“O governo Bolsonaro ataca a educação porque ela tem o efeito de democratizar a sociedade brasileira”

O coordenador da Rede da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, rebate ataque do governo Bolsonaro à educação

 

Por Maura Silva
Da Página do MST 

 

“Não é por maldade”, disse o presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao tentar justificar os cortes nas verbas do Ministério da Educação (MEC).

Somente nas dotações orçamentárias das universidades federais, os cortes chegam a 52%. O governo escolheu as verbas para o ensino superior como principal alvo de contingenciamento.

Segundo dados do Siop (Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo) para algumas universidades esse corte chega a mais da metade dos cursos. É o caso de nas universidades do Sul da Bahia (54%), Mato Grosso do Sul (52%) e Grande Dourados (49%)

Na mesma toada, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, resolveu usar bombons para explicar o corte nas verbas. 

“A gente está pedindo simplesmente que, 3 chocolatinhos, desses 100 chocolates, 3 chocolatinhos e meio… Deixa eu só cortar aqui, presidente. 3 chocolatinhos e meio. Esses 3 chocolatinhos e meio a gente não está falando para a pessoa que vai cortar. Não está cortado. Deixa para comer depois de setembro. É só isso que a gente tá pedindo. Isso é segurar um pouco”, disse aos jornalistas o ministro que errou a conta. 

Diante da balbúrdia de um desgoverno que além de não priorizar a educação, não prioriza seu jovens e idosos, saúde, soberania, renda e que faz piada com o fato de tirar milhões de jovens das universidades, professores e alunos emergem em luta e mobilizações como o Greve Nacional da Educação marcada para o próximo dia 15.

E, para saber um pouco mais sobre esse cenário, conversamos com o cientista político e coordenador da Rede da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, que rebate o cortes do governo e desvela as reais intenções de Bolsonaro.  

Acompanhe: 

Por que o tantos ataques do governo Bolsonaro à educação? 

O governo Bolsonaro ataca a educação porque ela tem o efeito de democratizar a sociedade brasileira. Esse projeto de educação como instrumento de democratização começa com o Manifesto dos Pioneiros da Educação de 1932, sob a liderança do Anísio Teixeira junto com Paulo Freire dois, que ao lado de Florestan Fernandes, formam a tríade dos maiores educadores da história do Brasil. Ele segue, ainda de forma lenta com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e tem o seu ápice no governo Lula, mais especificamente no segundo mandado quando o ex-presidente decide colocar a educação como centro da política do Planalto Central. 

 

O governo Lula expandia de maneira incomparável as universidades públicas, federais e também os institutos federais de educação técnica e profissional de nível médio. Mantendo essa política de expansão a sociedade brasileira iria mudar radicalmente. Uma nova elite política e econômica seria constituída. Uma elite muito mais comprometida com o desenvolvimento do país e com a justiça social porque eram pessoas que, de fato, vieram de baixo, essas eram as pessoas que iriam tomar conta da República.

 

O Brasil é considerado um dos países mais ignorantes em relação a sua própria realidade. Dentro desse contexto, com os cortes e a falta de investimento podemos dizer que manter o país nessa posição é um projeto desse governo?  

 

E é exatamente isso que o governo Bolsonaro quer. A gota d’água para o ultra-reacionarismo  [que à época ainda não era bolsonarismo] é a aprovação das leis das cotas em 2012. Com a lei de cotas e a expansão da universidades o filho do pedreiro poderia se tornar doutor não como uma exceção, mas como regra. E seria regra em pouco tempo porque nós conseguimos garantir 50% das vagas das universidade e institutos para alunos oriundos de escolas públicas. Eram as cotas sociais articuladas com cotas étnico-raciais. Esse é o elemento de democratização da sociedade que o governo quer frear.

 

Podemos esquecer de que o poder econômico, que tem grande influência dentro do governo, é beneficiado direto dessa situação? 

 

Para Bolsonaro a educação não deve servir para um projeto democratizador, mas sim, ser um instrumento de propaganda da ultradireita, então, quando ele corta recursos em universidades qual é a mensagem? Ele tá dizendo que como a universidade nunca vai aceitar o programa ultra-reacionário que ele representa  [escola sem partido, homeschooling] ele precisa destruir esse centro de criação contrário à sua perspectiva.

Além disso, ele lança mão de um instrumento econômico fortíssimo de destruição da sociedade que é o ultraliberalismo representado por Paulo Guedes. 

Dentro dessa perspectiva é necessário acabar com o Estado Brasileiro porque o próprio estado a partir da Constituição e 88 determina um projeto democratizador e isso Bolsonaro também não aceita. Ou seja, seu governo representa de maneira muita clara, uma agenda ultra-reacionária, que quer fazer com que o Brasil ande para trás, mas muito além de 1988, muito além do período de luta contra a ditadura. O governo Bolsonaro que fazer com que nós andemos para trás até a época da República Velha em que o Brasil era um país recém liberto da escravidão. Sem ter dado condições de vida para população que conquistou essa liberdade, o Brasil virou uma potencia agrária injusta e baseada em relações de compadrio e patriarcado.

 

E qual a importância e o papel das mobilizações do próximo dia 15 nesse cenário? 

 

No dia 15 de maio a gente tem que se mobilizar, porque além de discutirmos educação estamos discutindo e lutando para saber qual vai ser a característica, qual a cara, qual o rosto que a gente quer dar para o Brasil. O dia 15 de maio é um grande dia de mobilizações. É dia de defender a educação como caminho para justiça social no Brasil.