MST ocupa órgãos, em Salvador, pela Reforma Agrária e em defesa da democracia

Militantes estão organizando diversas atividades para discutir a atual conjuntura e exigir a manutenção da legalidade no país.

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Do Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

 

Desde o último dia (19), o MST segue ocupando o prédio da Secretaria de Planejamento (Seplan) e da Fazenda, onde funcionam a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) em Salvador.

Na sexta-feira (22), quatro mil trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra realizaram uma assembleia de análise do atual cenário político e de unidade popular, para reafirmarem o compromisso de continuar mobilizados em defesa da democracia, da Reforma Agrária e contra o golpe. 

Reunindo representações de partidos da esquerda, movimentos e organizações populares, a assembleia trouxe, em sua mística e intervenções, a necessidade de avançar na luta contra a violência no campo e o golpe liderado pela direita no Congresso Nacional.

Cedro Silva, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-BA), apontou que o protagonismo do MST no processo de luta contra o golpe fortalece a organização das lutas e impulsiona, com coragem e rebeldia, a esquerda brasileira. “Assim como na luta contra o agronegócio, ocupando os latifúndios, o Movimento Sem Terra tem nos ensinado a permanecer em marcha contra a tentativa de golpe. Essa luta precisa ser respeitada”, afirmou.

O vereador de Salvador e representante do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza Pública do Estado da Bahia (Sindlimp/BA), Luiz Carlos Suíca (PT), reforçou a necessidade de evitar o golpe que, se for consolidado, causará forte impacto negativo aos direitos conquistados pelo povo. “Cabe à classe trabalhadora, que plantou esperança, continuar lutando por um futuro melhor”.

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Unidade popular contra o golpe

Na avaliação de Valmir Assunção, deputado federal, o fundamental, neste atual cenário político, é estar fiel ao processo de luta e para isso é preciso união em todos os momentos.  “Nós fomos às ruas para evitar um golpe contra a constituição e a democracia e permaneceremos mobilizados”, enfatizou.

Compreendendo as lutas contra o golpe e o processo de construção de maior unidade entre os trabalhadores do campo e da cidade, Evanildo Costa, da direção nacional do MST, disse que a classe trabalhadora está preparada para derrotar o golpe, além de criticar a morosidade do governo baiano em relação às pautas do campo. “A luta do povo não para e a realização da Reforma Agrária precisa ser vista como prioridade na construção de um projeto popular para o país. Sem respostas concretas, não sairemos daqui”.

A luta da mulher do campo

Além da assembleia, outro destaque da ocupação ficou por conta da trabalhadora Sem Terra, há 18 anos no Movimento, Creuza da Conceição (49), que relembrou junto aos companheiros os principais episódios de sua vida e a simbologia do MST para a construção de uma sociedade emancipada. 

Moradora do Assentamento Limoeiro, localizado no município de Igrapiúna, baixo sul baiano, Creuza relembrou como conheceu o Movimento e as dificuldades enfrentadas no início de sua militância.

 

“Conheci o movimento através da história de um vizinho que era perseguido por um fazendeiro, o que provocou uma grande revolta coletiva. Por isso, diversas pessoas se organizaram para ocupar as terras desse fazendeiro, que também estavam improdutivas”, explica. 

O grupo de trabalhadores era do Movimento Sem Terra e passou a sofrer várias ameaças por parte dos fazendeiros da região. Foi nessa época que Creuza entrou para a luta. Após anos acampadas, as famílias receberam imissão de posse, o que garantiu maior qualidade de vida a todos.

“Quando entrei no Movimento, meus filhos ainda eram pequenos e hoje já são maiores de idade. Mesmo assentada, continuo na luta, contando minha história dentro do MST e apontando mudanças onde são necessárias. Nós ainda temos dificuldades, mas é um prazer enorme estar dentro do Movimento, ajudando outros companheiros e companheiras a conquistarem também seu pedaço de chão”, afirma Creuza. 

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Luau pela democracia 

A Juventude Sem Terra também organizou o Luau pela Democracia. Piadas, poemas, músicas, danças e contos fizeram parte desse momento, fortalecendo o intercâmbio entre as gerações, por envolver Sem Terra de todas as idades.

Além de trazer a animação, a mística transmitiu diversas ideias, assim como, a socialização das experiências de vida. Na avaliação do coletivo de juventude e comunicação do MST-Bahia, o espaço reacendeu o espírito místico dos militantes e resgatou a cultura popular dos trabalhadores do campo.  

Em memória à morte dos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra que tombaram na luta pela Reforma Agrária, a juventude recitou: “companheiros não há o que temer. Eles podem arrancar uma flor, mas jamais deterão uma primavera e vocês, juventude Sem Terra são as sementes que florescerão o mais belo jardim”. 

Amauri Cardoso, membro do Coletivo de Juventude, surpreendeu-se e ficou muito animado com as atividades do Luau. “Foi uma experiência única, que vou levar comigo para sempre”, afirmou. Já para dona Maria de Souza, com seus 60 anos, o luau será inesquecível. “A Juventude Sem Terra nunca mais será a mesma”.

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