O menino de 107 anos do MST

Por 83 anos ele trabalhou em várias roças. Assim como o pai, nenhuma delas pertencia à família. Foi quando marchou de Campinas para São Paulo, em 1991, empunhando a bandeira à frente que encontrou a luta.
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Foto: Maria Aparecida

Por Geanini Hackbardt
Da Página do MST

Foto da capa: Leonardo Melgarejo

“Menino vem brincar no mar
Oh mar vem lavar pé de menino
Menino vem brincar no mar
Oh mar vem lavar pé de menino”

O Sr. Luis Beltrame, direciona seus passos curtos e cautelosos para o palco da I Feira Nacional da Reforma Agrária, respondendo ao chamado das cantadoras do MST. Já acomodado ao centro, arranjos de flores, em especial dos girassóis que representam a educação do campo, colorem ainda mais os olhos de quem vê a homenagem ao Sem Terra de mais idade do movimento.

A “Trupe dos Encantados” trouxe um fantoche com seus traços para representar o querer pela vida, aos 107 anos. Os músicos cantaram “Diga Seu Luis, eu estou treinando, tudo que venho aprendendo, amanhã vou ensinando”. Ele se emociona, recita versos e recebe o reconhecimento pelo entusiasmo na luta.

Sr. Luis explica que o segredo está na alegria, “é por isso que eles vão lá em casa me buscar e venho sempre animado”. E completa a receita da longevidade com um versinho… (Clique aqui para ver mais fotos da feira).

 

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Foto: Maria Aparecida

“Comer sem ter fome
Beber água sem ter sede
Dormir sem ter sono
E deitar numa rede.”

Por 83 anos ele trabalhou em várias roças. Assim como o pai, nenhuma delas pertencia à família. Foi quando marchou de Campinas para São Paulo, em 1991, empunhando a bandeira à frente que encontrou a luta. “Eu achei que dava certo, o que eu estava fazendo dava certo, que estava dando certo para melhorar a vida do pobre, aí comecei a trabalhar com eles”, relata. Desde então participou, ao todo, de dez marchas. O tempo desenhou em seu rosto cada passo que deu nesta trajetória. As linhas da experiência alertam a juventude que é preciso mudar. “Mudar para melhorar a vida, mas não viajar a toa e sim pelo trabalho”.

Baiano, diz que foi muito arteiro, morou em dezenas de cidades diferentes e namorou muito, mas em Cajuí encontrou a companheira Avelina. Viveu 35 anos com a prima que lhe deu 8 filhos. Hoje é difícil recordar o nome de toda a família, afinal são 47 netos, 77 bisnetos, 26 tataranetos e um pequeno que chega para inaugurar a quinta geração. Dos filhos, apenas 5 estão vivos, os outros estão na “Fazenda Saudade”.

Sr. Luis Beltrame esbanja a alegria de um menino, o sorriso marcado de um trabalhador e o amor à vida de um grande Sem Terra.