Março em nós. Sempre!

Crescemos somente na ousadia.

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Por Setor de Gênero
Da Página do MST

 

Um golpe será sempre mais sentido nas mulheres, lgbts, jovens, nos negros e nas negras, pois os graves retrocessos dos direitos conquistados, se encontram de forma explosiva, com os pilares que vem sustentando historicamente as sociedades de classes: a divisão sexual do trabalho, o racismo, a lgbtfobia e a exploração do trabalho.

A nossa classe não é um bloco homogêneo, ela é movimento e força viva dos diferentes sujeitos sociais em luta antagônica com as forças do capital.

No caso das mulheres Sem Terra, o que nos move é a luta por Reforma Agrária, pelo feminismo e por transformações profundas na sociedade. Nos movemos contra a naturalização da violência, o feminicidio, o estupro praticado e exibido como troféu. Nos movemos contra a superexploraçao do trabalho das mulheres e pela sobrecarga do trabalho doméstico, invisibilizado. Nos movemos pelo direito à terra, à água, à alimentação e nossa biodiversidade.

Nesse março nos movimentamos rompendo as correntes que nos prendem há muito tempo, mas com uma força extraordinária, vinda de nossa total indignação com as consequências do golpe na vida das mulheres: 40 mil mulheres deixaram de acessar o PAA; a Emenda Constitucional 95 congelou os investimentos sociais por 20 anos e o pouco orçamento para a Reforma Agrária, desapareceu. Em 2017, zero famílias foram assentadas; a reforma trabalhista intensificou a precarização do trabalho no campo junto com a terceirizacao generalizada onde as mulheres são a maioria; a reforma da previdência quer retirar o direito de segurado especial aos rurais e no regime de contribuição proposto, as mulheres tendem à ficar de fora e desprotegidas.

Na luta por quebrar as correntes, nos movimentamos na direção dos principais alvos do capital, da dominação e do golpe. Denunciamos para a sociedade as cercas da água impostas pela Suzano na Bahia com sua desertificação causada pelos monocultivos de eucalipto. A apropriação privada da água em todo país e a privatização do aquífero Guarani por grandes corporações reunidas em Brasília no Fórum Mundial das Águas, como a Nestlé e a Coca Cola.

Gritamos pela água como direito humano, em São Lourenço/MG e no FAMA. Ocupamos com 2 mil mulheres a sede da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) em Paulo Afonso/BA. E em Sergipe, ocupamos a Usina Xingó, pressionando a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e Incra.

Na região amazônica, ocupamos a estrada de acesso à fábrica da Suzano Papel e Celulose para denunciar o processo de privatização, expropriação e utilização exploratória das águas.

Quebramos correntes nos Institutos Federais de Colonização e Reforma Agrária (Incras), nas sedes da Conab, nas assembleias legislativas e em tribunais de justiça, gritando contra o bloqueio da Reforma Agrária.

No quartel general do golpe – o sistema Globo -, as mulheres pisaram ligeiro e as correntes quebradas ali, correram o mundo. Por mais de quatro horas, a hashtag “8McontraGlobo se manteve entre os assuntos mais comentados da rede social Twitter, com adesão de mais de 5 mil postagens.

No Rio Grande do Norte, foi ocupada a fábrica do Grupo Guararapes, ligado à Riachuelo, empresa apoiadora do golpe.

O covil de Temer e seu amigo, o coronel Lima, em Duartina/SP,  foi mais uma vez ocupado pelas famílias Sem Terra que gritaram: “Reforma Agrária nas terras dos corruptos!” Mesmo grito ecoou no MT, na fazenda Entre Rios, uma das maiores sonegadoras de impostos da região.

Marchas massivas nas cidades junto com outras organizações de trabalhadoras, inundaram as ruas com nossa indignação, força e o colorido das chitas, do lilás e do vermelho, simbologias que demonstram nosso lado na luta de classes.

Em meio às lutas fomos atingidas por 9 tiros disparados contra Marielle Franco, veradora do RJ, mulher de periferia, negra, lésbica e socialista, apoiadora histórica do MST e da luta por Reforma Agrária. A dor se transbordou em indignação, por ela, e por todas as mulheres tombadas na luta. Nas nossas vozes, lágrimas e fúria, estavam também irmã Doroty Stang, Nicinha do MAB, Dorcelina Folador, Roseli Nunes e tantas outras que nunca vamos esquecer.

Nesse março, fomos 15 mil mulheres Sem Terra em movimento, quebrando as correntes com a força de Rosa Luxemburgo.

Somos força viva de Dandara, chama que nos incendeia a lutar e a nos lançar nas batalhas.

Pra nós o março segue! Estamos à postos e seguimos despertas! “Quem não se movimenta, não sente as correntes que as prendem!”

 

 

*Editado por Rafael Soriano