Demanda por alimentação saudável impulsiona alternativas para o campo

Camponeses assentados no Rio Grande do Sul investem em produção de hortaliças para comercializar em feiras ecológicas públicas e privadas
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Feira em Viamão – Foto Catiana de Medeiros 

 

Por Catiana de Medeiros 
Da Pagina do MST​

A redução de recursos públicos destinados pelo governo federal, especialmente nos últimos cinco anos, para programas institucionais como o de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), tem levado o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul a pensar novas estratégias para garantir às famílias assentadas na região Metropolitana de Porto Alegre a comercialização dos seus produtos orgânicos. Se por um lado o processo garante trabalho e renda aos produtores, por outro atende uma demanda crescente dos consumidores urbanos que buscam alimentos saudáveis.

Além de terem representação no Conselho Municipal de Feiras Ecológicas de Porto Alegre, por meio da Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Coceargs), hoje as cerca de 120 famílias ligadas ao Grupo Gestor das Hortas, Frutas e Plantas Medicinais, coordenado pelo MST, estão inseridas em cerca de 40 pontos de venda direta de alimentos livres de agrotóxicos em sete municípios da região: Porto Alegre, Viamão, Charqueadas, Nova Santa Rita, Taquari, Eldorado do Sul e Canoas. Na Capital gaúcha, o MST participa de seis das sete feiras ecológicas organizadas pelo poder público municipal. Na região, uma das últimas feiras inaugurada pelo Movimento é da Praça Júlio de Castilhos, localizada no Centro de Viamão. Ela funciona todas as quintas-feiras, das 7h30 às 13 horas.

Conforme o camponês Arnaldo Soares, assentado em Nova Santa Rita, além de buscar ampliar a participação em feiras ecológicas públicas, o MST tem se organizado nos últimos anos para fazer feiras particulares. Exemplo são os pontos de vendas de produtos orgânicos em três shoppings da Capital: Praia de Belas, Iguatemi e Total. “Com a decaída das políticas públicas surgiram várias demandas de feiras por parte dos produtores, ao mesmo tempo em que recebemos convites para organizarmos pontos de vendas particulares, uma vez que a população está mais interessada em consumir alimentos saudáveis”, explica.

Soares lembra que o MST já tem mais de 20 anos de experiência em feiras na região e adianta que no próximo mês de agosto poderá ter novidade: as famílias Sem Terra receberam recentemente três convites para fazer feiras particulares — um dos pontos é em um shopping situado na cidade de Novo Hamburgo, e os outros dois em dois postos de combustíveis de Porto Alegre. Segundo Soares, o Grupo Gestor da Hortas está discutindo as propostas com os proprietários dos empreendimentos. “Nosso objetivo, além de gerar renda às famílias para que elas tenham condições de continuar no campo, é possibilitar à população urbana o acesso a um alimento mais saudável. É por isto que estamos analisando todas as possibilidades”, complementa.

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Feira em Viamão. Foto Catiana de Medeiros 

Cooperação

Para fortalecer o trabalho das famílias assentadas nas hortas, cerca de 50 feirantes da região participaram nesta segunda-feira (24) de debates sobre a relação da Reforma Agrária Popular com a agroecologia, e medidas para inserir mais famílias em pontos de venda direta de alimentos. Para o engenheiro agrônomo Álvaro Delatorre, presidente da Cooperativa de Trabalho em Serviços Técnicos (Coptec), entidade contratada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para prestar assistência técnica aos assentamentos, é fundamental que os camponeses intensifiquem práticas de cooperação para ampliar as suas participações em feiras. “Não importa a forma, o importante é cooperar desde os processos mais simples até os mais complexos, como a industrialização e a comercialização”, aponta.

Durante o encontro dos feirantes, também foram discutidos meios de estreitar a relação de confiança entre consumidor e produtor, e os preços dos produtos. A maioria dos alimentos orgânicos vendidos de forma direta custam menos que os orgânicos encontrados nas prateleiras das grandes redes de supermercados de Porto Alegre e até mesmo daqueles que foram produzidos com agrotóxicos. De acordo com os assentados, a ideia do MST é sempre oferecer sua produção limpa a preço justo, para que o produtor tenha renda sem explorar financeiramente o consumidor.