Escola Latino Americana de Agroecologia forma militantes educadores da Reforma Agrária Popular

O avanço no processo formativo dos IALAs como a ELAA tem sido fundamental para institucionalizar os princípios da Educação do Campo, a partir da agroecologia

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Por Solange Engelmann
Para Página do MST

Ao se ampliar a conscientização dos trabalhadores de assentamentos de Reforma Agrária e das comunidades do campo sobre seus direitos e a necessidade de repensar a forma de trabalhar a terra, se relacionar com a natureza a produzir alimentos, essas populações passam a construir alternativas na área da educação, formação e do ensino, voltadas para atender as suas necessidades no meio rural.

Durante a experiência do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS), a Via Campesina cria, em 2005 os Institutos Latino Americanos de Agroecologia (IALAs), em pareceria com os governos locais, nos cinco continentes em que atua.

Os IALAs trabalham com a formação dos camponeses e de seus filhos, a partir do método da Pedagogia Popular da Alternância, que se volta na construção de alternativas para a busca da soberania alimentar nos territórios camponeses. Inseridos nesse contexto, atualmente 45 educandos da Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), que integram movimentos da Via Campesina, como o MST, Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), estão cursando a quarta turma de Agroecologia.

A escola está localizada no Assentamento Contestado, município da Lapa (PR) e o curso funciona em parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR). A ELAA conta ainda com 20 educandos da primeira turma de Licenciatura em Educação do Campo, com ênfase em agroecologia e parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR/setor litoral). A previsão é que as duas turmas se formem no próximo ano.

Conforme a coordenadora da ELAA, Daiane Silva Oliveira, a proposta é formar militantes educadores da Reforma Agrária Popular para a construção de um novo sistema de agricultura da classe trabalhadora no campo. “ELAA se coloca como uma ferramenta para as camponesas e camponeses dos movimentos sociais da América Latina, forjando militantes técnicos, pedagogos e educadores em agroecologia para atuarem nas nossas áreas de assentamento e acampamentos de Reforma Agraria”, explica.

A experiência da ELAA se insere no contexto na luta pela Reforma Agraria Popular, a partir das dimensões da conquista do território e da organização da produção, a cooperação, educação, saúde e na construção de tecnologias alternativas ao modelo de agricultura excludente e capitalista do agronegócio.

O avanço no processo formativo dos IALAs como a ELAA tem sido fundamental para a institucionalização dos princípios da Educação do Campo, a partir da Agroecologia. Exigindo a incorporação de questões específicas ao campo a partir das necessidades das comunidades camponesas, nos aspectos educativos e formativos.

O processo formativo dos educandos da ELAA é organizado com base nos princípios da Educação Popular do Campo, que se divide em tempo escola – com a vivência dos aprendizados teóricos entre as turmas. E o tempo comunidade – em que os educandos vivenciam nas comunidades a aplicação práticas dos ensinamentos
obtidos no tempo escola.

Experiências nos territórios

A partir da proposta dos IALAs, de além da formação agroecológica também capacitar os sujeitos do campo como sujeitos políticos, com conhecimento em várias áreas e comprometidos com um novo projeto de sociedade, os educandos da ELAA desenvolvem durante todo o curso a disciplina “Diálogo de Saberes no Encontro de
Culturas”, que engloba períodos do tempo escola e tempo comunidade.

A coordenadora, Daiane conta que a experiência pode ser definida como um método de trabalho de base, quanto como uma modalidade de pesquisa ação que envolve a educação popular e as comunidades rurais. Na disciplina os educandos reúnem os estudos teóricos para, em seguida, utilizar esses conhecimentos na atuação prática junto aos agroecossistemas de suas regiões de origem durante o período do tempo comunidade. O trabalho é orientado e avaliador por um educador e sistematizado em cada etapa.

Para Daiane, o diálogo de saberes entre camponeses/as, educando/as, educadores/as, volta-se para a superação da relação entre teoria e prática e valoriza os conhecimentos de todas e todos os sujeitos sociais envolvidos na construção da agroecologia e da transformação social. “Este é um trabalho de ensinamento mutuo tanto para o camponês que se vê neste processo, também como um educador. Quanto para o educando que se forma na práxis, possibilitando a troca de experiências”, defende.

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Histórico ELAA

No período entre 2005 e 2013 a ELAA formou três turmas de graduação de Tecnologia em Agroecologia, somando 120 educandos e educandas graduados. A ELAA é uma estratégia dos movimentos sociais da CLOC Via Campesina que atua na construção de um projeto de agricultura agroecológico e alternativo ao modelo do agronegócio.

“Para nós é uma conquista na ruptura da ‘cerca do latifúndio do conhecimento’ em ciências agrárias, por ser a primeira escola de graduação em agroecologia no país, somando-se a rede de escolas técnicas de nível médio em agroecologia”, orgulha-se Daiane.

A ELAA foi inaugurada em agosto de 2005, a partir de uma parceria entre a Via Campesina Brasil, governo da Venezuela, do Paraná e da UFPR. Implantando o primeiro curso de graduação em agroecologia do Brasil, o curso de Tecnologia em Agroecologia.