Sem Terra: 30 anos de história, 30 anos de rostos



Por Maura Silva
Da Página do MST


O fotógrafo italiano Giulio Di Meo, usa as imagens como meio de expressão social e política. 


Por Maura Silva
Da Página do MST

O fotógrafo italiano Giulio Di Meo, usa as imagens como meio de expressão social e política. 

Em seu mais recente trabalho, com o livro Sem Terra: 30 anos de história, 30 anos de rostos, Giulio homenageia o MST com imagens do 6° Congresso Nacional do Movimento, realizado no mês de fevereiro deste ano na cidade de Brasília.

Com o projeto, Giulio também pretende arrecadar fundos para contribuir com a Escola Nacional Florestan Fernades (ENFF). Localizada em Guararema (a 70 km de São Paulo), a escola tem o objetivo de ser um espaço de formação política nas mais diversas áreas do conhecimento. Sua missão é a de atender às necessidades da formação de militantes de movimentos sociais e organizações que lutam por um mundo mais justo

Em entrevista à Página do MST, Giulio fala sobre sua experiência com o Movimento e o papel da fotografia na integração social. 


Você está lançando um livro em homenagem aos 30 anos do MST, com fotografias do 6° Congresso do Movimento. Qual o propósito desse trabalho?

O propósito desse trabalho é contar o MST através dos rostos das pessoas que o compõem: a alegria, a esperança, a raiva, a extraordinária riqueza e diversidade do povo brasileiro e do Movimento. 

Além de difundir a consciência do MST e celebrar seu 30º aniversário, decidimos publicar esse livro para arrecadar fundos a fim de apoiar as atividades da Escola Nacional Florestan Fernandes.

É possível participar e apoiar este projeto através do site Produzioni dal Basso. Escolhemos o crowdfunding para realizar este projeto de forma independente e participativa, sem ter que criar compromissos e para nos livrar de um sistema que reduz tudo a mercadoria e lucro.

Como surgiu o seu interesse pelo MST?

Há dez anos colaboro com o MST. Na verdade não só colaboro, mas sinto-me parte desta grande família. Conheci o Movimento em 2003, através do Arci, uma associação italiana que apoia o MST. 

Desde então, estou trabalhando em cima de um projeto fotográfico para contar a história do Movimento e a vida dos camponeses.

Ao longo dos anos temos promovido diversas campanhas para difundir o conhecimento do MST na Itália, e desde 2007 organizamos cursos de fotografia no Brasil. Assim, os italianos podem conhecer diretamente o que é o Movimento e o que ele faz. 

Em 2013 publiquei o livro Pig Iron a fim de documentar a vida dos camponeses do Nordeste e denunciar os danos sociais e ambientais cometidos pela Vale nos estados do Maranhão e Pará.

De que maneira a imagem pode ser usada em favor da luta dos povos?

A fotografia pode contribuir, sensibilizar e informar as pessoas sobre as histórias, os conflitos sociais, as reivindicações dos povos. 

A fotografia pode aproximar as pessoas à essas lutas, denunciando situações de injustiça. Pode ser um instrumento de denúncia. Mas estou convencido também de que isso não é mais suficiente hoje em dia. A enorme quantidade de imagens que circula e invade nossas vidas diárias levou a um achatamento das consciências. 

Acredito que se tornou necessário, para os fotógrafos e a fotografia, agir concretamente. A fotografia não pode limitar-se a ser apenas um meio de informação, mas precisa ser e tornar-se também um meio para realizar ações concretas. Por esta razão, sempre tento apoiar as realidades por meio da fotografia.

Você acredita na fotografia como meio de integração e expressão?

Sim, com toda a certeza. Para mim, a fotografia é um meio, um “pretexto” para conhecer as pessoas e suas histórias. 

Além disso, acredito que através da fotografia seja possível expressar e promover as próprias ideias e as próprias lutas. 

Acredito também que a fotografia, com sua linguagem simples, direta e universal, seja um instrumento válido de integração e socialização. 

Por esta razão, na Itália tento utilizar a fotografia com crianças, adolescentes, imigrantes e pessoas com deficiência, mesmo como meio de expressão e integração.

As exposições desse trabalho já estão sendo realizadas?

Sim, até agora temos já organizadas duas exposições desse trabalho, uma em Milano e outra em Bologna. A primeira na fábrica recuperada Rimaflow está acontecendo agora e vai até 31 de outubro, a segunda no Centro Social TPO também até 31 de outubro. 

Com a chegada de João Pedro Stedile (da coordenação nacional do MST) na Itália no final deste mês, aproveitamos a oportunidade para organizar duas apresentações do livro e estamos planejando outra exposição em Roma. A partir de dezembro vamos organizar diferentes apresentações do livro em várias cidades italianas.

Com esse trabalho você tem arrecadado fundos para a ENFF. Fale um pouco sobre este projeto e sua importância. 

Paulo Freire argumentava que a educação e a formação são os únicos meios através do qual os últimos podem se emancipar. Concordo plenamente com isso e acho que todas as energias e todos os esforços devem ser direcionados para a educação e a formação das gerações futuras. 

Por esta razão, todos os fundos arrecadados com a publicação deste livro irão apoiar as atividades da Escola Nacional, idealizada com o objetivo de formar politicamente a classe trabalhadora.

A partir de sua experiência profissional e pessoal, o que foi possível observar sobre as experiências que você conheceu do MST, como o 6°Congresso, por exemplo? 

O Movimento me deu a oportunidade de conhecer centenas de pessoas que lutam juntas com simplicidade e dignidade, muitas vezes em condições difíceis, afim de construir um mundo melhor, mais justo e igualitário. 

Para mim o 6° Congresso foi emocionante. Deu-me a oportunidade de reencontrar as muitas pessoas que conheci ao longo dos anos nos acampamentos e assentamentos do MST e tornar-me consciente, mais uma vez, da força que se libera quando as pessoas se juntam na luta.