Para agrônomo, agroecologia é ciência, consciência e persistência



Por Gervasio Paulus*
Do Zero Hora


“Não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou.”

Victor Hugo


Diz um ditado popular que a sabedoria começa com o nome correto das coisas. Usar de forma equivocada um conceito é torná-lo fonte de confusão e induzir a erros. Com a palavra agroecologia, corre-se o mesmo risco.


Por Gervasio Paulus*
Do Zero Hora

“Não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou.”

Victor Hugo

Diz um ditado popular que a sabedoria começa com o nome correto das coisas. Usar de forma equivocada um conceito é torná-lo fonte de confusão e induzir a erros. Com a palavra agroecologia, corre-se o mesmo risco.

Um equívoco muito frequente é confundir agroecologia com um estilo ou corrente em particular de agricultura, qualquer que seja a sua denominação, quando estamos, a rigor, falando de um campo de conhecimento científico que aporta um conjunto de estudos, princípios e ferramentas para alcançar patamares crescentes de sustentabilidade no manejo dos agroecossistemas.

Um outro equívoco, este mais grave, é confundir, por ignorância ou má-fé, agroecologia com “atraso” e com “uma agricultura sem tecnologia”.

Diferentemente do pressuposto nessa visão reducionista, a agroecologia não prescinde dos avanços científicos e tecnológicos, ao contrário, vale-se deles à medida que contribuem para a efetiva construção de contextos mais sustentáveis. A propósito, não faltam evidências teóricas e empíricas sobre a relevância e atualidade da agroecologia, reconhecida inclusive pela FAO. Nos restringimos aqui a citar o Marco Referencial de Agroecologia, elaborado pela Embrapa.

Do ponto de vista prático, poderíamos citar centenas de experiências consistentes e bem-sucedidas que incorporam, em maior ou menor grau, o enfoque agroecológico. Por limitação de espaço, citaremos apenas o exemplo da cooperativa Ecocitrus, de Montenegro e região, que acaba de ampliar a sua capacidade de processamento de suco orgânico e de óleos essenciais, destinados ao mercado interno e à exportação, numa demonstração inequívoca de que é possível aliar produção e geração de renda com um elevado grau de consciência ambiental e responsabilidade social.

O lançamento recente do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), pela presidenta Dilma Rousseff, envolvendo oito ministérios e dezenas de instituições de pesquisa, extensão rural e organizações de agricultores de todo o Brasil, coloca o tema num patamar de visibilidade e importância semelhante ao de outras políticas voltadas para a agricultura.

Para quem queira conhecer um pouco mais sobre o tema, convidamos para participar do 8º Congresso Brasileiro de Agroecologia, de 25 a 28 de novembro, em Porto Alegre, com mais de mil trabalhos técnico-científicos inscritos e a participação de quase 80 painelistas do Brasil e outros países, como Espanha, Itália, França, Estados Unidos e México.

Estamos falando aqui de ciência, mas também de consciência e de persistência. Longe de ser uma ameaça à riqueza gaúcha, a agroecologia representa uma contribuição valiosa para promover um desenvolvimento rural socialmente inclusivo e estilos de agricultura mais parcimoniosos no uso dos recursos naturais, traduzindo princípios gerais em formatos tecnológicos específicos, adaptados à diversidade e às distintas realidades regionais. Princípio, como bem definiu um agricultor, é onde tudo começa.


*Gervasio Paulus é engenheiro agrônomo e diretor técnico da Emater-RS.