Na Bahia, visita técnica debate a construção de 19 agroindústrias do MST

As agroindústrias pretendem atuar com a produção da mandioca, leite, frutas, chocolate e mel
Visita técnica no Assentamento Che Guevara, no Baixo Sul da Bahia..jpg
Reunião com assentados_as da Chapada Diamantina

 

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

Produção regional, agroecologia, organização produtiva, comercialização e Reforma Agrária Popular. Esses foram alguns dos temas discutidos em sete regiões da Bahia desde o dia 19 de fevereiro, quando uma equipe de técnicos, junto com o setor de produção do MST, percorreu diversos assentamentos do estado.

Com o objetivo de debater a construção de 19 agroindústrias em assentamentos, as reuniões apontaram os desafios técnicos e debateram o processo de gestão. Paralelo a isso, a equipe realizou o levantamento das iniciativas já existentes no campo da cooperação e industrialização da produção, sem perder de vista, a organização das associações das áreas do MST.

Em toda Bahia, as agroindústrias pretendem atuar com cinco culturas produtivas presentes nas áreas, sendo elas: mandioca, leite, frutas, chocolate e mel. Para Felipe Campelo, do setor de produção do MST, o processo de industrialização da produção dos agricultores Sem Terra só fortalece o debate mais amplo da Reforma Agrária Popular. “Nossos assentamentos além de ser um espaço de produção de alimentos saudáveis, precisam ser um espaço de industrialização dos produtos”, afirma.

Nesse sentido, ele pontua que as agroindústrias contribuirão para agregar valor aos produtos, mas também serão espaços importantes para divulgar a marca Sem Terra. “É necessário identificar os nossos alimentos, pois as pessoas, quando virem o nosso símbolo, terão certeza que o produto que está sendo comprado vem de um processo de luta e é livre de venenos”.

Produção de pimentão no Acampamento Abril Vermelho, no Norte da Bahia..jpg
Produção de pimentão no Acampamento Abril Vermelho, no Norte da Bahia

Além disso, Felipe explica que a produção estará livre dos atravessadores. “Em geral temos conseguido produzir matéria-prima de qualidade, mas em sua grande maioria são entregues para os atravessadores. Esse processo diminui o valor do produto, perde a identidade da luta e fortalece o capital”, e continua, “se a gente constrói as agroindústrias começamos a dominar uma parte da cadeia produtiva, que é o processo de industrialização, e avançamos na construção de nossa soberania alimentar, política e humana”.

Domingas Farias, da direção estadual do MST, milita na região da Chapada Diamantina e acredita que um dos maiores problemas que serão superados com a chegada das agroindústrias será o escoamento da produção.

“Nossos assentamentos aqui da Chapada Diamantina têm muita produção de fruticultura e produzimos poupas, mas não vão para o supermercado, porque o nosso produto é desvalorizado. O dono acaba do estabelecimento acaba comercializando de empresas que vivem do monocultivo”, conta.

Farias pontua também que esse processo de agroindustrialização camponesa é acompanhado de formação, o que garante a qualificação da produção e gera renda às famílias, “pois, em vez de pagarmos para alguém fazer nossa polpa, vamos produzir a nossa. Isso é emancipação”, destaca Farias.

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Produção de banana no Acampamento Abril Vermelho, em Juazeiro, região Norte da BA

Próximos passos

O debate tem aproximado as famílias dos assentamentos e envolvido todos os sujeitos da luta, como a juventude e as mulheres. Os próximos passos para implementação dos projetos agroindustriais estão no campo da organização das associações e no fortalecimento da produção agrícola já existente nos assentamentos do MST.

André Maia, agrônomo e assentado de Reforma Agrária, mora no Norte da Bahia e para ele as agroindústrias vão potencializar o processo produtivo ao fortalecer a organicidade das famílias. “Nas regiões, onde o período de estiagem é longo, temos muita dificuldade de avançar no crescimento da produção pela falta d’água”, pontua.

Segundo Maia, esse processo só fortalece as lutas nas áreas de perímetros irrigados, onde o MST tem produzido uma diversidade de alimentos, e ajuda na qualificação dos abastecimentos de produtos da Reforma Agrária na região, contribuindo diretamente na construção de uma organização política dos alimentos dos assentamentos e acampamentos.