Sob ameaça de despejo, famílias assentadas em Macaé (RJ) resistem e inauguram casa de farinha

Luana Carvalho, do MST, afirma que a casa de farinha é mais um instrumento de resistência ao despejo

 

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A Casa de Farinha ajudará no transporte e no aumento da durabilidade das safras de aipim e mandioca produzidos no assentamento. Foto: Divulgação MST

Por Coletivo de Comunicação do MST no RJ*
Da Página do MST

 

Há cinco anos, após muitas lutas, 63 famílias conquistaram a terra e construíram o assentamento Projeto de Desenvolvimento Sustentável Osvaldo de Oliveira, conhecido como PDS Osvaldo de Oliveira, localizado no município de Macaé, no interior do Rio de Janeiro. 
 

Para rememorar esse processo, no último dia 7 de setembro, as famílias comemoraram a trajetória histórica da comunidade desde o acampamento, e  inauguraram uma casa de farinha, que já está sendo utilizada coletivamente na produção de diversos alimentos saudáveis que possuem como matéria-prima o aipim e a mandioca.
 

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Projeto foi financiado com recursos de
incentivo à econologia social da (CNPq).
Foto: Divulgação MST

Com um sorriso no rosto, a assentada Gildete Rocha Sales diz que a chegada da casa de farinha vai proporcionar a produção de tapiocas coloridas, além da própria farinha “bem torradinha”. 
 

Vale destacar que as tapiocas coloridas, com corante natural de beterraba, e a tradicional, com leite condensado e coco, foram as atrações da inauguração.

Já o filho de assentados e integrante do Coletivo de Comunicação do MST no estado do Rio, Fábio Virgílio, disse que a casa de farinha é um projeto o qual gostou de acompanhar desde o começo.
 

O projeto
 

A construção da Casa de Farinha partiu da necessidade de facilitar o transporte e aumentar a durabilidade das safras de aipim e mandioca produzidos no assentamento. 

Ela funciona com um triturador movido a bicicleta, uma prensa e um forno para a torra. O projeto foi financiado com recursos de incentivo à tecnologia social do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e executado em parceria com estudantes do curso de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) de Macaé. 
 

“Na UFRJ temos um projeto de desenvolvimento de tecnologia nos princípios da tecnologia social que gera ensino e pesquisa, além de democratizar os meios de produção”, explica Camila Laricchia, professora de engenharia e responsável pelo projeto da casa de farinha. 
 

Ela afirma também que o projeto é extremamente relevante e que a parceria é fundamental, “não só para as famílias envolvidas no trabalho, mas para a construção do conhecimento, de forma popular e emancipadora”.
 

Despejo não! PDS resiste!
 

Além da inauguração da casa de farinha, as famílias realizaram um Ato Político em defesa do assentamento PDS Osvaldo de Oliveira, que hoje se encontra ameaçado de despejo por conta de um processo de reintegração de posse determinado pelo Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro (TRF-RJ), em agosto deste ano. 
 

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Produção de farinhas para tapiocas.
Foto: Divulgação MST

O ato contou com a presença de 150 pessoas, sendo elas representantes de sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos. 
 

Luana Carvalho, da direção nacional do MST, afirma que não é à toa que a inauguração da casa de farinha foi comemorada com tanta alegria pelas famílias assentadas. “essa experiência da casa de farinha ajuda a pensar em tecnologias sociais adaptadas a realidade das famílias”.
 

E continua: “A partir dessa experiência da casa de farinha, que possibilita trabalhar os saberes científicos junto com os saberes populares que temos na comunidade, a gente vê que é necessário debater, articular e construir as tecnologias sociais adaptadas à realidade das famílias”.
 

Além disso, Luana explica que o PDS é uma experiência fundamental para o estado do Rio de Janeiro. “Ele traz a possibilidade de pensar toda a relação com o meio ambiente, com a natureza, de forma agroecológica e coletiva. O PDS é uma experiência muito importante, principalmente nesse momento da conjuntura, onde debatemos a produção de alimentos saudáveis, com preço justo para alimentar toda classe trabalhadora.” 
 

“Comemorar essa conquista, sob ameaça de despejo, nos dá mais força para seguirmos resistindo, fortalecendo nossa relação com a cidade, ampliando a denúncia e mostrando que a reforma agrária dá certo, pois está mudando vidas, preservando o meio ambiente e alimentando todo povo brasileiro”, finaliza.
 

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“Comemorar essa conquista, sob ameaça de despejo, nos dá mais força para seguirmos resistindo”

*Com a contribuição de Wesley Lima, da coordenação nacional do setor de comunicação do MST

**Editado por Fernanda Alcântara