Filme que mostra a transformação de terra degradada em agrofloresta é lançado no Paraná

“Não podemos ficar falando para nós mesmos. Temos que abrir nossas experiências para o mundo”, enfatiza o diretor do filme
41672832_2141015299488399_1926601782138503168_n.jpg
Mesa de lançamento do documentário “Agrofloresta é mais”. Foto: Luciana Santos

 

Por Ednubia Ghisi
Da Página do MST

Em meio à Mata Atlântica do litoral paranaense, uma área degrada pela produção extensiva de búfalos se transformou em uma experiência premiada por recuperar o meio ambiente com a produção agroflorestal. Em 30 minutos, o documentário “Agrofloresta é mais” conta esta metamorfose protagonizada por 24 famílias integrantes do acampamento José Lutzenberg, localizado no município de Antonina.

O filme foi lançado oficialmente nesta quinta-feira (13), em Curitiba, no Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR) – um dos realizadores do documentário-, feito em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Associação Paranaense das Vítimas Expostas ao Amianto e aos Agrotóxicos (APREAA).

Na plateia, trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra assistiram à sua própria experiência ser projetada na tela. Jonas Souza, da coordenação do Acampamento José Lutzenberg, relata que a área foi ocupada em 2004, e desde então é cultivada para a recuperação da mata nativa e produção de alimentos para consumo e comercialização. “Hoje nós estamos em um processo que já dá autonomia para os camponeses, de produzir para se alimentar de forma saudável e ainda fornecer este alimento para a sociedade”, relata.

Atualmente, as famílias acampadas estão sob ameaça de despejo. O documentário integra a campanha “Agrofloresta é a nossa casa”, organizada por dezenas de entidades contrárias à retirada das famílias do território.

41739426_2141016429488286_8187178668087312384_n.jpg
Vários Sem Terra participam da plenária de
lançamento do filme. Foto: Luciana Santos

O professor da UFRJ e diretor do filme, Beto Novaes, enfatizou a necessidade de utilizar o documentário como instrumento de divulgação do projeto agroflorestal bem-sucedido. “Nós não podemos ficar falando para os mesmos parceiros, nós temos que abrir para o mundo”, enfatiza o diretor.

Para romper as fronteiras brasileiras, o material foi traduzido para o espanhol, o inglês e o francês, e está sendo distribuído para diversas organizações nacionais e internacionais.

Um grupo de trabalho nacional do Ministério Público sobre agrotóxicos acompanha a experiência da área como um exemplo a ser seguido: “Temos apoiado e incentivado a permanência das famílias naquele espaço por considerar uma iniciativa exitosa no que diz respeito à produção agroecológica, que é mais do que orgânica e principalmente, pela preservação da floresta”, relata Margaret Matos Carvalho, procuradora regional do trabalho, que acompanha de perto o desenvolvimento da área.

A procuradora reforça a importância da permanência das famílias na área e da difusão das metodologias de trabalho e de produção utilizadas: “Hoje, quando a gente fala de futuro a ideia é sempre negativa. Mas nós temos esperança, e queremos que essas esperança se concretize através desses exemplos. Espero que as famílias que hoje ocupam aquele espaço, que elas permaneçam naquele lugar, porque preservar e trazer de volta uma floresta demanda muito tempo e eles já conseguiram isso, e ainda tem muita coisa precisa ser feita. Não podemos perder aquilo que já foi construído e queremos mais, porque agrofloresta é mais”, conclui.

41695142_2141016556154940_1988604527024013312_n.jpg
Margaret Matos, procuradora regional do trabalho.
Foto: Luciana Santos

Saint-Claire Honorato Santos, procurador de justiça do Ministério Público do Paraná, conheceu a área antes da ocupação pelas famílias Sem Terra. “Conhecida a área quando era uma fazenda de búfalos e ver hoje aquele local recuperado, regenerado; ver que essas famílias estão trabalhando naquela terra; e conseguindo mostrar que é possível produzir, permanecer e viver harmoniosamente naquele espaço, me deixa muito contente”. 

Para o procurador, a experiência “mostra a todos nós que podemos recuperar o meio ambiente com qualidade e ter também o respeito a todas essas famílias que lá se encontram”.

Agroindústria

Uma agroindústria para beneficiamento dos alimentos será o próximo passo para o desenvolvimento da produção agroflorestal. O projeto está sendo desenvolvido em parceria com a Associação Paranaense das Vítimas Expostas ao Amianto e aos Agrotóxicos (APREAA) e o Ministério Público do Trabalho.

A estrutura terá 219 metros quadrados, com atendimento dos critérios de Vigilância Sanitária. Será feito também o reaproveitamento de energia fotovoltaica e de água. “Nós vamos ter uma agroindústria e vamos produzir a nossa própria energia para tocar a unidade. Vai ser tornar uma referência”, garante Jonas Souza.

Prêmio

Em 2017, o acampamento ganhou o prêmio “Juliana Santilli” do Instituto Socioambiental (ISA) de conservação e ampliação da agrobiodiversidade.

O filme também será lançado na Vigília Lula Livre, em Curitiba, nesta sexta-feira (14), às 19h30. 

Confira o trailer:

Ficha Técnica do Filme “Agrofloresta é mais”
Direção e Roteiro: Beto Novaes
Argumento: Jonas Aparecido de Souza 
Edição e Finalização: Gislaine Lima
Câmeras: Fernando Mamari e Deborah S. R. de Rezende
Trilha Sonora e Finalização de áudio: Bernardo Gebara

*Editado por Wesley Lima