“Aprendemos a sonhar e a conquistar sonhos, e ainda sonhamos com o socialismo”, afirma Sem Terra sobre a 1° ocupação do MST

Na madrugada de 29/10 de 1985 7 mil famílias cortaram a cerca do latifúndio de 9.300 hectares, a 1° ocupação do MST.
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Isaias Vedovatto (à direita) foi um dos Sem Terra que há 30 anos cortou as cerca do latifúndio. 

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

Fotos: Leandro Molina

Os 30 anos da ocupação da Fazenda Annoni, que se completaram nesta quinta-feira, 29 de outubro, foram marcados por um ato político e confraternização no Assentamento Novo Sarandi, em Sarandi, na região Norte do Rio Grande do Sul.

O evento resgatou as histórias da luta e resistência de mais de 7 mil trabalhadores rurais Sem Terra iniciadas em 1985.

Na madrugada de 29 de outubro de 1985, o agricultor Isaias Vedovatto, acompanhado de centenas de famílias, cortou a cerca do latifúndio de 9.300 hectares. No ato de ontem, ele relatou a organização dos Sem Terra para realizar a ocupação da área há três décadas.

 

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“Foram dois anos de preparação para ocuparmos a Fazenda Annoni. Agora, 30 anos depois, não tem como não se emocionar quando lembramos das reuniões que fazíamos escondidos, daquela noite que embarcamos num caminhão e daquela madrugada que chegamos aqui com nossos colchões”, disse.

Vedovatto também resgatou outras ocupações feitas pelo MST no estado, como das fazendas Brilhante e Macali, e falou especialmente para os jovens que participaram do evento: “Nós fomos a geração que criou o MST e que recriou os movimentos social e sindical e os partidos de esquerda. Nós aprendemos a sonhar e a conquistar sonhos, e ainda sonhamos com a revolução socialista”, declarou o assentado.

Assista ao vídeo sobre os 30 anos da Fazenda Annoni 

O padre Arnildo Fritzen, grande apoiador da luta pela terra, declarou que os 30 anos da ocupação da Fazenda Annoni representam uma “história sagrada, que teve derramamento de sangue e muitas lágrimas”. 

Ele ainda incentivou os Sem Terra a continuarem a luta por Reforma Agrária, “animando o povo pobre para que todos possam se erguer na vida”. 

 

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Além disso, Arnildo anunciou a continuidade do apoio da Igreja Católica à luta dos camponeses: “Nós vamos abrir as portas ainda mais para vocês”, concluiu.

João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, também encorajou os acampados e assentados a continuarem a luta pela terra. “Onde houver latifúndio nós estaremos lá para ocupar e fazer a Reforma Agrária”, disse.

Stedile ainda pediu um minuto de silêncio em memória aos trabalhadores que tombaram e ajudaram na conquista da fazenda Annoni, a exemplo da Sem Terra Roseli Nunes, mãe do médico Marcos Tiarajú, primeira criança a nascer num acampamento do MST – em 1º de novembro de 1985.

“Perdemos muitos companheiros e não podemos nos esquecer deles, pois o derramamento de seus sangues nos ajuda a seguir a luta pela terra”, finalizou.
 

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Acampamento da juventude

Ainda em celebração aos 30 anos da ocupação da Fazenda Annoni, jovens do MST participam do Acampamento Estadual da Juventude Sem Terra, também no Assentamento Novo Sarandi.

Com o lema “Somos filhos e filhas de uma história de lutas”, o evento reúne cerca de 800 pessoas de todas as regiões do RS, além de representações dos estados de Santa Catarina e do Paraná.

Nos quatro dias de atividades os jovens terão acesso à oficinas, apresentações culturais, plenárias e debates.
 

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Foto do acampamento na Fazenda Annoni/ Arquivo: José Leal