O que levou 10 mil pessoas às ruas de Correntina (BA)?

Em meio às palavras de ordem e cartazes em defesa do Rio e das águas, uma grito transborda: “não somos terroristas”

 

Do Unisinos 

 

Insurgência, é um filme que proporciona um mergulho de 5 minutos na manifestação do dia 11 de novembro de 2017 contra a omissão do poder público diante da exploração de água pelo agronegócio no oeste baiano.
O comentário é de Ruben Siqueira,  membro de Comissão Pastoral da Terra, publicado por EcoDebate, 16-11-2017.

Em meio às palavras de ordem e cartazes em defesa do Rio e das águas, uma grito transborda: “não somos terroristas”. Uma reação à forma como a grande mídia repercutiu o ato da semana anterior que destruiu equipamentos de captação de água e irrigação de 2 fazendas na região. Para os manifestantes não há mais tempo para esperar o Estado agir.

Desde a década de 70 violações e crimes do agronegócio vem sendo denunciados. Em 2000, populares desativaram um canal que pretendia desviar as águas do mesmo rio Arrojado. Manifestações religiosas, como o canto fúnebre das “Alimentadeiras de Alma”, passaram a ser realizadas para denunciar a morte de nascentes. E romarias com milhares de pessoas vêm sendo feitas protesto contra a destruição dos Cerrados.

Em 2015 um grande ato com 6 mil pessoas tentou impedir a outorga de água para as 2 fazendas que foram alvo dos protestos recentes. Mas a população foi totalmente ignorada pelo órgão ambiental da Bahia que autorizou a exploração de 183 mil metros cúbicos/dia.

Este volume de água retirada equivale a mais de 106 milhões de litros diários, suficientes para abastecer por dia mais de 6,6 mil cisternas domésticas de 16.000 litros na região do Semiárido. Agrava-se a situação ao se considerar a crise hídrica do rio São Francisco, quando neste momento a barragem de Sobradinho, considerada o “coração artificial” do Rio, encontra-se com o volume útil de 2,84 %. A água consumida pela população de Correntina aproximadamente 3 milhões de litros por dia, equivale a apenas 2,8% da vazão retirada pela referida fazenda do rio Arrojado.

 

Não há ciência no mundo que possa estimar um valor monetário para o rio Arrojado, e isso o povo de Correntina parece compreender bem e não ficará para história como população conformada ou cúmplice de crimes e violações dessa gravidade.

 

ht