SAF Apícola homenageia Paulo Kageyama

Sistema Agroflorestal foi instalado em assentamento de Hulha Negra-RS

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Por Suelen Krupinski e Vanessa Almeida
Especial para Página do MST

 

No dia 9/08, aconteceu um dia de campo no assentamento Conquista da Fronteira, no município de Hulha Negra, Rio Grande do Sul, na comunidade São Roque. O dia de campo foi realizado pelo  Instituto Cultural Padre Josimo, com apoio da UTE Pampa Sul, Associação dos Apicultores e entidades do MST e do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA).

Estavam presentes camponeses e camponesas de Caçapava do Sul, Canguçu , Pelotas , Candiota , Porto Alegre, além de Hulha Negra e estagiários da Venezuela.

Pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, palestraram e orientaram a implantação do Sistema Florestal Apícola com finalidade de fornecer floradas durante nove meses do ano, além de outros produtos para consumo da família e mercado local. O pesquisador Luis Fernando Wolf participou ativamente da projeção do SAF Apícola.

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Os sistemas agroflorestais apícolas favorecem a sustentabilidade da agricultura camponesa e contribuem para a melhoria da nutrição e da renda das famílias dos agricultores com a preservação dos recursos naturais, do meio ambiente e da vegetação nativa.

O objetivo desse dia de campo foi instalar uma agrofloresta com fins apícolas, com espécies florestais,  no lote do apicultor assentado Gilmar Zanovello. O Sistema Agroflorestal recebeu o nome de Professor Paulo Kageyama, em homenagem a sua dedicação, militância e pesquisa em prol da Reforma Agrária e dos pequenos agricultores e agricultoras em todo o Brasil.

Paulo Yoshio Kageyama (depoimento de Leonardo Melgarejo e Vanessa Branco)

Tarefa difícil falar sobre a pessoa e sobre a trajetória de Paulo Yoshio Kageyma. Cidadão que, em vida, deu tantos exemplos e que, após a vida, é lembrado com saudade por todos que o conheceram. Fez amigos e inimigos, como acontece com as pessoas que se assumem com clareza e maturidade a favor da maioria. Paulo sempre escolheu, com firmeza, o lado do povo e nunca se omitiu quanto a isso ao longo da vida. Seus inimigos o respeitam, seus amigos sabem a importância desta amizade.  Paulo nunca foi indiferente ao que nos cercam, e por isso sempre foi reconhecido em todos os espaços onde andou. E andou muito…

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Nasceu em 3 de dezembro de 1945 na cidade de Santo Anastácio (São Paulo) e faleceu em Campinas (São Paulo), dia 17 de maio de 2016. Trabalhou até a última noite de vida, como fez ao longo dos seus quase 70 anos, plantando projetos, distribuindo sementes, com a consciência de que em cada gesto e em tudo que se faz, deixamos nosso legado. Kageyama plantou e salvou florestas.

Levava mensagens em defesa da vida para tantas pessoas que não é possível descrever. Todos que tiveram oportunidade de cruzar com ele, nos vários assentamentos e acampamentos por onde passou, ou nos auditórios de universidades, nos salões da ONU, ou mesmo no Vaticano, sabem que é necessário sempre lembrar pessoas de valor. Com toda sua força suavizada pela sua humildade e sua tranquilidade falou para o Papa Francisco em nome da Ciência Cidadã defendida pela Via Campesina, dizendo que a vida de todos depende de avanços no campo da agroecologia e da reforma agrária. E foi escutado. Sempre foi escutado, porque sempre se expressou com doçura, firmeza e com a clareza de quem se percebe como parte de um todo em permanente construção.

Paulo era otimista nesta atividade de distribuir sementes e plantar florestas. Orientou mais de 100 teses de mestrado e doutorado. Escreveu artigos, participou de livros, ajudou na elaboração de projetos de lei, programas de governo, planos e projetos do interesse de todos nós. Fez palestras em Roma, na FAO, na Escola Florestan Fernandes, no Congresso Nacional e embaixo de pés de mangueira, nos assentamentos da Bahia ou de tantos outros locais onde sempre foi escutado com atenção porque sempre falou para a alma dos que ali estavam. E por isso será lembrado. E por isso temos escolas, hortos, assentamentos, florestas e lembranças fortes e vivas, que carregam seu nome.

Algumas datas marcantes de seu curriculum, informadas pelo Google, dizem que o professor Paulo era titular da USP há 37 anos e que ali concluiu curso de agronomia em 1969, o mestrado em 1977 e o doutorado em 1980. Em 1991 concluiu o pós-doutorado nos EUA, consolidando formação sólida e marcante, em Genética e Conservação, desenvolvida na prática voltada especialmente a espécies arbóreas, com ênfase à Conservação de Ecossistemas Tropicais, Restauração de Áreas Degradadas, Sementes Florestais, Variabilidade e Estrutura Genética, assim como Agrobiodiversidade e Agricultura Familiar.

Foi diretor de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente durante o primeiro governo Lula e membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio como representante do Ministério do Meio Ambiente e também do Ministério do Desenvolvimento Agrário, durante o segundo governo Lula e o primeiro de Dilma, onde liderou o grupo minoritário que naquele espaço até agora defende avaliações adequadas de biorisco, pedindo respeito à verdade, à ciência, à biodiversidade e à saúde do ambiente, da cultura e da população brasileira.

Não importa as derrotas, tudo é semente, e mesmo em ambientes contaminados como o da CTNBio é possível formar consciências. Paulo sabia disso e fez valer esta ideia, expandindo a consciência das organizações sociais em relação a CTNBio. A luta continua no espaço dessa Comissão, onde tantos resistiram, graças a ele.

Quando faleceu era representante do MDA na CTNBio, assessor voluntário da Via Campesina, Membro do grupo de Experts da FAO/Roma – para Conservação Genética, membro do Movimento Ciência Cidadã, do Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade, e da torcida corintiana.

Nunca deixou de tomar partido nas lutas e desafios que se apresentaram. Foi membro do partido comunista, militava no PT onde se propôs candidato a prefeito de Campinas na eleição passada. Perdeu nas prévias para o candidato mais habilidoso em negociações que ele não admitia, e ainda assim se propôs a ajudar na elaboração do programa de governo para a área ambiental.

Paulo era uma pessoa que se sabia igual a todos, e que por isso era tão especial que jamais será esquecido.

 

 

*Editado por Rafael Soriano