“As Feiras são expressões da nossa organização e resistência”, afirma dirigente Sem Terra

A trajetória das Feiras em Alagoas tem possibilitado a aproximação com diversos setores da sociedade, em especial, através da comercialização dos alimentos dos acampamentos e assentamentos.
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Fotos: Gustavo Marinho 

 

Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

Iniciando a agenda de Feiras da Reforma Agrária de 2017 em Alagoas, o MST realizou durante os dias 25 e 26 de julho a primeira edição na cidade de Delmiro Gouveia, no Sertão de Alagoas. De acordo com a coordenação do movimento, ainda estão previstas quatro feiras itinerantes contemplando todas as regiões do estado, além da Feira da capital Maceió, entre os dias 6 e 9 de setembro, onde completa 18 anos de realização.

A trajetória das Feiras em Alagoas tem possibilitado a aproximação com diversos setores da sociedade, em especial, através da comercialização dos alimentos dos acampamentos e assentamentos.

“A Feira é mais uma importante forma de luta da nossa organização. Realizando as feiras ocupamos parte da cidade, mostrando para a população que nós queremos continuar produzindo alimentos saudáveis para alimentar o povo”, explicou Débora Nunes, da coordenação do MST.

De acordo com Débora, as feiras expressam o sentido da luta e da organização do povo Sem Terra, em todas as suas dimensões. “Só chegamos nas cidades para realizar as dezenas de feiras, fruto de um processo de luta e organização de camponeses e camponesas. Realizamos as feiras demonstrando principalmente a resistência de quem vive no campo”.

“Vivemos um momento conjuntural bastante difícil no país, onde estão sendo retirados direitos de toda a sociedade. Esse momento coloca para nós, trabalhadores, trabalhadoras e movimentos populares a responsabilidade de seguir organizando o povo e fazendo muita luta. Nossas feiras também partem dessa responsabilidade”, destacou Nunes.

“Nós nunca tivemos uma política efetiva e real de Reforma Agrária em nosso país. Tudo o que conquistamos foi fruto da nossa organização e disposição de fazer luta”, explicou. Segundo Débora, as Feiras reafirmam a necessidade e urgência da realização da Reforma Agrária, “em especial aqui em Alagoas, um estado onde a cana-de-açúcar deixou de herança a desigualdade, a miséria, a fome, a destruição do meio ambiente e a precarização do trabalho, ocupamos os centros de diversas cidades com a materialização do que queremos para o campo e com projeto de sociedade, reconstruindo a possibilidade da justiça social, da distribuição de renda e de devolver aos trabalhadores do campo a possibilidade de viver com dignidade.

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Orgulho na produção: histórias de resistência

José Ezídio da Silva, conhecido como Zé Baixinho, assentado no município de Joaquim Gomes, Zona da Mata Alagoana, no assentamento Filhos da Terra, participa das feiras organizadas pelo MST há 10 anos, acompanhando todas as edições com a produção da sua roça.

“Nossas feiras são muito importantes para nós assentados e para todo o movimento. Poder mostrar o que temos nas nossas lavouras para quem vive na cidade nos dá muito orgulho”, comentou Zé Baixinho.

Segundo o agricultor, a produção no assentamento é feita exclusivamente com a disposição e a resistência dos assentados e assentadas. “Lá em casa toda a família é envolvida na produção, meus filhos e minha companheira, todos contribuem de alguma maneira. Não temos acompanhamento de assistência técnica no assentamento, nem nenhum apoio do governo, mas temos no nosso lote muita produção entre banana, macaxeira, batata, milho, feijão, horta”, relatou.

“Mesmo com muita dificuldade, nossa organização e o trabalho coletivo supera e faz com que a gente venha para as feiras com nossas riquezas”.

Também presente em diversas edições das feiras em Alagoas, Vera Lúcia Vieira, é conhecida como Toinha e assentada no Sertão de Alagoas, no assentamento Patativa do Assaré, no município de Olho D’Água do Casado, faz questão de participar das feiras organizadas pelo MST.

Toinha que participa das feiras há 16 anos, lembra desde o início das primeiras edições e reforça o orgulho em ter participado de parte da história de realização das feiras no estado. “Para mim é uma maravilha poder participar das feiras. Não gosto de perder uma edição”, explicou.

“Na Feira a gente mostra o nosso melhor talento que é produzir alimentos e trabalhar na terra para matar a fome do povo”. Listando a produção que tem na roça, Toinha comentou da satisfação que é poder dizer que vive do que produz no lote.

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“Hoje vivemos de barriga cheia, com comida saudável e podendo ainda alimentar quem tá na cidade”.

Assim como Zé Baixiho e Toinha, centenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais Sem Terra em Alagoas já intensificam o processo de organização da produção, a partir da cooperação, para ocupar as diversas cidades, ampliando o diálogo com a sociedade sobre a importância da Reforma Agrária para resolver os problemas dos camponeses e camponesas e contribuindo na resolução dos problemas estruturais dos centros urbanos.