“Devemos sempre fomentar esse ideal da luta pela conquista da terra”

Conheça um pouco da jornada de Maria Salete Campigotto, educadora Sem Terra há mais de 36 anos

 

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Maria Salete Campigotto é coordenadora no Instituto Educar, escola técnica do MST em Pontão (RS)
Foto: Arquivo Pessoal

 

Por Maiara Rauber
Da Pagina do MST

 

Maria Salete Campigotto é militante do MST desde o tempo da ditadura, começou sua luta pela terra no Rio Grande do Sul, em 1979. Ainda jovem, participou do acampamento Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta, noroeste do Rio Grande do Sul, a região é um marco da luta pela terra e pela Reforma Agrária.
 

Desde 1985 Maria Salete contribuí como professora no Movimento. Começou como educadora na antiga Fazenda Annoni, ensinando crianças e adultos analfabetos que estavam no acampamento. Também trabalhou durante 12 anos na escola Margarida Alves, no assentamento de Nova Ronda Alta, e contribuiu por um período na escola Sepé Tiaraju, no assentamento Novo Sarandi, na Cooperativa Agrícola Novo Sarandi (Coanol). Em 2005, passou a coordenar o Instituto Educar, escola técnica do MST em Pontão (RS), onde já se formaram dez turmas de técnico de agropecuária e três do curso de Agronomia, todas com ênfase em Agroecologia.
 

Para Salete, o Movimento proporcionou muito mais do que a terra, “[O MST] conferiu conhecimentos, convivências com pessoas, relações com a comunidade e a solidariedade entre países” relata.

A pedagoga conquistou suas especializações dentro do Movimento; a primeira em Educação de Jovens e Adultos (EJA), além da especialização em Educação do Campo, artes e plantas medicinais, com ênfase em Ensino-Aprendizagem.

De seus três filhos, as duas mais novas conseguiram estudar a partir da luta e pela organização do Movimento de Trabalhadores Sem Terra. Enquanto a mais velha está entre os mais de 100 médicos formados pelo Projeto Escuela Latinoamericana de Medicina (ELAM), a mais nova é formada em História pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).
 

Sobre as oportunidades oferecidas pelo movimento, Salete destaca suas viagens por alguns países, como Argentina, Alemanha e Palestina. “A [viagem] que mais marcou foi à Palestina. Conhecer a realidade daquele povo que resiste em um lugar em que tomam-lhe as terras, a água e os oprimem”.
 

Da viagem à Palestina, Salete também ressaltou a experiência que trouxe para o Brasil “São conhecimentos de solidariedade, de construção e de luta. Só quem é militante de um movimento consegue entender o que é construir a solidariedade entre os povos” afirma a pedagoga Salete.
 

Como educadora popular, Salete acredita que a formação dos jovens do campo continua sendo sua prioridade. “Devemos sempre fomentar esse ideal da luta pela conquista da terra e pela formação dos educandos como militantes. Precisamos nos ver como sujeitos que trabalham e constroem a integração entre o ser humano, a terra, a produção e a natureza como um todo”.
 

Para a Sem Terra, é importante entender a necessidade de produzir alimento de qualidade e orgânico. “Nós, educadores, temos que continuar lutando para que o conhecimento cientifico contribua com as práticas tradicionais, considerando a realidade de cada um dos nossos assentamentos”. 

Por fim, Salete reiterou sua perspectiva para o futuro.  “É preciso acreditar que é possível ter uma educação pública, gratuita e de boa qualidade para os acampamentos, assentamentos e para as pessoas do campo brasileiro”, concluiu.

 

*Este perfil é parte das publicações especiais da Jornada Nacional de Lutas das mulheres do MST

Editado por: Fernanda Alcântara