“Fora Temer”: Movimento Nacional de Economia Solidária diz não ao governo golpista

O intuito do evento foi construir propostas para enfrentar a onda conservadora na disputa de modelos de desenvolvimento para o país.
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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

 

“Fora temer!” Estas foram as palavras que predominaram na 1ª Assembleia Nacional do Movimento de Economia Popular Solidária, realizada no último sábado (9), na cidade de Santa Maria, na região Central do Rio Grande do Sul.

O intuito do evento foi construir propostas para enfrentar a onda conservadora na disputa de modelos de desenvolvimento para o país.

Inspirados pela música Ordem e Progresso, que foi interpretada pelo músico Antônio Gringo, a população do campo e da cidade dos 26 estados brasileiros, do Distrito Federal e de 16 países, entre eles a Argentina, Itália, Bolívia, Uruguai, Peru e Colômbia, discutiram os desmontes feitos nas políticas públicas em poucos dias do governo interino de Michel Temer (PMDB). A iniciativa também foi espaço para apontar o papel a ser desenvolvido pela economia solidária no enfrentamento ao golpe.

Neste sentido, Walter dos Santos, representante do povo quilombola do Maranhão, disse que a economia solidária também precisa se transformar num agente de combate à fome e de promoção da educação, sobretudo no campo. “Somente nos governos Lula e Dilma, por meio de cotas, conseguimos colocar nossos jovens nas universidades. É a educação que acaba com a divisão, a discriminação e a desigualdade social, mas ela também precisa ser prioridade dos governantes legítimos para o campo”, defendeu.

A jovem Regina Brunet, do Kizomba/RS, lembrou que a maior parte das conquistas que os trabalhadores tiveram até hoje se deu por meio de decretos e portarias. “Desta forma, qualquer governo pode derrubar o que conquistamos facilmente. Temos que parar de chorar por migalhas e lutar por leis e constituição, para que não tenhamos nenhum direito a menos. A comunidade LGBT, os negros, as mulheres e a juventude não darão nenhum passo atrás nessa batalha”, garantiu.

Para o carioca Marcos Rodrigo Ferreira, representante dos bancos comunitários do Rio de Janeiro, a vitória popular contra os desmontes do PMDB e seus aliados conservadores depende da mobilização popular massiva, nas ruas. “Não é mais momento para conciliação de classes, porque esta aposta não fortaleceu a nossa luta. Nós, trabalhadores, precisamos construir unidade, porque do outro lado eles estão unidos e sempre prontos para retirarem os nossos direitos”, declarou.

Já a agricultora Sílvia Reis Marques, dirigente do MST, falou sobre as relações internacionais que o governo golpista estabelece com os Estados Unidos, “com o objetivo de desnacionalizar o Brasil”, e reforçou que a luta unitária e popular é o maior instrumento para barrar a retirada de direitos da classe mais oprimida do país. “Nós precisamos estar mobilizados e lutando contra todos esses retrocessos”, apontou.
Feiras da Economia Solidária e do Cooperativismo

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A 1ª Assembleia Nacional do Movimento de Economia Popular Solidária integrou a programação da 23ª Feira Internacional do Cooperativismo e 12ª Feira Latino Americana de Economia Solidária, realizadas de 8 a 10 de julho em Santa Maria. Conforme a Brigada Militar, 248 mil pessoas visitaram o Centro de Referência em Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter durante os eventos.

Na cerimônia de encerramento, a coordenadora das feiras e do Projeto Esperança/Cooesperança, irmã Lourdes Dill, agradeceu a dedicação de todos os grupos de voluntários que fizeram as feiras acontecerem, e definiu a Assembleia Nacional de Economia Solidária como um momento “forte, tenso e profético”.

A religiosa também denunciou que esta foi a primeira edição das feiras que recebeu “espiões”. Segundo ela, um representante da Secretaria Nacional de Economia Solidária, agora controlada pelo governo Temer, esteve no local, mas em momento algum buscou o diálogo com a organização dos eventos.

“Não é preciso espiões. Aqui tem trabalhadores honestos, responsáveis e comprometidos. Se esse governo veio para espionar o povo, ele não precisa existir. E vamos sim fazer um debate forte porque a Economia Solidária no Brasil não pode esmorecer. Ela é uma política pública construída por nós. Esses que chegaram agora não sabem nem o que é convênio e contrapartida. Que eles aprendam a nossa gramática e se entusiasmem por uma causa que é nossa. Se eles quiserem destruir podem ir lá plantar batata e mandioca, que é importante, mas que seja nas roças do agronegócio e não nas nossas”, exaltou irmã Lourdes.

Ao final da cerimônia, foi lida a Carta da 23ª Feicoop, documento que sintetiza as deliberações de todos os seminários, oficinas, congressos e debates realizados durante o evento.

Durante as feiras foram expostos cerca de 10 mil itens entre agroindústria familiar, artesanato, alimentação, hortifrutigranjeiros, plantas ornamentais, serviços e produtos de povos indígenas. Além disso, uma extensa programação cultural e de formação também fez parte dos eventos.

O MST participou com a Feira da Reforma Agrária, mobilizando cerca de 50 famílias Sem Terra de todas as regiões do estado gaúcho. Confira a diversidade de produtos que o Movimento levou para comercialização aqui.