Educadores debatem a questão agrária no Baixo Sul da Bahia

"Os povos tradicionais estão perdendo os territórios para o turismo predatório, a indústria naval e aos grandes empreendimentos", denúncia pescador.
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Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST

Na tarde da última segunda-feira (14), o Acampamento Padre Josimo, em Carrasco Bonito, na região do Bico do Papagaio, estado Tocantins, foi incendiando. As 80 famílias acampadas foram surpreendidas com o incêndio de grandes proporções que queimou mais de 50 barracos.

“Eles estavam no acampamento quando o fogo começou. Adultos e crianças tentaram controlar as chamas, mas como estamos no período seco e o lugar é extenso, o fogo foi pulando de barraco para barraco”, relatou o coordenador do MST no Tocantins, Antônio Bandeira.

Os trabalhadores da região denunciam que já vinham sofrendo ameaças, o que desperta suspeitas sobre a autoria do crime. “Há cerca de dez dias uma figura política, um fazendeiro e empresário da região […] andou dizendo que em breve os acampados poderiam receber uma surpresa”, disse Messias Barbosa, da coordenação do MST.

A ação não deixou vítimas fatais, mas algumas famílias perderam todos os seus pertences, além de uma grande quantidade de alimentos que foi queimada. O MST no Tocantins denuncia a negligência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no estado (INCRA-TO), frente os inúmeros alertas do movimento sobre a situação de assédio que os trabalhadores acampados vinham sofrendo.

“Diante dessa situação, esperamos que o Incra, que tem sido extremamente inoperante e tem se colocado totalmente contra os Sem Terra, inclusive criminalizando o movimento e dando total apoio aos grileiros que há mais de dois anos aterrorizam os acampados. Relembramos ainda que já é a segunda vez que isso ocorre só neste acampamento”, afirmou Bandeira.

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Histórico

O acampamento está situado em um assentamento do Incra, criado na década de 90, numa região de forte disputa entre trabalhadores rurais Sem Terra e fazendeiros, políticos e empresários, que tentam de toda forma se apropriar da área pública.

Em 2015, diversos movimentos sociais do estado do Tocantins denunciaram o agravamento da violência na região do Bico do Papagaio através de uma &”39;Carta dos movimentos sociais contra a violência no campo&”39;. No documento, manifestam &”39;preocupação e indignação […] frente ao acelerado aumento da brutal violência que atinge profundamente os trabalhadores e trabalhadoras rurais Sem Terra e as comunidades camponesas da região do Bico do Papagaio e de outras regiões do estado, ações que tende a intensificar e tomar proporções maiores de conflitos agrários pela disputa da terra e território”.

O texto ainda tece fortes críticas à atuação das autoridades locais frente ao grave aumento da violência na região. “Somente no ano de 2014 a Comissão Pastoral da Terra registrou no Tocantins 21 conflitos por terra envolvendo 1456 famílias, sendo que 332 famílias foram despejadas, outras 655 foram ameaçadas de despejos, uma tentativa de assassinato e 6 pessoas foram ameaçadas de morte. Os órgãos de segurança pública, bem como, o poder judiciário são inoperantes, frente às atrocidades do latifúndio ocorridas contra os camponeses. Os agentes públicos de segurança agem como suporte de apoio ao latifúndio e a pistolagem contra os camponeses”, diz.

Por fim, os movimentos alertavam para a intensificação dos conflitos, como resultado da inoperância do poder público. “Sabemos que a sanha criminosa do latifúndio e do agronegócio vem promovendo e tende a se intensificar uma verdadeira guerra junto aos trabalhadores rurais Sem Terra, posseiros, atingidos por barragens e comunidades quilombolas do Tocantins”.

 

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