O caminhão, a barragem e a Terra Viva

Caminhoneiro e militante conta sua história e de uma das maiores cooperativas do MST.
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Audir Schmidt  em sua barraca na 1° Feira Nacional da Reforma Agrária

Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST

A empilhadeira se aproxima e, com suas garras, pega diversas caixas de leite embaladas. O trajeto da até o caminhão refrigerado é rápido, mas a viagem tem que ser feitas várias vezes até carregar o veículo por completo.

Após cinco minutos, o caminhão de Audir Schmidt está cheio de leite, doces e leite condensado da marca Terra Viva. O caminhoneiro parte para outros estados, entregar os produtos da Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste (Cooperoeste). 

Na semana passada, o caminhão de Audir estacionou em São Paulo, na 1° Feira Nacional da Reforma Agrária.

 

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A cooperativa processa diversos produtos derivados do leite.

Audir é militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Gaúcho, sempre que pára para pensar em algo, exclama: “barbaridade!”.

Seu pai tinha uma propriedade no município de Aratiba (RS); a empresa Eletrosul criou uma barragem no rio Uruguai que expulsou diversas famílias rurais, incluindo a de Audir.

Após 10 anos de lutas, eles, junto com mais 50 famílias, foram reassentados em Campo Erê (SC). O assentamento ficava próximo à Cooperoeste, e os assentados foram convidados a produzir leite para a cooperativa.

“A gente não tinha comércio de leite. Fazíamos queijo, mas como a demanda pelo leite era maior, compramos máquinas e começamos a produzir”.

Mais de 10 assentamentos em diversos municípios da região produzem leite para a Cooperoeste. Audir conta que, inicialmente, a produção total era de 60 mil litros por dia. Atualmente, a cooperativa produz 600 mil litros diários.

Audir e a esposa Elenice ambos trabalham na Cooperoeste. Ele, caminhoneiro, ela, no almoxarifado. O ritmo da cooperativa nunca pára, nem as viagens que ele faz.
 

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“Temos três caminhões refrigerados, que transportam 16 toneladas. Eu faço de duas a três viagens por semana, no Rio Grande do Sul, no norte do Paraná. São 700 km a viagem de ida e volta.

A Cooperoeste foi criada em 1998, fruto de ocupações de 14 assentamentos, com 550 famílias. A  produção dos assentados era vendida para uma grande empresa, mas os produtores perceberam que o preço pago era muito baixo.

Eles resolveram se unir e ir atrás de crédito, o que deu origem a uma associação que pudesse absorver a produção dos assentamentos. Em abril de 1996 surgiu a primeira indústria de leite dos produtos Terra Viva.

Hoje, a Cooperoeste gera empregos e renda para mais de 6 mil famílias e tem 320 funcionários, e é uma das principais cooperativas construídas pelo movimento.

Audir não vive mais no assentamento. Ele, a esposa e sua filha de 13 anos se deslocaram para mais perto da cooperativa. Seu pai ainda é assentado, e produz para a subsistência. “Meu trabalho é cansativo, mas eu gosto muito”, afirma.