Seminário defende a Educação do Campo
Da Página do MST
O III Seminário de Educação do Campo do Instituto Federal Catarinense (IFC) aconteceu em Abelardo Luz/SC, entre os dias 27 e 29 de setembro, com cerca de 140 participantes. Embalado pelos debates expressos nas músicas que constituem a educação do campo: “Eu quero uma escola do campo, que tenha a ver com vida da gente, querida e organizada e construída coletivamente”.
Há dois meses esse instituto sofreu ofensiva do Ministério Público justamente por existir disposição dos diretores do mesmo em construir a educação do campo em conjunto com a comunidade onde o instituto se localiza, uma área de Reforma Agrária.
Em meio ao seminário, na quinta-feira (28), se fizeram presentes e realizaram ato em defesa da educação do campo representantes do Conselho Nacional dos Institutos Federais e membros Conselho de Dirigentes do IFC (reitora e diretores de 10 campi). Sonia Regina de Sousa Fernandes, reitora do IFC, afirmou que o Conselho de Dirigentes (CODIR) se fez presente “com a intenção de reiterar o compromisso político, social e ético que essa gestão tem com este campus, neste local geográfico em que ele se encontra, e que a garantia de que nessa gestão daqui ele não sai. Do mesmo modo a garantia da proposta pedagógica que a educação do campo e no campo, e não para o campo”.
Nesta sexta-feira (29), os participantes do evento ratificaram sua carta em defesa da educação do campo e da agroecologia e participaram do Dia D em defesa dos Institutos Federais e das Universidades Federais. Trata-se do chamado para o ato simbólico de abraçar os nossos campus dessas instituições como forma defender a educação pública, gratuita e de qualidade.
Confira a carta na íntegra:
Carta em defesa da Educação do Campo e da Agroecologia
Nós educadores(as) e educandos(as) do campo, reunidos entre os dias 27 a 29 de setembro de 2017 no III Seminário de Educação do Campo do IFC, viemos através desta nos posicionarmos em defesa da Educação do Campo e da Agroecologia. A Educação do Campo é uma conquista, fruto da luta dos trabalhadores(as) do Campo, dado que esse direito foi negado historicamente aos sujeitos campesinos.
O marco histórico desta construção foi o I Encontro Nacional dos Educadores da Reforma Agrária acontecido em 1997 e a I Conferência Nacional da Educação do Campo ocorrido em 1998, com a presença de Movimentos Sociais e organizações sindicais do campo, universidades, MEC e UNESCO. Nestas atividades, iniciou-se o debate acerca da necessidade de construção de uma proposta e de políticas públicas para a educação do campo que atendesse às demandas, a realidade e a especificidades dos trabalhadores (as) do campo.
A partir da organização, luta e reivindicação destes sujeitos forçou a criação, por parte do MEC, de diretrizes, decretos e programas governamentais que assegura o direito a uma educação que atenda as especificidades do campo. Além disso, os camponeses construíram uma proposta de educação para as escolas do campo que assegura a necessidade do acesso ao conhecimento historicamente acumulado e que exista uma vinculação do processo educativo com a vida e a realidade do campo. Tal proposta é reconhecida e oficializada pelo MEC através de diretrizes, pareceres e decretos, o Plano Nacional de Educação e o Plano Estadual de Educação de Santa Catarina.
No entanto, mesmo com a criação da proposta e de diretrizes para a educação do campo nos deparamos com índices alarmantes que indicam as condições de vida e de educação do campo. Um dos dados está relacionado a defasagem na formação de professores das escolas do campo, os dados do Censo Escolar INEP (2011), indicam que dos 342.845 educadores no campo apenas 182.528 (53,3%) possuem ensino superior. Além disso, segundo IBGE (2010) 23,2% dos jovens e adultos do campo são analfabetos, a escolaridade média daqueles com mais de 15 anos é de 4,5 anos.
Tais dados demonstram que parte significativa da população do campo está excluída do acesso à educação, devido a falta da oferta ou da precariedade das escolas do campo, tanto nas estruturas físicas e condições de transportes escolares, quanto na formação de educadores. Neste sentido, o senso escolar (2016) aponta que no meio rural 9,9% das escolas não possui energia elétrica, 14,7% não têm esgoto sanitário, 11,3% não têm abastecimento de água, 90,1% não possuem internet.
O fechamento de escola no campo também é outra questão preocupante, pois o primeiro relatório global sobre as crianças fora da escola lançado pela UNICEF (2015) aponta que, no período de 2005 a 2015, cerca de 37 mil escolas rurais foram fechadas no Brasil, contribuindo para o analfabetismo no campo.
O agronegócio, ano após ano, tem apresentado crescimento na produção de commodities (sobretudo de soja, cana, milho, algodão e carne) e procura se apresentar como mola propulsora da economia brasileira. Esse modelo tem aprofundado a concentração fundiária e tem sua produção calcada na devastação ambiental e na Revolução Verde (monoculturas, mecanização e uso intensivo de agrotóxicos). Por outro lado, a produção de alimentos diversificados, que de fato atende as necessidades da população, é realizada pelas mãos dos camponeses.
Mesmo com um volume ínfimo de investimento público, a agricultura camponesa é responsável por 70% dos alimentos consumidos em nosso país e tem buscado construir as bases para um novo modelo para a agricultura: a agroecologia. Trata-se da demanda por um modo de vida onde não exista exploração de seres humanos frente a outros seres humanos, nem frente a natureza. Pensar a educação em conjunto com os trabalhadores e trabalhadoras do campo tem sido a tarefa das escolas do campo.
Nesse sentido, nós presentes no III Seminário da Educação do Campo do IFC, reafirmamos a necessidade de continuarmos em luta pela educação do campo, pela existência de instituições de educação pública, gratuita e de qualidade no e do campo e pela Agroecologia.
Educação do campo, direito dos povos do campo e dever do estado!
Abelardo Luz/SC, 29 de setembro de 2017.
“EmDefesaDasUniversidades
“EmDefesaDaEducação
“EmDefesaDosInstitutosFederais
*Editado por Rafael Soriano