliar as políticas públicas para a agricultura familiar, a principal responsável pelo abastecimento do mercado interno. “Como sempre, a CUT está ao lado de vocês na disputa por outras políticas públicas, que devem ir muito além do crédito e da assistência técnica”, disse.

Para o líder cutista, é preciso debater o próprio conceito de agricultura familiar, com o desafio de que ela seja o todo, uma cadeia: produção, industrialização e comercialização, “a fim de que o agricultor não tenha que entregar seu produto, sem valor agregado, ao mercado capitalista”.

A realização do Encontro do Macrossetor Rural da CUT no mês de maio, ressaltou Quintino, será um momento chave para aprofundar o debate sobre a organização sindical dos cutistas no campo e definir os rumos da nova organização, pois “a estrutura confederativa oficial está falida”. Saudando a determinação e a ousadia da Fetraf-Sul, o dirigente manifestou “grande afinidade” com os objetivos e compromissos da entidade.

Presidente da Fetraf-Brasil e membro da executiva nacional da CUT, Elisângela Araújo reforçou o alerta de Quintino sobre o avanço da “estrangeirização da terra” e cobrou do governo federal ações que, em vez de atenderem à senadora Kátia Abreu e à Confederação Nacional da Agricultura (CNA), “sinalizem um efetivo compromisso com a agricultura familiar, para que as famílias que continuam resistindo na sua terra não virem presa fácil do grande capital”.  

“Nosso sindicalismo cidadão procura incidir sobre o projeto de sociedade, sobre o futuro que queremos. Não queremos o monocultivo, um campo de agrotóxicos e transgênicos que multiplicam o câncer, comprometendo a biodiversidade e a qualidade de vida”, assinalou.

Parlamentares comprometidos – Ex-coordenadores da Fetraf-Sul e atualmente deputados estaduais, Dirceu Dresch (PT-SC) e Altemir Tortelli (PT-RS) reiteraram a premência do debate sobre a estrutura sindical, uma vez que, na sua opinião, a Central tem adiado uma posição sobre a atuação cutista no campo. 

Para os parlamentares, há necessidade de construir novas formas de organização, “mais coletivas, amplas e organizadas”, em contraposição à burocrática estrutura confederativa oficial.

“Temos defendido e praticado um sindicalismo solidário, com associativismo e cooperativismo, com organização de acesso ao crédito e à habitação, que vem lutando contra os impactos de um modelo que impõe a lógica da meia dúzia de grupos que dominam o mercado de alimentos no mundo”, declarou Dirceu Dresch. 

O parlamentar catarinense defendeu a necessidade de um “projeto nacional de desenvolvimento” que se contraponha aos interesses das grandes corporações multinacionais, “dos seus agrotóxicos e sementes transgênicas, que tiram qualquer possibilidade de autonomia com tecnologias adaptadas à sua estratégia de domínio”. 

Para a efetivação deste projeto de libertação, enfatizou, é essencial o aprimoramento do ensino, da ciência e da tecnologia nacional. A existência de universidades financiadas pela Monsanto, como temos hoje, apenas reproduz um “modelão” que busca perpetuar a irracionalidade de um sistema que nada mais tem a oferecer à humanidade.

Fazendo uma reflexão a partir do agravamento da crise em que se veem mergulhados os países capitalistas centrais, o deputado Altemir Tortelli defendeu que é o momento de radicalizar na defesa de políticas públicas que priorizem o mercado interno com ênfase na agricultura familiar.

“A crise econômica se aprofunda, fere o coração do sistema capitalista, afeta seus pilares. A Europa se desmancha em desemprego e a pobreza se espalha pelos Estados Unidos. Há uma crise de alimentos que afeta a um quarto da população do planeta, a crise de abastecimento de água atinge a dois bilhões de seres humanos, ao que se somam a crise ambiental e energética”, assinalou.

De acordo com o deputado gaúcho, se o governo federal pode abrir os cofres do BNDES para financiar a criação de multinacionais brasileiras – sem falar nas estrangeiras – reúne todas as condições para “efetivar empresas públicas estatais e cooperativas”. 

O que é inadmissível, denunciou, ”é termos uma empresa como a Embrapa servindo de instrumento de poder e controle do agronegócio sobre o campo brasileiro ou vermos políticas públicas como o Pronaf mais alimentos se converterem em Pronaf indústria de trator para beneficiar empresas multinacionais”. 

“Quantos bilhões movimenta o Bolsa Família? Não seria importante que parte do dinheiro utilizado para comprar comida das diferentes marcas do agronegócio e das multinacionais fosse usado para comprar diretamente da agricultura familiar? Este é o embate que está colocado”, assinalou Tortelli, defendendo, “uma ação institucional combinada com a luta social para tensionar o centro do governo”.

Democratização da comunicação – Assinalando a relevância da contribuição dada por Quintino Severo, Dirceu Dresch e Altemir Tortelli, o coordenador da Fetraf-Sul, Celso Ludwig, frisou que, em sintonia com essas lideranças, a entidade existe “para fazer luta política de classe”, aumentando o nível de organização e consciência dos agricultores e agricultoras familiares. 

Celso citou reportagens que foram ao ar recentemente no Fantástico, da Rede Globo – redistribuídas no dia seguinte em forma de inserções publicitárias pelo agronegócio – para defender a inadiável democratização dos meios de comunicação, cada vez mais caixa de ressonância dos interesses do grande capital.

É com base na manipulação da opinião pública, esclareceu o coordenador da Fetraf-Sul, que muitos dirigentes e a própria luta social estão sendo criminalizados, enquanto grande parte da população continua sendo desinformada a respeito do veneno colocado sobre a sua mesa pelo agronegócio e pelas multinacionais.