Assentamento do RS recebem estudantes universitários para o EIV

A proposta desse estágio é proporcionar aos estudantes universitários contato direto com assentados e agricultores familiares organizados, para vivenciar na prática seus problemas, suas formas de organização e os desafios
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Estágiarios do EIV nos assentamento em Jóia

 

Por Maiara Rauber
Da Página do MST

Assentamentos da Reforma Agrária do Rio Grande do Sul recebem estudantes universitários para exercerem experiências extracurriculares. Os Estágios Internacionais de Vivência (EIV), serão realizados durante fevereiro, em Nova Santa Rita, região Metropolitana de Porto Alegre, e em Jóia, no Noroeste do estado.  

Desde 1980, o EIV realiza atividades voltadas para a difícil realidade social brasileira, a partir de experiências acumuladas pela Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB). A proposta desse estágio é proporcionar aos estudantes universitários contato direto com assentados e agricultores familiares organizados, para vivenciar na prática seus problemas, suas formas de organização e os desafios por eles enfrentados. A UNESCO premiou a FEAB por considerar as experiências promovidas aos estudantes uma iniciativa de destaque da juventude latino-americana. Com o objetivo de proporcionar a práxis social aos universitários atualmente o EIV busca envolver as regiões de abrangência dos mesmos. 

A proposta das atividades se diferenciam dos projetos formais de extensão universitário. Caracterizam-se principalmente por dois princípios básicos. A interdisciplinaridade, a qual tem como intuito incentivar a participação de diversos cursos – Agronomia, Engenharia Florestal, Civil e Elétrica, Comunicação Social, Ciências Sociais, Enfermagem, Medicina, Pedagogia, Gestão Ambiental, Técnico em Eletrotécnica, Serviço Social, Teatro, Geografia, Veterinária, Educação do Campo, Administração Pública, Economia e Ciências Política -, para que se possa abranger a realidade sob diversos enfoques, de acordo com as respectivas áreas do conhecimento; e interação nos espaços de discussão, os quais possuem fases de preparação e avaliação, com o enfoque para a construção do conhecimento, que é conjuntamente construído a partir das diferentes realidades vivenciadas durante o EIV.

Em síntese a programação do EIV é dividida em três etapas, a preparação, com diversos espaços como: A História do MST e a Mística, Oficinas de Agitação e Propaganda, Curso Como Funciona a Sociedade, Palestras entre outras discussões. A segunda etapa é a vivência em si, onde os participantes se deslocam aos assentamentos de famílias agricultoras da região da Reforma Agrária e outras comunidades rurais. A terceira e ultima etapa, é a de avaliação, onde os estagiários debatem suas experiência. 

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Atividade envolvendo estudantes do EIV em Jóia

Mobilização estudantil no assentamento Ceres

 

Durante o período de vivência, os organizadores do EIV buscam dispersar os estudantes nos diversos assentamentos, nas diversas regiões, para obter uma maior diversidade de relatos. No município de Jóia, o assentamento Ceres, é um dos locais que recebe os estagiários, de diferentes universidades nos mais variados cursos.

De acordo com Lucas Reinehr, integrante da Comissão Político-Pedagógica do XVI Estágio Interdisciplinar de Vivência, este ano participam 33 estagiários. Sendo 23 estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) – Campus Sede, Frederico Westphalen e Palmeira das Missões -, dois estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cinco de universidades argentinas, um da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), um da A Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) e um da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

Para Lucas, manter o EIV, apesar da insistência em criminalizar os movimentos sociais, é uma forma da categoria estudantil estar mobilizada e comprometida com a realidade e a luta dos movimentos sociais. “Apesar das dificuldades financeiras e do pouco incentivo aos projetos de extensão que dialoguem com as necessidades do povo, o XVI EIV está sendo construído para mostrar que haverá resistência e que há uma parcela de estudantes que entendem a universidade não apenas como um espaço restrito e elitizado, mas como um local que deve ser utilizado como ferramenta de transformação da sociedade, sobretudo para aqueles e aquelas que são historicamente injustiçados” enfatiza estudante. 

Outro ponto destacado por Lucas foi a oportunidade que o EIV trás para os estudantes através das vivências. “Possibilita que estudantes de diferentes lugares possam conhecer de perto a realidade das famílias assentadas, da produção de alimentos e também que conheçam mais a fundo a pauta da Reforma Agrária. É uma excelente chance de aprendizado, troca de conhecimentos e de se apropriar de uma formação acadêmica socialmente voltada” conclui.

Já os Sem Terra, de acordo com Adílio Perin, ao acolherem os estagiários, buscam proporcionar as diversas atividades que envolvem a terra. “Muitos assentados ficam felizes em contar para esses estudantes como era o começo no assentamento, sobre a organização e as dificuldades” relata. Para o assentado, escutar os participantes do EIV é fundamental. “É uma juventude que está disposta a vir conhecer um assentamento e que quer continuar lutando por uma nova sociedade” destaca.   

Angelita Silva dos Santos Perin, também é uma das assentadas que recebe os estagiários em seu lote, e se disponibiliza para proporcionar uma experiência fora da realidade para tais. “É uma oportunidade que da visibilidade daquilo que é a vida no campo, em especial nos áreas de assentamento” afirma Angelita. Para a assentada os estudantes passam a ter uma visão diferente do que a grande mídia divulga sobre os Sem Terra. “Dessa forma esses jovens acabam também se percebendo como sujeitos que podem lutar por aquilo que eles acreditam”, declara.

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Estagiária na participação do plantio de hortas

Troca de experiências em assentamentos de Nova Santa Rita

Na região Metropolitana de Porto Alegre, em Nova Santa Rita, três assentamentos recebem, em fevereiro, 27 estudantes para o EIV. Sendo 22 deles do RS. São estudantes de diversos cursos da UFRGS e também da Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC),  três vindos do Uruguai, da Universidad de La República Urugay (UDELAR), um da Bahia, do Instituto Federal da Bahia (IFBA) e um do Pará, da Universidade Federal do Pará (UFPA).

As instituições responsáveis pela organização do estágio, Comissão Político Pedagógico, são: (FEAB), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), (LEVANTE) e o diretório acadêmico  da faculdade de agronomia da UFRGS. “Em nossa opinião o EIV tem como um dos principais objetivos o combate a criminalização dos movimentos sociais que vem ocorrendo de forma massiva nos últimos anos. Além disso, o EIV vem a contribuir de forma enriquecedora na formação pessoal e profissional de cada participante” relata Maiz Dias, integrante da comissão. 

 

A atividade permite, segundo o assentado Sérgio Reis Marques, uma troca de informações com um grupo de pessoas que tem uma noção mínima ou quase nada do MST. “O intercâmbio permite uma relação direta com as famílias vendo as contradições e também as potencialidades dos assentamentos” assinala. Jora Lima, assentada que recebe estagiários em seu lote, destaca que esse estágio permite que os estudantes conheçam a realidade da vida do homem e da mulher do campo. Para a assentada esse espaço se mostra importante também para divulgar que a Reforma Agrária funciona.

 

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Estagiário Felipe, auxiliando na feira da Reforma Agrária em Nova Santa Rita