Sem Terra discutem a indústria cultural no RS

Com uma dinâmica de trabalho que envolveu atividades em grupos e reflexões, os jovens apresentaram o que entendem por cultura e como veem o funcionamento da sociedade brasileira, com seus valores em sua essência capitalista.

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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

 

Cerca de 50 jovens acampados e filhos de assentados da Reforma Agrária dos municípios de Tapes, Encruzilhada do Sul, Viamão, Charqueadas, São Jerônimo e Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, participaram neste sábado e domingo de uma oficina sobre indústria cultural, promovida pelo Coletivo de Cultura do MST. A atividade foi coordenada pelo professor de História e jornalista Miguel Stédile, no Centro de Formação Sepé Tiaraju, na região Metropolitana de Porto Alegre.

Com uma dinâmica de trabalho que envolveu atividades em grupos e reflexões, os jovens apresentaram o que entendem por cultura e como veem o funcionamento da sociedade brasileira, com seus valores em sua essência capitalista. Para auxiliar o debate, Stédile apresentou aos Sem Terra o curta-metragem Ilha das Flores, do cineasta gaúcho Jorge Furtado, e o longa-metragem Tapete Vermelho, do diretor paulista Luiz Alberto Pereira.

“Ambos mostram como funciona a sociedade que produz a nossa cultura, a qual está sempre se transformando, não tem como base a solidariedade e a igualdade, e não leva em consideração nossa real necessidade. É uma sociedade onde as mercadorias estão acima da vida das pessoas e que através da indústria cultural reproduz seus valores capitalistas nas novelas, nos filmes, nos jornais e nas músicas”, explicou o educador.

Stédile complementou que uma das heranças do golpe de 64 e da ditadura militar é o sistema de comunicação monopolizado – representado pela Rede Globo –, o qual aproveita sua abrangência para reafirmar o status quo da sociedade, atingindo diretamente os jovens do campo e da cidade e enfatizando valores de competitividade e de concorrência em detrimento de um projeto mais humano.

“As consequências disto estão nas mobilizações, onde vários jovens defendem a volta da ditadura e de um sistema autoritário, se propondo a abrir mão de direitos e liberdades civis em troca de uma suposta estabilidade política. Estudar a indústria cultural nos ajuda a entender que os meios de comunicação são parte de um sistema de reprodução de mercadorias e ideias, que influenciam na conjuntura política nacional e internacional”, disse.

 

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Após assistir ao filme Tapete Vermelho, os jovens relacionaram o conteúdo ao trabalhador camponês e à sua realidade de vida no campo, o qual na maioria das vezes é tratado com ridicularização e tido como &”39;atrasado&”39; nas produções da indústria cultural.

“Para mudar isto temos que pensar uma nova cultura, que seja diferente do capitalismo, com outros valores. Não precisamos esperar que a sociedade mude para transformar a cultura, podemos começar agora, fazer novos filmes e novas músicas”, apontou Stédile.

A acampada Analise Webery, 19 anos, contou que sempre teve interesse pelo tema e que inclusive mobilizou outros jovens do Acampamento Renascer, de Encruzilhada do Sul, para participar com ela da oficina. Para a Sem Terra, as atividades ajudaram a compreender as formas de atuação do capitalismo e como ele influencia o dia a dia das pessoas através da indústria cultural.

“O que aprendemos vai nos ajudar bastante, pois muitos ouvem falar sobre cultura, mas não sabem exatamente o que ela é e como ela se molda. Agora vamos levar esse debate para o acampamento e pensar maneiras de mudar essa realidade”, declarou.

A oficina fez parte do projeto De Olho na Terra, que acontece em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) nos três estados da região Sul do país. No RS já foram realizadas quatro etapas de um total de dez.

“O projeto traz conhecimentos em tecnologia, cultura e comunicação e é desenvolvido com a juventude do campo para que ela também possa ter acesso a esses tipos de informações”, acrescentou o coordenador do projeto na região Metropolitana, Gustavo Zimermann de Moraes.