Sem Terra se reúnem no 29º encontro estadual em São Paulo

O encontro, que é realizado anualmente, tem como objetivo motivar a formação política da militância e da base, além do fortalecimento da organicidade do Movimento

Por Coletivo de Comunicação MST/SP

2017 chega ao fim como um ano de retrocessos, tentativas de criminalização dos movimentos sociais, perseguições e perdas de direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora. E é justamente por isso que é também um ano que se finda apontando diversos desafios para as organizações que seguem em luta.

É nesse cenário que o MST de São Paulo realiza, de 15 a 17 de dezembro, seu 29º Encontro Estadual, no município de Águas de São Pedro, com a participação de 250 representantes das dez regionais do estado.

O encontro, que é realizado anualmente, tem como objetivo motivar a formação política da militância e da base, além do fortalecimento da organicidade do Movimento.

A manhã do primeiro dia foi dedicada ao estudo do tema “Crise do Capital, luta de classes e posicionamento político do MST”, com a contribuição do professor Daniel Puglia (USP) e de Kelli Mafort, da direção nacional do Movimento.

Puglia apresentou elementos a partir do estudo “A privatização da democracia”, realizado pelo grupo Vigência, acerca da atuação das corporações que cada vez mais concentram o poder no mundo. A pesquisa aborda os 10 principais setores de atuação na economia brasileira, dentre os quais se destacam a indústria alimentícia, meio ambiente, biossegurança, educação, financeiro, imobiliário, mídia.

De acordo com o estudo, o setor alimentício, por exemplo, está cada vez mais concentrado nas mãos de poucos grupos em nível mundial. No Brasil, o setor gira em torno de quatro grupos principais: carne, soja, suco de laranja e varejo. E essa é a base de sustentação da bancada ruralista, que hoje corresponde a 51% do Congresso Nacional. Os dados apontam também, entre outras questões alarmantes, que esse setor apresenta uma alta incidência de trabalho infantil em todas as esferas de atuação, como produção e beneficiamento.

Outra informação apresentada a partir do estudo é a concentração da mídia no país. De acordo com a pesquisa, o Grupo Globo concentra metade do mercado de mídia no Brasil. A receita da empresa é maior do que a dos três outros maiores grupos juntos (Abril, RBS e SBT). O poder concentrado e a determinação do conteúdo – principalmente a partir das TV&”39;s abertas – fazem com que o espaço para a diversidade seja mínimo. De acordo com Puglia, “a concentração de poder da mídia representa o chamado coronelismo eletrônico, sustentando e perpetuando o poder de famílias que também atuam no Congresso Nacional, como os Sarney, Magalhães e Jereissati.

Kelli Mafort iniciou a intervenção lembrando que há um ano entrava em vigor a Emenda Constitucional 95, que ficou conhecida como PEC da Maldade. A medida congelou por 20 anos os investimentos na saúde e educação. Porém, os retrocessos impostos pelo golpe também enfrentam resistência por parte da classe trabalhadora.

Ainda de acordo com Mafort, 2017 foi um ano de muita luta e enfrentamento e esse cenário pode se intensificar em 2018.

“É preciso fazer a disputa na sociedade e ampliar a força política da classe através do trabalho de base, ampliar os processos de formação política e organizar lutas permanentes em aliança com as categorias da classe trabalhadora”, enfatizou.

O encontro segue até o próximo domingo (17) debatendo o Poder Popular, os desafios do MST e as práticas de Reforma Agrária Popular. As delegações presentes no encontro também participarão do ato “O desmonte da educação, ciência e tecnologia no Brasil”, que acontece nesta sexta-feira (15), em Piracicaba.