Assentados do RS planejam cultivo do arroz agroecológico

Trabalhadores Sem Terra se reuniram para discutir o desenvolvimento das próximas safras.

 

Seminário foi realizado na Cootap, e reuniu cerca de 100 assentados da Reforma Agrária, produtores de arroz agroecológico (1).jpg

 

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

Cerca de 100 assentados da Reforma Agrária se reuniram, nesta terça-feira (11), no assentamento Integração Gaúcha, em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre para o 14º Seminário Estadual do Arroz Agroecológico.

O objetivo do evento, promovido pelo Grupo Gestor do Arroz Agroecológico do RS, foi avaliar a última safra e planejar o desenvolvimento desse tipo de cultura para o próximo período.

De acordo com o coordenador do Grupo Gestor, Emerson Giacomelli, para a safra 2015/2016 a expectativa é colher 20% a mais do grão limpo e seco que a safra anterior, quando famílias assentadas do MST produziram aproximadamente 450 mil sacas do produto.

“Temos o desafio de aumentar a produção, a produtividade e a qualidade do arroz, além de manter nesse cultivo o respeito à saúde e ao meio ambiente, mostrando à sociedade que é possível produzir sem o uso de agrotóxicos”, afirmou Giacomelli.

Pensando em cuidar da saúde e do meio ambiente, o camponês Nilvo Bosa, do Assentamento Capela, de Nova Santa Rita (RS), deixou de produzir arroz de maneira convencional após cinco safras, e passou a se dedicar à produção do grão de forma agroecológica.

A transição da forma de cultivo já completa 17 anos e representa uma ótima iniciativa para quem produz e consome o alimento, principalmente para a família de seu Nilvo, que faz questão de continuar longe dos agrotóxicos.

“O veneno é um produtor de doenças e diminui a qualidade de vida de quem produz e consome. Lembro que muitas pessoas sofreram com a intoxicação e algumas delas até pensaram em desistir do cultivo do arroz. Mas não ficamos cinco acampados anos para, depois de conquistada a terra, terminarmos daquele jeito. Por isso optamos pela forma agroecológica, que respeita e protege a vida, o ser humano e o meio ambiente”, explicou o assentado.

O plantio do grão deve ser iniciado nos assentamentos do Estado na segunda quinzena de outubro, e a colheita a partir de fevereiro de 2016.
 

O Rio Grande do Sul tem uma das maiores experiências de produção de arroz agroecológico do Brasil (1).jpg

Comercialização

O arroz agroecológico produzido pelo MST é comercializado por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), e também é destinado à merenda escolar. Em outubro do ano passado, a Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap) e a prefeitura de São Paulo assinaram um acordo que garante a inserção do produto na alimentação dos alunos de escolas públicas do município paulista.

Na Capital do RS, entre outros locais, é possível encontrar o arroz livre de agrotóxicos no Mercado Público de Porto Alegre e na Feira Agroecológica da Redenção.

Apoios à produção

O professor de Mestrado Profissional em Agroecossistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Pinheiro Machado, também participou do seminário junto a representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Na ocasião, Machado defendeu a continuidade do processo de formação dos produtores para que o trabalho no campo gere cada vez mais bons resultados.

“O cultivo do arroz agroecológico feito pelo MST é extraordinário. Foram anos entre erros e acertos, mas o saber camponês superou as dificuldades e tornou viável a produção, que hoje serve de exemplo para todo o país. Agora, é preciso continuar investindo em formação para que os nossos companheiros tenham domínio total do processo produtivo. Dar à eles esse estímulo deve ser uma constante missão”, orientou o professor.

O chefe da Divisão de Desenvolvimento de Assentamentos do Incra, Stanislau Lopes, destacou que o desejo do instituto é que todos os assentados produzam de forma agroecológica, e que o órgão tem intensificado o apoio a esse tipo de cultivo através de programas como Quintais Sustentáveis e Fomento Mulher, além de convênios para estruturação de unidades de produção e compra de equipamentos.

“Existem bons projetos capitaneados pelo Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, e o Incra, como parceiro, está ajudando a viabilizá-los”, contou Lopes.

Além do Incra, os assentados produtores de arroz agroecológico também recebem há mais de dois anos apoio da Emater, por meio da Coopat, no processo de gestão. A administradora Maria Inês Fonseca acompanhou o seminário e o definiu como “extremamente importante” para nortear e dar visibilidade às futuras produções.