Brasil chegou a vez, de ouvir as Marias, Mahins, Marielles e Malês

Luana Carvalho, do Coletivo de Educação MST/RJ, fala sobre as lutas das mulheres refletidas no enredo da Estação Primeira da Mangueira

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Por Luana Carvalho*  
Da Página do MST

 

 

É com garra, determinação e ousadia que mulheres dos mais diferentes lugares e espaços vêm ganhando as avenidas e passarelas da vida. A cada dia que passa elas entoam mais seus gritos de liberdade e indignação com uma sociedade que, sob as bases alicerçadas do patriarcado, impõe ainda hoje um lugar específico para mulher.

 

A Mangueira cantou e encantou neste carnaval as histórias que a História não conta, onde mulheres, muitas arrancadas da África, são guerreiras, lutam e morrem em busca de uma sociedade mais justa para todos. São narrativas de Dandaras, de Margaridas, de Marias, de Rosas e Roselis que perpetuam ainda hoje nos corações de cada uma que segue e escreve a continuidade destas lutas, desenhando como uma ponta de lápis em um papel riscado, colocando vírgulas e muitos parênteses nesta história que é escrita por alguns e contada para todas nós.

 

Mulheres Sem Terra vêm escrevendo também uma parte importante desta história que tem sangue retido, pisado e escondido atrás de cada herói emoldurado, da maneira como o desfile da Mangueira ilustrou. Com seus lenços e ferramentas, é no 8 de março que suas vozes ecoam através de seus atos, gritos e passos que por onde passam deixam suas mensagens de resistência e rebeldia. São muitas Marielles que renascem como semente.

 

Esta é a semente que plantamos no dia-a-dia de nossas ações, que regamos com nossas lágrimas e muito suor, e germinam, crescem e florescem num piscar de olhos. Com as sementes destas histórias, algumas delas contadas na Sapucaí, é possível iniciar um novo plantio e assim construir um pomar de resistência e rebeldia que pulsa em nossos corações.

 

Mas enredo nenhum daria conta das muitas histórias desde a Aracruz até a Nestlé, passando pela Globo, pelo laranjal do Temer, pela Vale, pelos latifúndios desse Brasil tão grande, pelas ruas e avenidas das cidades. Por estes lugares as mulheres denunciam a violência de como o capital age sobre suas vidas e agride seus corpos diretamente. Em um mundo onde tudo se transforma em mercadoria, estas mulheres, negras, brancas, mães, trabalhadoras, faveladas, camponesas e indígenas, dentre outras, todos os dias precisam se levantar e lutar para garantir que seus direitos duramente conquistados sejam respeitados. Elas são obrigadas a lembrar e gritar que A LUTA É TODO DIA, SOMOS MULHERES E NÃO MERCADORIA!

 

Muitas já se foram e muitas ainda virão, e por isso é preciso que tenhamos na memória esses versos que os livros têm apagado desde 1.500 de nossa história. Há mulheres das quais sequer ouvimos falar; outras até conhecemos por nomes ou feitos, cuja história soa como algo distante e transcorrido. Mas são muitas Marianas e Brumadinhos que, ao trazer viva e pulsante à memória coletiva, a Mangueira demonstrou que não foram em vão.

 

Marielle teve sua vida ceifada pelas mãos sujas daqueles que fazem com que todos os dias tenhamos força para levantar, erguer a cabeça e lutar. Antes dela, Dandara já havia nos ensinado a usar a luta pela vida como incentivo para seguir em frente. A cada mulher ferida nós também nos ferimos, mas esta dor também é força, que se renova e se transforma em muitos gritos de liberdade e justiça. E eles já sabem que não vão nos calar.

 

Entre Marielles, Reginas, Claudias, Rosineides, Marianas, Tamires, Elaines, seguiremos firmes e convictas do caminho certo que estamos, e nem um passo para trás. Pela vida das Mulheres, somos todas Marielle! Mulheres, na luta é que a gente se encontra!

 

Lutar, Construir Reforma Agrária Popular! 

 

* Luana Carvalho é do Coletivo de Educação – MST/RJ

 

 

 

*Editado por Fernanda Alcântara