Sem Terra ocupam fazenda em Minas Gerais que utilizava trabalho escravo

 

Da Página do MST

 

Da Página do MST

         
O MST ocupou na manhã desta quarta-feira (4) uma das sete fazendas de Paulo Alves Lima, acusado de manter trabalhadores em condições análogas à escravidão, no sul de Minas Gerais.
 
Com cerca de 100 famílias, a ocupação acontece uma semana após a condenação de três pistoleiros acusados da Chacina de Unaí, e nas vésperas do julgamento dos mandantes daquele episódio: o ex-prefeito de Unaí, Antério Mânica, e seu irmão Norberto Mânica.
 
Assim como no caso de Unaí, o fazendeiro de Campanha tem vasto histórico de notificações do Ministério do Trabalho (MTE), o que não lhe impediu de manter pelo menos quatro trabalhadores em regime de escravidão, libertados pela Polícia Militar no mês passado.
 
Um dos trabalhadores libertados, Helio Costa Araujo, resolveu procurar a Delegacia Regional do Trabalho, mas foi sequestrado pelo fazendeiro do hotel onde estava hospedado, e presume-se que tenha sido assassinado. A polícia federal requereu a prisão preventiva de Paulo Alves Lima, que atualmente se encontra na carceragem de Varginha.
 
O caso de trabalho escravo no Sul de Minas é conhecido na região, e há mais de três anos vem sendo denunciado por trabalhadores da Articulação dos Empregados Rurais (ADERE) ao MTE.
 
“Cansamos de pedir providências em Minas Gerais. Temos cerca de 800 mil trabalhadores rurais em situação irregular, já nos reunimos diversas vezes com o MTE, mas infelizmente tem de haver este tipo de fato para as pessoas prestarem atenção”, disse Jorge Ferreira dos Santos Filho, da Direção Estadual da CUT/MG, e da ADERE-MG.
 
“Diante da demora nas providências, resolvemos nos juntar com o MST da região e ajudar a pressionar por justiça, aproveitando também para lembrar que a PEC do Trabalho Escravo se arrasta pelo Congresso há quase 15 anos”, conclui Jorge.
 
Para Silvio Netto, da coordenação do MST, a ocupação tem um sentido simbólico de luta contra a impunidade. “Em Minas temos um passivo social muito grande no campo, com duas chacinas realizadas em 2004 que somente agora estão sendo julgadas: Felisburgo e a de Unaí. Não vamos deixar ter mais impunidade em Minas Gerais.” E completa: “onde houver uma violação, o MST estará combatendo junto aos trabalhadores.”
 
A chamada PEC do Trabalho Escravo (PEC 57A/1999), que permite a expropriação de terras em que se constate a existência de trabalhadores em regime de escravidão, foi recentemente aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, mas continua sem data de votação no Plenário.