Marcha encerra 11º Encontro Estadual dos Sem Terrinha no Paraná

Por Riquieli Capitani
Da Página do MST


Durante três dias de uma programação recheada de atividades, as 900 crianças, que participavam do 11º Encontro Estadual dos Sem Terrinha, se despediram de Curitiba, Paraná, nesta sexta-feira (17/10), com a “Marcha dos Sem Terrinha por Escola do Campo”.

Por Riquieli Capitani
Da Página do MST

Durante três dias de uma programação recheada de atividades, as 900 crianças, que participavam do 11º Encontro Estadual dos Sem Terrinha, se despediram de Curitiba, Paraná, nesta sexta-feira (17/10), com a “Marcha dos Sem Terrinha por Escola do Campo”.

A mobilização saiu da Praça Tiradentes, às 9h, seguiu até o Palácio Iguaçu, no Centro Cívico, onde as crianças fizeram a leitura do “Manifesto dos Sem Terrinha produzido por eles durante o encontro. O mesmo foi entregue ao Secretário para Assuntos Fundiários do Paraná, Hamilton Serighelli. Logo depois, as crianças almoçaram e se deslocaram para o Zoológico Municipal de Curitiba, onde fizeram a visitação do local e o encerramento do Encontro, com distribuição de brinquedos e doces doados por entidades de Curitiba.

 

Estudante da 3º série do ensino fundamental, Glecielly de O. Fernandes, 9 anos, moradora do Assentamento 8 de Abril, região Centro Oeste do Estado, comentou que a marcha é um espaço pra dizer das dificuldades que enfrentam diariamente na educação. 

 
“Eu vim falar o que precisa no Assentamento, que a gente passa dificuldades na hora de estudar. Precisamos de estradas novas, lá é só chover que ficamos dias sem aula, também precisamos de ônibus, nós moramos muito longe da escola, pra ir a pé é difícil.”
 
Moradora de Rio Branco do Ivaí, Hemely Augusta, de 10 anos, pede melhorias na saúde e na educação. “Gostamos da nossa terra e queremos mais melhorias. Para isso que estamos aqui”, disse ela.
 

Durante os dias que estiveram em Curitiba, as crianças participaram de estudo e debate do Estatuto da Criança e do Adolescente e da revista Sem Terrinha, apresentações culturais, como: música, contação de história, espetáculo circense, de 20 oficinas de arte e educação, ministradas por educadores populares de Curitiba.
 
“Os três dias foram intensos, de muitas expectativas. As crianças brincaram, estudaram, fizeram passeios, participaram de oficinas de arte educação, puderam ver apresentações culturais, e também trouxeram sua pauta de reivindicações, mostrando a ausência das políticas públicas por parte do governo”, comentou Alessandro Mariano, do Setor de Educação MST/ Paraná.
 
O Encontro teve por objetivo dar visibilidade à realidade vivenciada pelas crianças acampadas e assentadas. Para a educanda Aline Hartmann, Sem Terrinha assentada na região oeste do estado, o encontro foi um momento de diversão e estudo entre as escolas. “A gente pode conhecer experiências de outras escolas e aprender bastante”, contou ela, folhando a Revista Sem Terrinha.


MANIFESTO DOS SEM TERRINHA
 
Somos Sem Terrinhas do MST. Representamos todas as crianças e as famílias Sem Terra de Acampamentos e Assentamentos do Paraná. Estamos em Curitiba, entre os dias 15 e 17 de outubro, reunidos em 900 crianças no nosso 11º Encontro Estadual dos Sem Terrinha para discutir os problemas que estamos tendo em nossas localidades, conhecer a capital, brincar, estudar e lutar.
Nosso grande sonho de Sem Terrinha é ver a terra repartida e que todas as crianças e suas famílias tenham um lugar para morar, trabalhar e viver. Por isso exigimos a desapropriação das terras ocupadas e a realização da reforma agrária com o assentamento de todas as famílias Sem Terra. Queremos que não tenha mais violência contra os Sem Terra e que o Estado cumpra sua obrigação de garantir a segurança do povo, pois os fazendeiros e as empresas querem fazer o despejo.
Nenhuma escola do campo pode ser fechada. Não pode acontecer de fechar escola, porque depois de tanto esforço para construir escola é uma coisa muito errada deixar fechar. A lei diz que é obrigado colocar escola no campo, este é direito nosso. Estamos aqui para lutar para que o Estado coloque essa lei em prática. As escolas do campo são importantes e muito boas, porque faz com que os Sem Terrinhas que estudam nelas sejam trabalhadores educados e que saibam mais sobre sua realidade.
Já solicitamos junto a Secretaria de Educação a construção de 18 escolas nos Assentamentos. Pelas informações que temos, essas solicitações não foram encaminhadas. Em nossa realidade, faltam salas de aulas em muitas escolas e em outros lugares nem temos escola. Assim, exigimos o atendimento de todos os pedidos e solicitações para reforma e construção de escolas tanto municipais como estaduais. Queremos uma escola bonita com equipamentos, com professores que pensem em nosso futuro, a partir de nossa realidade.
Com a nossa luta, nos últimos tempos conquistamos novos Assentamentos, mas em muitos desses novos Assentamentos faltam transporte escolar. Tem criança que vai para a escola a pé, de cavalo ou de bicicleta. Corremos vários perigos na ida para a escola, pois o trajeto é muito longe. Tem lugares que as crianças neste ano não conseguiram chegar a escola por falta de transporte. Precisamos de estradas boas para a segurança dos passageiros. Em alguns lugares não tem ponte e temos que passar dentro do rio.


Tem lugares em que os ônibus andam quase com cem pessoas. Os ônibus na maioria das vezes andam superlotados, são estragados, com os pneus velhos. Tem crianças que perdem duas aulas por dia, pois o transporte não dá conta. E ainda mais, tem ônibus que tem que fazer duas linhas, com isso no inicio das aulas chegamos atrasados e no retorno chegamos muito tarde a nossas casas. Por causa da chuva tem lugar que fica duas semanas seguidas ou mais sem ir para a escola, pois as estradas estão bem ruins. Em outros lugares se der qualquer chuvinha o ônibus já não anda. Por isso, exigimos que o problema do transporte e das estradas seja resolvido com urgência.

Nas Escolas do Campo têm que ter laboratórios com condições de uso: laboratórios de informática, de ciências, de solos… Por exemplo, em algumas escolas há computadores que não funcionam, em outras escolas não existem computadores para uso dos alunos e nem internet.
Nos Acampamentos temos as Escolas Itinerantes. Sem convênio a Escola Itinerante não pode funcionar, pois é o convênio que permite a contratação de professores. É preciso aumentar o valor repassado para garantir a abertura de mais Escolas Itinerantes, principalmente no Acampamento Zilda Arns em Florestópolis e no Acampamento Herdeiro da Terra do 1º de Maio em Rio Bonito do Iguaçu. O Estado tem que garantir os materiais para construção das novas Escolas Itinerantes e reformas das que já existem. Em nossas escolas faltam materiais e livros, tanto de literatura como das matérias específicas. 
Queremos professores que se identifiquem com nossa realidade de famílias que vivem na roça, produzem alimentos e fazem a luta. Por isso os professores tem que ter uma formação para trabalhar em nossas escolas, para que tenham a condição de relacionar a nossa vida com os conteúdos escolares. 
Somos Sem Terrinha do MST pelo direito de viver e estudar no campo e nos colocamos em marcha, reafirmando nossa luta, fazendo a denuncia e reivindicando nossos direitos.
 
Sem Terrinhas pelo direito de viver e estudar no campo.
 
Curitiba, 17 de outubro de 2014.
 
Viva os 30 anos do MST!
Lutar, construir Reforma Agrária Popular!