Comitê Pró Democracia inicia jornada no Congresso Nacional

No dia do seu lançamento, Comitê Pró Democracia já apresenta atuação marcante contra a OAB dentro da Câmara Federal
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Foto: Mídia Ninja

Do Mídia Ninja

Foi o dia mais quente no Congresso Nacional desde o início do processo do impeachment. Uma das principais entradas do plenário da Câmara foi tomada por gritos e emocionadas manifestações em defesa da democracia nesta tarde de segunda-feira (28).

Estavam representados movimentos sociais, estudantis, sindicais, das mulheres, de entidades religiosas e muitas outras frentes da sociedade civil, além da presença de deputados e senadores.

Em círculo, em meio ao fervor de uma Casa tensa, inclusive enfrentando manifestações em contrário, o Comitê foi inaugurado para servir como um eixo de articulação dos movimentos em defesa da democracia. A mobilização crescente nas últimas semanas de norte a sul em conjunto com as iniciativas do Legislativo, que está às vésperas de votar o impeachment – ou do golpe, palavra repetida à exaustão em todos os discursos desta tarde – inspiraram a criação do novo comitê.

“Os movimentos que derrubaram a ditadura agora ressurgiram, na UNE, nas centrais sindicais, nas ligas camponesas, no MST, na Contag… A partir de agora, não ficaremos mais na resistência. Nós iremos para o ataque para defender a democracia, para defender o povo brasileiro e para defender essa Nação”, gritou, a plenos pulmões, Alexandre Conceição, da Coordenação Nacional do MST.

Deputados e senadores de diversos partidos também discursaram. Paulo Pimenta, Elvino Bohn Gass, Benedita da Silva, Wadih Damous, Jandira Feghali, Jean Willys e Edmílson Rodrigues foram algumas dos corpos mais ativos no evento.

“Estão tentando construir o discurso de que não é um golpe. Que o impeachment está garantido na Constituição Brasileira. Mas não no caso da Dilma. Não há justificativa para isso. Eles estão dando golpe nos estudantes e nas suas conquistas, nos trabalhadores e suas conquistas. Estão dando o golpe nas mulheres e suas conquistas. Estão dando golpe nos médicos, nos homossexuais, nos professores. Estão dando golpe na Nação Brasileira”, esforçou-se para gritar, quase sem voz, a deputada Benedita, do PT.

Emocionado, Edmilson Rodrigues, deputado pelo PSOL do Pará, homenageou seu conterrâneo Edson Luís, morto num 28 de março como hoje, só que no ano de 1968.

“Muitos sonhos de igualdade social do menino Edson Luiz e tantos que combatem a ditadura foram realizado, mas, infelizmente, nosso país ainda é um território grave de injustiças. Há perversidades estruturais que precisam ser combatidas. Os governos têm um papel importante nisso. O PSOL tem uma posição crítica em relação ao governo, mas o PSOL tem posição clara e não titubeia ao dizer que há um acordão para construir um novo governo. Eles preparam uma pedala social. Pedala social não é crime? Têm proposta de cortar pela metade o Bolsa-Família. E os canalhas estavam aplaudindo. Quando tiram alguns bilhões do capital financeiro, aí vira crime. Para nós, é o grande capital financeiro que tem que pagar pela crise. A tal da pedalada fiscal não pode ser classificada como crime”, afirmou o deputado.

A cada fim de fala, o mantra “Não Vai Ter Golpe” ecoava no Congresso. Empolgada pela força do ato, Bia Barbosa, uma das principais articuladoras do Comitê, listou entidades que estão na luta contra o golpe. “O principal objetivo é pressionar os parlamentares e mostrar que uma parcela significativa da sociedade é contrária ao impeachment. O Comitê, além de servidores, mandatos parlamentares e partidos políticos, é formado por um conjunto de organizações da sociedade civil: CNBB, Comitê Nacional das Igrejas Cristãs, MST, Fora do Eixo, Fórum Nacional pela Comunicação, Fórum 21, um conjunto de organizações que trabalham com a agenda da internet, a UNE, movimento negro, movimento feminista… Bem amplo e bem diverso para mostrar que essa diversidade de nossa sociedade é contrária ao golpe”.
 

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Foto: Mídia Ninja

Primeira ação direta

Tão logo o ato de lançamento do Comitê terminou, surgiu sua primeira missão. Naquele exato momento, na Salão Verde, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) protocolavam um novo pedido de impeachment. O Comitê chegou gritando e apresentando seus cartazes “a verdade é dura, a OAB apoiou a ditadura”. Foram quase duas horas de embate, como ânimos acirrados. Na maioria das vezes, olho no olho, com dedos em riste. Um dos mais prestigiados lugares da Câmara virou uma arena de discordância. Os gritos se sobrepunham.

Um lado gritava: “Pé na bunda dela, o Brasil não será a Venezuela”. O outro respondia: “Golpistas, golpistas, não passarão”. Os advogados mantinham um risinho no rosto,algo entre a soberba do broche, a alegria do momento e, talvez, o constrangimento por tamanha oposição.

O deputado Wadih Damous, ex-presidente da seccional da OAB no Rio de Janeiro, estava indignado com a ocasião.”O que eu vi aqui hoje não representa a minha entidade. Eu vi um bando de desclassificados. Em nome da OAB, fizeram uma manifestação partidária. O que vem acontecendo nos últimos dias, mancha a história da entidade. A partir de agora não tenho mais vínculos com a OAB, a partir do momento que a entidade resolveu entrar num golpe de estado”.

O Comitê terá uma semana de agenda cheia. Nesta terça-feira, haverá uma ação junto à Comissão Especial do Impeachment. Na quarta, tem o lançamento da Frente Parlamentar em Defesa da Democracia e também um ato inter-religioso. Na quinta-feira, o comitê se soma a Marcha Nacional Pela Democracia que vai ter em Brasília.