Sem Terra organiza ampliação de acampamento agroecológico no Vale do Paraíba

As famílias do acampamento Egídio Brunetto em Lagoinha têm estreitado a relação com a comunidade e já colhem frutos agroecológicos

 

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Da Página do MST 

Há cerca de vinte dias, o MST voltou a ocupar a sede da Fazenda Bela Vista, localizada no município de Lagoinha, interior de São Paulo, para denunciar o descaso com a Reforma Agrária na região e exigir a criação de um assentamento na área. Desde então, as famílias sem terra têm intensificado as atividades no local e interagido com a comunidade por meio da produção de alimentos agroecológicos e de atividades culturais.

Dentre as primeiras ações organizadas pelo acampamento está a recuperação da mata ciliar na fazenda, historicamente devastada pela monocultura e pelo gado. “Já nos primeiros dias, junto com as crianças sem terrinha, fizemos o plantio de dezenas de mudas de araucárias no entorno da sede da fazenda e no último fim de semana organizamos um mutirão para iniciar o reflorestamento da mata ciliar do Rio Paraitinga, que passa dentro da fazenda, bem próximo à sede”, conta Tainara Lira, da coordenação do acampamento.

A paisagem da fazenda é o retrato do abandono. “É só permanecer por alguns minutos nos arredores da estrada que corta a fazenda para flagrar o gado do latifundiário nas margens bebendo água, agravando o assoreamento do rio e o desmatamento no local. Além disso, presenciamos diariamente a pulverização de venenos nessas monoculturas que beiram o rio. Sabemos da gravidade dessas ações, da importância do rio Paraitinga não apenas para a região do Vale do Paraíba e temos muita consciência de que a Agroecologia e o povo organizado vão reverter essa situação de miséria e descaso”, complementou Suelyn da Luz, da direção regional.

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O primeiro mutirão de reflorestamento da mata ciliar foi realizado com mais de 100 unidades de mudas cultivadas pelas próprias famílias ao logo dos meses de acampamento. Entre elas estão o Ipê Amarelo, Ipê Roxo, Pitanga, Ingá e adubação verde. “As famílias garantem a proteção das mudas, para que possam se desenvolver sem serem pisoteadas pelo gado” afirma Lira.

Outra atividade importante tem sido a participação do acampamento na feira livre realizada uma vez por mês, no município de Lagoinha. “Com a venda da nossa produção agroecológica, pequena mais muito diversificada, a comunidade está podendo ver com os próprios olhos e provar no prato o potencial da reforma agrária popular e quem de fato pode trazer desenvolvimento para a região”, finalizou.

Alimentos para toda a dimensão da vida

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O acampamento também tem recebido apoio de diferentes setores, como a presença da juventude universitária da região, interessada em contribuir por meio do estudo e da prática, além de outros movimentos sociais e sindicais. Nos próximos dias, estudantes do curso Técnico em Administração de Cooperativas (TAC), do Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (ITERRA) estão vivenciando a experiência do ‘tempo comunidade’ no acampamento.

Após o mutirão de plantio do último sábado (18), o coletivo feminista LOOA esteve presente nas atividades culturais do acampamento e instalou o varal de poesias “Teia Poética”, que apresenta poemas marginais escritos pelas integrantes do grupo e que tratam de diversos temas, como luta de classes, sexo, feminismo e racismo. O varal foi deixado no acampamento para que os escritos possam ser lidos e discutidos por todas as pessoas que fazem parte e apoiam o movimento. O LOOA é um grupo feminista, independente de outras organizações, criado por mulheres na cidade de Taubaté e que tem por objetivo trabalhar para e com mulheres, em ações práticas e voltadas à teoria feminista, desenvolvidas por meio da cultura e da educação.