Feira ocupa a UFRN com produção saudável e cultura camponesa

Organizada pela turma Rosa Luxemburgo, de Ciências Sociais da Terra e o MST, a iniciativa pretende travar o debate sobre a questão agrária brasileira, agroecologia e Reforma Agrária Popular

 

Por Jailma Lopes
Da Página do MST

Entre os dias 19 e 21 de outubro, durante a Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (CIENTEC), o MST ocupou a Universidade Federal do Rio Grande do Norte com sua Feira Estadual e Cultural da Reforma Agrária Popular. Organizada pela turma Rosa Luxemburgo, de Ciências Sociais da Terra (PRONERA/UFRN), e o Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a iniciativa pretende travar o debate sobre a questão agrária brasileira, agroecologia e Reforma Agrária Popular.

Foram três dias de muito diálogo, debates, construção da unidade campo e cidade e acúmulo de forças para a Reforma Agrária Popular, constituindo um momento simbólico de ocupação da Universidade, da ciência e de materialização do projeto de vida defendido pelo povo Sem Terra.

Diariamente na CIENTEC circularam cerca de 20 mil pessoas. A feira recebeu estudantes universitários, secundaristas, professoras e professores, pesquisadores de várias áreas, além de muitos setores da população que a prestigiaram.“A produção de alimentos saudáveis, a cultura, os saberes populares, a produção científica das/os estudantes e do acúmulo histórico do MST, a luta e a memória, legitimam o que são de fato os Sem Terras, diferente do que passa na mídia”, ressalta uma das professoras que visitou o espaço.

 
O MST do Rio Grande do Norte avalia que as feiras culturais e agroecológicas são uma das ferramentas mais eficientes de diálogo direto com a sociedade e de disputa contra o modelo hegemônico do agronegócio.  

Segundo Evanilson Tenório, dirigente estadual do Setor de Produção, “a recepção por parte de todos que passaram na feira foi muito positiva, com nossa produção de alimentos saudáveis e a preço acessível, conseguimos fazer um debate muito eficiente, mostrando a produção dos acampamentos e assentamentos produzem e que a Reforma Agrária Popular, é sim uma alternativa concreta para o campo brasileiro, em que as pessoas vivem dignamente gerando emprego em renda”, avalia.

De acordo com os dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural (2015), a agricultura camponesa e familiar, com apenas 24% das terras agricultáveis em todo território nacional, produz mais de 70% dos alimentos que chega à mesa do povo brasileiro. Enquanto, o agronegócio, que domina e controla 76% do território nacional, é responsável apenas pela produção de menos de 30%, centrando-se nas monoculturas de cana, soja, eucalipto, milho e criação bovina. Outro dado, é que a agricultura camponesa e familiar, gera 74% de emprego de toda mão-de-obra formal no campo, em contrapartida, o agronegócio emprega apenas 26%, foram alguns elementos que permearam os debates. 

Assim, “o diálogo direto com as pessoas é de fundamental importância, valendo salientar que não foi um diálogo que foi só discurso, mas materializado com a realidade de nossos territórios da reforma agrária, em que as pessoas viam os benefícios de nossos alimentos, podiam saber de ondem vinham, por quem era produzido”, assinala Tenório.

Pronera – Educação do Campo: Direito nosso, dever do Estado!

O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) é uma conquista das organizações do campo por educação, constituído a partir de uma parceria entre as Universidades Públicas e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que possibilita o acesso ao ensino superior aos povos do campo, sob a metodologia da Educação do campo. 

Cesar Sanson, Professor da UFRN e integrante da Coordenação Pedagógica do PRONERA, aponta: “o espaço construído também tinha como objetivo mostrar o que é o PRONERA para o conjunto da Universidade, que atividades são desenvolvidas em articulação com o INCRA e com os sujeitos do campo”.

Turma Rosa Luxemburgo

A turma é composta por aproximadamente 60 estudantes de cinco estados do Nordeste (CE, PB, PE, RN e SE), filhas e filhos de camponeses da Reforma Agrária, que estão na quinta etapa do curso de Ciências Sociais da Terra (PRONERA/UFRN). 

Durante a feira, as/os estudantes construíram uma mostra de banners sobre a questão agrária, orientadas/os pela professora Ilena Barros, também da Coordenação Pedagógica do Curso, que destaca a importância de discutir o conjunto de temas sobre a questão agrária, como: estrutura fundiária, impactos dos agrotóxicos, o agronegócio, a situação da juventude e das mulheres e do campo e etc.

“Em tempos de acirramento da luta de classes, criminalização das organizações populares, é necessário disputar a universidade e a ciência de forma qualificada. A universidade, historicamente, teve suas portas fechadas para os trabalhadores, principalmente, os do campo. Mas nós estamos mostrando que é possível pintá-la de povo, de camponês, de trabalhador, de mulheres e jovens, que lutam diariamente em acampamentos e assentamentos do nordeste”, afirma Ilena Barros.

Mostra Cultural e Agitação e Propaganda

Apostando nas diferentes linguagens culturais como ferramentas formativas, a Juventude Sem Terra e o Levante Popular da Juventude realizou algumas intervenções denunciando o projeto de morte do agronegócio, o governo golpista e denunciando a PEC/241, que prejudicará a educação e a saúde pública brasileira, sendo uma afronta aos direitos humanos fundamentais, consolidados na Constituição de 1988.

Na universidade durante os três dias ecoavam místicas, música, poesia, palavras de ordem, exposição fotográfica e várias linguagens culturais desenvolvidas pelas/os Sem Terras, expressando sua identidade. Além disso, contou-se com a presença de militantes potiguares da cultura, como o poeta e cordelista popular Paulo Varela; e o poeta, músico, cantor, e compositor Zelito Coringa, que fez um show de encerramento da I Feira Agroecológica: Reforma Agrária Produzindo Alimentos Saudáveis e Preservando a Vida.

*Editada por Geanini Hackbardt