“Encontro Estadual cumpre papel mobilizador de toda classe”, afirma dirigente do MST

Após atividades de abertura do 30º Encontro Estadual do MST, Lucineia Durães fala dos desafios e perspectivas
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Douglas Mansur

 

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

 

Com mística, animação e unidade contra os desmandos e retrocessos implementados pelo governo do atual presidente da república, Michel Temer (PMDB), cerca de 1,5 mil trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra iniciaram, na manhã da última quarta-feira (10), o 30º Encontro Estadual do MST na Bahia.

Lucineia Durães, ou Liu, como é popularmente conhecida, é dirigente estadual do Movimento e em entrevista para nossa página fala que o evento é uma atividade importante, por conta do caráter popular e mobilizador. Liu acredita que a luta em defesa da Reforma Agrária Popular precisa ser encarada como um debate de toda classe trabalhadora e as atividades do encontro provocam esse tipo de reflexão.

“Buscar a construção da unidade da classe é uma tarefa nossa, assim como dos demais setores onde os trabalhadores se organizam. Temo a tarefa também de reavivar a mística da nossa militância para enfrentar o latifúndio e os desafios que temos em torno da organização dos assentamentos, organização das nossas mulheres, juventude e LGBT”, explica a dirigente.

Até domingo (14), o Encontro terá uma programação cheia de debates, que visam apontar os desafios e perspectivas que o MST possui no estado para 2018. Liu nos adianta que um dos desafios é continuar trabalhando o processo de massificação, tanto para dentro quanto para fora do movimento, assim como, o processo de unidade e luta popular.

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Jonas Santos/Lucineia Durães

 

Confira a entrevista na íntegra:

Os encontros estaduais são atividades realizadas todos os anos pelo MST na Bahia. Quais são os principais objetivos deste evento diante do atual momento político que estamos vivendo?

O Encontro Estadual é um momento que a gente encerra o ano oficialmente, porque é um processo de avaliação de todas as atividades que fizemos durante o ano, nas dez regionais que o MST se organiza na Bahia. É o momento também de socialização dessas atividades, ao mesmo tempo em que a gente faz a avaliação, começamos um novo ano. No encontro a gente traça o planejamento para o ano seguinte e lógico, que pra gente fazer o planejamento é necessário que a gente faça um estudo sobre a conjuntura, para decidirmos então quais são as estratégias que o movimento tem que construir para ir superando os desafios futuros.

Nesse momento especifico, o nosso encontro está cumprindo um papel muito importante para além dessas duas funções, de avaliar e de planejar, nosso encontro cumpre o papel de ser o encontro da classe, o encontro dos movimentos sociais e partidos de esquerda. É o encontro da esquerda baiana e já que estamos juntos construindo um planejamento, vendo quais são os desafios para além da luta pela terra, que é o objetivo central do MST, mas também como podemos contribuir na organização do Projeto Popular.

Na programação temos alguns espaços auto organizados, como Assembleias de mulheres, de homens, da juventude Sem Terra e uma roda de conversa LGBT. O que essas temáticas influenciam do debate mais amplo da Reforma Agrária Popular?

Esses debates influenciam positivamente na Reforma Agrária Popular, pois só é possível construir com totalidade o movimento se estamos debatendo os sujeitos que constroem a luta. Do ponto de vista interno do MST reconhecer esses espaços como espaços de formação, de construção coletiva do nosso movimento é fundamental, porque nós sabemos como existem dificuldades para as mulheres se empoderarem enquanto sujeitas, então é necessário fazer esse debate para que todos e todas compreendam o seu papel nessa caminhada de superação do machismo e de construção da Reforma Agrária Popular.

Da mesma forma é em relação aos sujeitos LGBT, porque são pessoas que estão na construção do nosso movimento, que precisamos visibilizar e olhá-los enquanto sujeitos de direito para quê, a partir desse respeito às diversidades, possamos construir uma organização que tenha unidade na sua base, um movimento de sujeitos diferentes, mas que respeita essas diferenças para construir unidade interna e propor a unidade da classe.

Que desafios são esperados com o 30º Encontro Estadual do MST na Bahia?

Os desafios do nosso encontro ainda estão sendo construídos, pois vamos apontar isso aqui no planejamento, mas já podemos apontar que a partir dos encontros regionais a luta pela terra continua sendo um grande desafio para o nosso movimento, porque enfrentar o latifúndio, especialmente agora que estamos vendo o quão corrupto é esse latifundiário que enfrentamos na nossa base, é um desafio.

Outra questão importante é fazer com que a nossa educação seja cada dia mais libertadora, que forme cada vez mais sujeitos empoderados, que compreendam o papel que exercem em nosso movimento e em nossa sociedade, ou seja, usar nossas escolas como espaço de liberdade, como espaço de formação. É também um desafio para nosso movimento enxergar as diferenças entre as pessoas, entre a nossa base e propor, a partir dessas diferenças, atividades que fortaleçam a nossa unidade.

Por fim, temos que continuar trabalhando o processo de massificação, tanto para dentro quanto para fora de nossa organização, assim como trabalhar o processo de unidade da classe trabalhadora, nos colocando a disposição das outras organizações para somar nas lutas e nos debates. São desafios que estão apontados para 2018.

Seria possível fazer um diagnóstico das principais tarefas que o MST possui para o próximo
período na Bahia?

Assim como já apontamos nos desafios, a defesa da democracia é uma das principais tarefas para 2018. Buscar a construção da unidade da classe, mas também reavivar a mística da nossa militância para enfrentar o latifúndio, para enfrentar os desafios que temos, em torno da organização dos assentamentos, organização das nossas mulheres, organizar nossos setores, pensar a produção como um espaço de diálogo entre a sociedade urbana e o campo.