A repressão policial, um livro e João

Com música e sentimento de resistência, o livro foi lançado no Museu de Arte da Bahia, e contou com a participação de diversas Organizações e Movimentos Populares
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Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

Com uma narrativa silenciada da história brasileira, “A Repressão Militar-Policial no Brasil: o livro chamado João” é resultado da construção coletiva de autores presos políticos, que sentiram na pele o regime ditatorial de 1964.

Com música e sentimento de resistência, o livro foi lançado nesta quinta-feira (16), no Museu de Arte da Bahia, e contou com a participação de diversas Organizações e Movimentos Populares.

Escrito por Aton Fon Filho, Carlos Lichtszejn, Celso Antunes Horta, Gilberto Luciano Beloque, Pedro Tierra, José Carlos Vidal, Manoel Cyrillo, Paulo de Tarso e Reinaldo Morano, o material propõe uma leitura e reflexão para o campo acadêmico e toda classe trabalhadora que está nas ruas lutando contra a retirada de direitos.

Após quatro décadas de clandestinidade, “João” é um pseudônimo com que os autores batizaram o livro para dialogar com o tempo atual, ao narrar um passado de luta pela liberdade política, abrindo espaços para construção do futuro.

A história faz um paralelo entre os “anos escuros” vivenciados no país a partir de 1964, com o golpe de 2016 através do impeachment de Dilma Rousseff.

Depois do lançamento e sessão de autógrafos com Aton Fon e Manoel Cyrilo, dois dos escritores, foi aberta uma plenária de debate para contextualizar sobre os aspectos mais gerais da construção e importância dessa formulação para o acumulo de forças diante das lutas populares hoje.

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Linhas e entrelinhas

A mesa de discussão estava composta com representações de diversos campos políticos e vivências, a partir de Marcia Calazans, professora da Universidade Católica de Salvador (UCSal), Thays Carvalho, da coordenação nacional do Levante Popular da Juventude, mais os dois autores.

Para Marcia, o livro é uma preciosidade e constrói uma narrativa de dentro, ao escrever nas linhas e entrelinhas, tendo como base a construção de uma estratégia de sobrevivência.

Nesse contexto, Fon destacou que a prisão foi um mecanismo utilizado pelos presos políticos para realizarem os enfrentamentos necessários ao regime ditatorial. “O livro foi o nosso instrumento de luta”.

“Esse material não é um relato do passado, mas sim, um anúncio sobre o que estamos vivendo hoje” e destacou, a ditadura atendia os interesses imperialistas e da burguesia. Nesse sentido, “o golpe é mais um instrumento com influências do capital internacional e da burguesia interna”.

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Construção

Ao relembrar os momentos de construção do livro, Manoel disse que tudo começou na sela 7, na Casa de Detenção de São Paulo, onde 49 presos viviam. Ali era feita uma clippagem de todo material jornalístico que chegava até os presos, nesse mesmo lugar nasceu o “João”.

Para Ele, a grande contribuição à luta foi na cadeia, pois o processo de construção e resistência se deu a partir do enfrentamento as estruturas internas de repressão que se transformaram no livro.

Sobre a importância do material produzido, Thays disse que uma das grandes contribuições está na atualidade, por apresentar uma roupagem nova do golpe que, mais uma vez, legitima e justifica as questões vigentes.

“A obra precisa ser disseminada, pois é um símbolo de resistência e luta contra a política de extermínio, que responde a uma intencionalidade política. Ou seja, não estão desassociadas”, explicou.

O lançamento do livro foi uma realização do MST, Levante Popular da Juventude, Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM/BA), Museu de Arte da Bahia, da Editora Expressão Popular, Rede Nacional de Advogados Populares (Renap), Comissão da Verdade OAB-BA, Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR), Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural da Bahia (IPAC) e da Secretaria de Cultura da Bahia. O espaço contou com o apoio de 17 entidades, entre elas, sindicatos e universidades.