Entre uma prosa e outra, Chico Batera participa de oficina de percussão na ENFF

Com uma humildade e simplicidade que não parece caber no meio artístico, Batera trouxe a noção básica de cada instrumento e uma forma própria, a partir da pulsação, de ensinar suas batidas e artimanhas.

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Por Luiz Felipe Albuquerque
Da Página do MST

Fotos: Luara Dal Chiavon

Surdo, tamborim, caixa, pandeiro, zabumba, triângulo e ganzá. Entre um instrumento e outro, partindo do baião e entrando no samba, foi que cerca de 15 Sem Terra de diversas partes do Brasil participaram da oficina de percussão com o músico Chico Batera, entre os dias 3 e 4 de dezembro, na  Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP).

Para os que não o conhecem, basta ouvir alguns discos ao vivo de cantores como Elis Regina ou Chico Buarque, que na hora da apresentação dos músicos ao longo do show, sempre ouvirão um nome em comum: “Na percussão, Chico Batera!”.

Com uma humildade e simplicidade que não parece caber no meio artístico, Batera trouxe a noção básica de cada instrumento e uma forma própria, a partir da pulsação, de ensinar suas batidas e artimanhas.

 

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Para ele, a batucada é “uma das manifestações mais naturais do ser humano”, basta ver “uma criança com seis meses, que ela já bate o pé. A intuição é batucar e cantar, são as coisas mais naturais. Quem gosta de música e diz que não gosta de cantar e batucar, eu fico desconfiado”.

Entre uma prosa e outra, Batera trouxe histórias de quem pôde ter o privilégio de conviver com as figuras mais autênticas da cultura popular brasileira, como Nelson Cavaquinho e João do Vale. 

Nos intervalos, contava sobre as viagens inusitadas que fez com estes artistas, como uma vez em que acompanhou Chico Buarque na Nicarágua em plena revolução sandinista, nos anos de 1980. “Eu tava com muito medo. Se você fosse contra revolucionário, onde você pensaria em fazer um atentado?”, diz de forma divertida.

Para Batera, o principal da arte é seu caráter coletivo, “por isso que a música tem um papel social importantíssimo. Primeiro porque é uma linguagem internacional. Pode botar aqui japonês, russo, que todos aqui sentam e vira todo mundo igual. É uma lição de coletividade”, afirma.

Guê Oliveira, do coletivo de Cultura do MST, destacou a importância desta oficina e o significado dela ter acontecido com alguém que pode ser considerado um arquivo vivo da cultura popular. Como disse Oliveira, Chico Batera não apenas traz o conhecimento, “mas é uma pessoa que traz a sabedoria histórica da música popular brasileira”.
 

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Frente de música

Desde o ano passado, o coletivo de cultura do MST vem retomando de modo mais contundente a frente de música do Movimento. Em 2013 foi lançado o CD Plantando Ciranda, uma coletânea de músicas produzidas e cantadas pelas crianças Sem Terrinha de todo o Brasil.

Em comemoração aos 30 anos do MST, completados em 2014, surgiu a ideia de lançar três CDs que representassem a história do Movimento. O primeiro deles, lançado em no ano passado, digitalizou a primeira coletânea de músicas do Movimento, o “Dor e Esperança”, gravado originalmente em 1985.

O segundo, lançado este ano e batizado de “Versando a Luta”, traz as músicas marcantes dos anos 90 cantadas pelos Sem Terra em todo o país. O terceiro, a ser lançado em 2016, tem a ideia de resgatar as músicas mais importantes para cada estado em que o Movimento está organizado.

 

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Neste sentido, Oliveira comenta que o setor de cultura está trabalhando com a intenção “de reforçar a importância que a música já cumpriu e que continua a cumprir no MST”.

Para ela, a música e a arte cumprem um papel estratégico nos processos de transformação social. “A música tem que cumprir seu papel fundamental de reforçar a luta, de colaborar na coesão, organização e formação das pessoas”, acredita.

Outro ponto central seria a retomada do “papel fundamental” do militante/artista e artista/militante. “A arte possibilita criar processos mais humanizadores. Ela nos torna mais humanos, nos ajuda a desenvolvermos nossa sensibilidade”.

A oficina com Chico Batera, segundo Oliveira, também demonstra o papel que os artistas podem cumprir nos processos de mudanças sociais. 

“Essa oficina pode nos colocar em contato com outros artistas que tem vontade de aproximar da nossa luta, mas que as vezes não tem a porta aberta por diversos motivos. A oficina nos permite criar essa liga entre esses artistas que compartilham de um projeto político de transformação com quem está nestes processos de luta”, coloca Oliveira.
 

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