“Precisamos apostar na unidade da classe trabalhadora e na solidariedade”

No Recife, ato denuncia criminalização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

 

30793795531_af261bcf12_z.jpg
Mais de 100 pessoas se reuniram no Monumento Tortura Nunca Mais em solidariedade ao MST. – Créditos: Brasil de Fato Pernambuco

Por Monyse Ravenna
Do Brasil de Fato 

“A Liberdade da Terra e a paz no campo têm nome:
Reforma Agrária.
Hoje viemos cantar no coração da cidade.
Para que ela ouça nossas canções e cante.
E reacenda nesta noite a estrela de cada um.”
(Pedro Tierra)

Movimentos populares, organizações sociais, parlamentares, artistas e professores se reuniram na noite da última terça-feira (8), no Monumento Tortura Nunca Mais, no Centro do Recife. O lugar construído como memória a todos os perseguidos e assassinados pela ditadura militar ontem presenciou uma centena de pessoas se manifestarem contra a escalada crescente de criminalização contra os movimentos sociais, em solidariedade ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) que na manhã do dia 4 de outubro teve suas dependências invadidas pela Polícia Civil sem mandado judicial.

A ação da polícia fez parte da operação “Castra”, que envolveu três estados: Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, tendo como principal objetivo prender e criminalizar as lideranças dos acampamentos Dom Tomás Balduíno e Herdeiros da Luta pela Terra, militantes assentados da região central do Paraná. No Paraná oito militantes foram presos. Já no Mato Grosso do Sul, 3 viaturas policiais, com placas do Paraná, entraram no Centro de Pesquisa e Capacitação Geraldo Garcia (CEPEGE), em Sidrolândia. A ação policial procurava por militantes do MST do Paraná que, supostamente, estariam naquele centro.

De acordo com Alexandre Pires, coordenador geral da ong Centro Sabiá, “o MST é uma grande força política na luta pela Reforma Agrária e pela agroecologia e também por isso defender o MST é defender o conjunto dos movimentos sociais do campo e da cidade. É defender os trabalhadores”. 

Em nota, o MST denunciou a escalada da repressão contra a luta pela terra, onde predominam os interesses do agronegócio associados à violência do estado de exceção, acusando a empresa Araupel de estar em conluio com o aparato policial e autoridades públicas. Desde maio de 2014 cerca 3 mil famílias ocupam áreas griladas pela Araupel no Paraná, declaradas pela Justiça Federal terras públicas pertencentes à União.

O monge beneditino e assessor de movimentos e pastorais sociais Marcelo Barros também esteve presente no ato. “A maioria das análises da esquerda indicam que estamos vivendo um momento muito difícil, um golpe apoiado pelos meios de comunicação hegemônicos e que está destruindo os avanços que tivemos na luta por um outro projeto. Mas nós também constatamos que as esquerdas falharam, enfraqueceram o trabalho de base. Precisamos voltar com urgência para o trabalho e a mobilização das bases. O MST é um Movimento que melhor realiza esse trabalho de base. O ataque a ENFF é um ataque a todos nós, é um ataque muito perigoso e cruel. Todos nós somos MST!”, afirmou no ato.

Itamar Lages, professor da Universidade de Pernambuco (UPE), avalia que o avanço da luta pela agrária impulsiona muitas outras lutas e que “por conta disso o MST sendo atingido, todos nós somos”. Para Amanda Salvino, do Levante Popular da Juventude, “esse é um momento importante porque tivemos um período de vários retrocessos, os direitos básicos estão sendo feridos. Apoiamos o MST porque construímos juntos a luta por um projeto popular para o Brasil”, pontuou.

Entre os parlamentares presentes a deputada estadual Teresa Leitão (PT) opinou que “o MST é o movimento mais inspirador em termos de resistência e tem uma dimensão simbólica muito grande na luta pela terra e pela democracia”.

Jaime Amorim, da direção nacional do MST, agradeceu a todas as demonstrações de apoio, “nós precisamos apostar na unidade da classe trabalhadora e na solidariedade como valor fundamental”, concluiu.