Em ato com Dilma movimentos cobram avanços para a classe trabalhadora

Uma das principais críticas dos movimentos ao governo petista é exatamente a onda de retrocesso em curso no Congresso Nacional e a pauta conservadora do próprio governo.

 

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Por Iris Pacheco
Da Página do MST

Na tarde desta quinta-feira (13), em Brasília, cerca de mil representantes de mais de 50 movimentos e organizações sociais do campo e da cidade, como MST, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), entre outros, participaram de um ato com a presidenta Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto.

Denominado de Diálogo com Movimentos Sociais Brasileiros, o evento foi palco de expressão das inúmeras pautas do povo brasileiro que cobrou da presidente avanços diante dos retrocessos que atingem diretamente os direitos dos trabalhadores.

Uma das principais críticas dos movimentos ao governo petista é exatamente a onda de retrocesso em curso no Congresso Nacional, que tem afetado os direitos da classe trabalhadora como um todo, que vai desde a reforma política ao Projeto de Lei 2016/15, denominada de Lei antiterror, aprovada ontem no Congresso Nacional, que criminaliza movimentos e organizações populares.

O governo federal não deixou ser alvo de sérias críticas por parte das organizações, que ressaltaram os problemas da política econômica por ele adotado para enfrentar a crise, a exemplo dos ajustes fiscais. 

Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, embora tenha afirmado a necessidade de defesa da democracia brasileira, criticou o governo por seu projeto em curso, que é contraditório à pauta que o elegeu nas últimas eleições e pediu à presidenta para vetar o PL 2016/15.

“Presidente Dilma Rousseff, defender esse mandato significa justamente uma outra política, aquela agenda para a qual o povo a elegeu e não projeto que está em vigor. No Brasil tem uma oposição que não aceita ser derrotada, mas a classe trabalhadora precisa de um gesto do governo que sinalize um embate contra esse retrocesso. Por isso Dilma, vete a lei antiterrorismo que vem para criminalizar a luta dos movimentos sociais no país”, disse Conceição.

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Mobilizações

O segundo semestre iniciou com grandes mobilizações da classe trabalhadora em todo o país, tanto do campo quanto da cidade. Logo na primeira semana de agosto, milhares de Sem Terra realizaram a Jornada de Lutas pela Reforma Agrária, quando ocuparam 13 sedes do Ministério da Fazenda e realizaram ações em 18 estados.

Nas cidades, os movimentos de moradias também já realizaram diversos protestos, e ao longo desta semana, mais de 50 mil mulheres do campo estiveram mobilizadas na capital federal. No próximo dia 20/09, mais uma mobilização unitária entre diversas organizações já está marcada.

A pauta central destas mobilizações? O ajuste fiscal do governo federal promovido pelo Ministério da Fazenda. 

Neste sentido que Guilherme Boulos, do MTST, criticou tal política e afirmou que o governo deve realizar ajustes em cima do capital financeiro, e não do povo brasileiro. 

“O ajuste deve ser com a taxação dos grandes bancos, no cinto daqueles que há 500 anos enchem o bolso e engordam nas costas da classe trabalhadora. A saída para a solução dos problemas não é com o Cunha e o Renan”, ressaltou.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, também comentou a necessidade do governo legislar com a proposta pela qual foi eleito, e apontou a agenda Brasil como um grande retrocesso nos direitos do povo brasileiro.

“A presidente deve governar com a proposta para a qual foi eleita. Deve realizar reformas populares para o povo e com o povo. A agenda para o Brasil não é a que foi apresentada pelo Renan. Essa pauta é dele e não interessa à classe trabalhadora”, enfatizou Freitas.

Já Eleonice Sacramento, da Articulação Nacional das Mulheres Pescadoras, ressaltou sua identidade enquanto mulher negra, nordestina e pescadora artesanal, e destacou o modelo de desenvolvimento em curso no país, que tem destruído a vida das populações tradicionais.

“O modelo de desenvolvimento que consideramos retrocesso é esse modelo que extermina os povos das comunidades tradicionais, violenta nossas mulheres e crianças e inviabiliza as relações em nossos territórios.”

Sacramento ainda criticou o governo dizendo que “não podemos continuar defendendo esse governo se continuar destruindo nossos territórios”.

Respostas sem resposta

Sem responder às provocações mais incisivas dos movimentos sociais, a presidente comentou que essa reunião com os movimentos populares representou a diversidade que existe no Brasil, e que o governo do Partido dos Trabalhadores modificou a relação que o Estado brasileiro tem com a parte mais pobre da sociedade.   

“Nós reconhecemos a necessidade de fazer a política para aqueles que mais precisavam. Sempre fomos uma sociedade que soube conviver e respeitar as diferenças. Quem sempre teve dificuldade de compreender as diferenças foram as elites do país”, declarou.

Sobre a Lei Antiterror, a presidenta não se comprometeu com o veto, porém lembrou do período em que foi militante no período da ditadura militar e sinalizou: “não peçam a mim para ser contrária a qualquer manifestação que eu não serei. Eu sou leal à minha geração e tenho que honrar todo aqueles que não sobreviveram”.

Para Alexandre Conceição, com esse leque aberto, o diálogo entre governo e movimentos sociais reforça ainda mais a necessidade da classe trabalhadora ir às ruas no próximo dia 20/08 , cuja pauta central serão os ataques aos direitos do povo e em defesa da democracia.