Sérgio Pererê lança clipe gravado em assentamento do MST

Processo de gravação foi construído coletivamente por militantes do MST
Bastidores da gravação do clipe Filho de Odé. Foto: Dowglas Silva

Por Geanini Hackbardt
Da Página do MST

Filho de Odé onde vai?
Eu vou na linha da fé
Filho de Odé onde vai?
Vou pra mata
Encontrar meu axé

O clipe da música Filho de Odé, do cantor, compositor e instrumentista Sérgio Pererê foi lançado nesta quarta-feira, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. A música, cheia de espiritualidade de matriz africana, ganhou uma nova versão para o clipe. As imagens gravadas no patrimônio histórico guardado pelo assentamento dialogam com a busca da fé e da mata, num local onde a escravidão deixou marcas profundas, mas agora também representa a libertação da terra e de seu povo.

O assentamento onde foram as locações fica em Goianá, na Zona da Mata mineira, próximo à Juiz de Fora. A área possui mais da metade do território coberto por mata nativa, uma reserva de mais de dois mil hectares. Também guarda elementos de toda a questão agrária brasileira. Havia as múmias indígenas que foram incendiadas com o Museu Nacional, há o marco de sesmaria, a senzala e as máquinas da antiga produção de café, falida na crise de 29. Relatos locais contam que na antiga fazenda Fortaleza de Sant´Anna a escravidão perdurou após a Lei da Abolição e tentaram inclusive “reproduzir” as pessoas em cativeiro.

Capoeira no dia da reocupação da fazenda, em 2013. Foto: Mídia Ninja

O processo de gravação foi construído coletivamente por militantes do MST, o artista e a Dicotomia Filmes. “A ideia surgiu após as eleições de 2018, no Festival Estadual de Arte e Cultura da Reforma Agrária”, explica o diretor Israel de Oliveira. “Essa música me tocou pela delicadeza e pelo significado no momento em que vivemos. Ela fala do mal que endurece o olhar e ao mesmo tempo é um canto de amor, de axé que traz a energia que precisamos”.

Atualmente o assentamento abriga 137 famílias que produzem alimentos saudáveis: leite em transição agroecológica, mandioca, feijão, hortaliças, etc. Elisângela Carvalho, da direção estadual do MST-MG, ressalta que eles buscam desenvolver o turismo no local e preservar as ruínas do patrimônio. “Nós temos consciência da riqueza histórica e natural daqui. Até começamos a projetar a restauração da casa das máquinas, da senzala, etc, porém tudo parou após a interferência da operação lava-jato na Petrobrás e o golpe em 2016. Agora estamos a procura de apoiadores para retomar, porque a gente sabe que um povo que não conhece sua história caminha à cegas pro futuro e repete os erros do passado. E isso é o que está acontecendo agora no Brasil”.

A projeção do movimento é lançar uma campanha de financiamento coletivo para cobrir alguns reparos emergenciais no local, que será lançada junto com o making-off do clipe. Mas se você tem interesse em contribuir, também pode entrar em contato pelo e-mail: [email protected].

Confira o clipe:

*Editado por Fernanda Alcântara