Livro sobre diversidade sexual e gênero no Brasil é lançado em SP

O lançamento aconteceu na editora Expressão Popular e contou com a participação de militantes e convidados

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Por Wesley Lima
Da Página do MST 

“As gays, as Bi, as Trans e as Sapatão estão tudo organizadas pra fazer revolução!”. Esse foi o grito de ordem que deu início ao lançamento do livro “Hasteemos a Bandeira Colorida: Diversidade Sexual e de Gênero no Brasil”, na noite desta segunda-feira (29), Dia da Visibilidade Trans, na sede da Expressão Popular, em São Paulo. 

Organizado por Leonardo Nogueira, Erivan Hilário, Thaíz Paz e Kátia Amarro, ambos militantes de organizações sociais e pesquisadores LGBT, o livro fala de liberdade sexual, patriarcado, heterossexismo, relações étnicos raciais, de gênero e de luta de classes. 

Ao reunir artigos e publicações diversas, a publicação é uma construção de 19 autores e conta com a contribuições de muitos parceiros e amigos de movimentos, organizações populares, grupos de estudos e professores universitário. 

O livro está divido em três partes. Na primeira traz o debate dos fundamentos sócio-históricos da sexualidade na sociedade capitalista; depois fala das vivências LGBT na realidade brasileira; e por fim, aborda as experiências de resistência na perspectiva da luta de classes.

Cheio de reflexões, que não deixam de lado o debate político e as práticas populares de enfrentamento a todo tipo de violência, a publicação destaca, logo nas primeiras páginas, que “engana-se quem secundariza essa pauta e a julga pós-moderna. Ser marxista é buscar entender criticamente esse mundo e transformá-lo, dando sentido humano à existência, libertando nossos desejos e sentimentos”. 

Foi nesse sentido, que Thaíz Paz, ao compor a mesa do lançamento, falou das experiências e acúmulos coletivos que o MST tem construído com os debates mais estruturais que giram em torno da diversidade sexual e de gênero para dentro da organização. “O livro procura sistematizar os principais desafios e as experiências de luta popular que temos realizado no último período. O material é um instrumento importante, principalmente, nesse momento político em que as pautas e os direitos dos trabalhadores estão sendo retirados e, nesse sentido, é de extrema importância debater a auto-organização e os resultados da luta para construção um projeto de Reforma Agrária Popular colorido”, explicou.

Para ela algumas afirmações são fundamentais para o MST e toda esquerda brasileira, no intuito de pensar a articulação das temáticas abordadas com os processos organizativos dos movimentos e organizações sociais.

Primeiro, não deve existir contradição entre a militância e a vivência da sexualidade, ou seja, a mesma não está desassociada dos processos políticos vividos dentro das lutas; é preciso também vincular o debate da diversidade sexual ao projeto de Reforma Agrária defendido pelo MST e comenta que as experiências da organização já apontam para isso. 

Outro fator destacado foi que a liberdade sexual e de gênero precisa ser construída desde já e os caminhos trilhados pelo MST tem apontado a luta direta, assim como, a denúncia e a conquista de políticas públicas que garantem inclusão, visibilidade e a construção da dignidade enquanto sujeitos políticos. 

Um último elemento dessa reflexão é a necessidade permanente de debater o caráter das lutas, tendo como base o enfrentamento ao patriarcado e toda forma de dominação e exploração do capital.

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Um dia luta contra transforbia

Não foi por acaso que o Dia da Visibilidade Trans foi escolhido para o lançamento do livro. A data marca uma das primeiras iniciativas públicas contra a transfobia, assim como, a visibilidade de diversas pautas defendidas pelos sujeitos no campo do trabalho, das políticas de saúde, contra a violência, pelo reconhecimento da própria existência e pela vida.

Daniel Gimenes, jovem trans e um dos autores do livro, acredita que a luta pela igualdade de gênero nos movimentos sociais é fundamental para desenvolver uma consciência crítica e avançar no enfrentamento a transfobia. “A esperança emerge na luta coletiva e não podemos fechar os olhos diante da precarização do trabalho e o histórico processo de marginalização nas diversas esferas de organização social”, afirmou. 

“O nosso papel é lutar cada vez mais pelos direitos das pessoas trans. Quando penso em visibilidade lembro da minha infância e a dificuldade que tive em me enxergar como eu era. Foi o movimento social que me ajudou na construção dessa identidade que é de luta”, destacou Gimenes.  

Ainda nesse contexto de enfrentamento as opressões e estruturas de exploração do capital, Regina Facchini, doutora em ciências sociais e também autora, disse que o livro é uma ferramenta de luta para formação da base social dos movimentos e organizações populares. “É importante a gente cuidar da gente e continuar formando os nossos […] essa publicação faz um debate importante que alinha o conhecimento teórico com a prática, ou seja, é um aprendizado coletivo”, pontuou Facchini.

A partir dessa discussão Facchine acredita que o livro possui um papel importante na construção de um amplo processo de formação e das lutas contra a violência e por direitos, de maneira direta e que apresente um horizonte revolucionário. 

Outros lançamentos

Após o lançamento em São Paulo, o livro será distribuído aos representantes da Editora Expressão Popular em diversos estados do país e nos próximos dias já haverá uma agenda de lançamentos.

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