“Um fantasma ronda o acampamento” está virando vídeo

Obra, lançada em 2006 pela Editora Expressão Popular, virará filme pelas mãos da Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho, do MST

Obra lançada em 2006 virará filme / Divulgação

Por Felipe José Lindoso
Do Blog Zagaia

Em 2005, a Editora Expressão Popular organizou algumas reuniões com autores e ilustradores para desenvolver o projeto de criação de uma coleção de livros de literatura, alguns voltados para os jovens alunos da  grande rede de escolas públicas que funciona nos acampamentos e assentamentos do MST.

Esse aspecto da ação do MST é pouco conhecido e merece ser amplamente divulgado. São cerca de 2.000 escolas públicas, 200.000 assentados com acesso a diferentes níveis de educação, desde a fundamental até cursos de graduação e pós-graduação, oferecidos com universidades parceiras, inclusive internacionais. Os cursos de Medicina, oferecidos em Universidades cubanas e venezuelanas (sim, a devastada Venezuela, tão duramente execrada pelos jornalões oferece bolsas de estudo para jovens brasileiros) são conhecidos, e os médicos atuam em ações de saúde e prevenção em dezenas de acampamento e assentamentos. Conheça algumas dessas ações aqui.

O primeiro dos livros que nascidos dessa iniciativa foi “Um Fantasma Ronda o Acampamento”, (veja na loja da Expressão Popular) da Maria José Silveira e ilustrado pelo arquiteto e ilustrador Marcos Cartum.

Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, em Guararema (SP) / Divulgação

Publicado em 2006 e destinado ao público pré-adolescente, já com capacidade de leitura desenvolvida, o livro aproveita as ideias de aventura e terror para mostrar como jovens “Sem-Terrinhas” descobrem a trama de um fazendeiro e seus capangas para assustar e  fazer debandar um acampamento de sem terras recém instalado. Como diz a Fanny Abramovich na apresentação do livro “são as três crianças que descobrem o atrás do apavorante”. E, divertindo-se junto com os adultos, dão o troco na mesma moeda e colocam os facínoras para correr.

No último dia 5 de dezembro, Maria José Silveira foi convidada para ir até a Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, São Paulo, para conversar com as crianças da Ciranda Infantil Saci Pererê e conhecer o projeto que estão desenvolvendo, junto com a Brigada AudioVisual do MST: transformar “Um Fantasma Ronda o Acampamento” em vídeo.

Foi uma maravilha e uma experiência muito gratificante.

A Ciranda Infantil Saci Pererê está instalada na ENFF para proporcionar educação complementar para os filhos dos Brigadistas que trabalham permanentemente no local, assim como o de participantes de cursos, encontros e outras atividades que lá se realizam. “Não podemos deixar que as mães e os pais tenham que deixar os filhos sem cuidados, ou deixar de participar das atividades para cuidar das crianças. Assim, as Cirandas fazem parte tanto das escolas como dos centros de formação do MST por todo o país”, informa Vanessa Souza, uma das educadoras da Ciranda da ENFF.

Maria José na Ciranda Saci Pererê, na ENFF / Divulgação

O projeto de produzir o vídeo surgiu da iniciativa de Révero Ribeiro, que coordena as atividades de teatro da Escola. “Pensamos primeiro em fazer uma adaptação teatral do livro, que as crianças adoram. Mas isso evoluiu para fazermos o vídeo, e a ideia foi aprovada pela coordenação e, com o apoio da Brigada AudioVisual, iniciamos a produção.”

As crianças aderiram com entusiasmo, decidindo quem interpretaria os diferentes personagens, preparando as caracterizações. A única dificuldade foi achar uma barba para quem faria o papel do Velho, um provocador infiltrado no acampamento. “Foi a única coisa que compramos”, informa Révero. “Todo o resto foi produzido aqui mesmo. A barraca da “coordenação” do acampamento foi batizada com um cartaz: Ocupação Gláuber Rocha”.

“Também escolhemos as locações aqui dentro da área da ENFF e as crianças mobilizaram os pais para as cenas com adultos e para acompanhá-los nas gravações noturnas”.

A Brigada AudioVisual, que produz materiais para a ENFF e para o MST em geral, está empenhada em fazer um trabalho com o máximo de profissionalismo. O vídeo está sendo mixado, com correção de cores, uso de materiais filmados em outras Ocupações para complementar cenas, e a montagem final está em curso.

“Pensávamos que o vídeo iria durar uns quinze minutos, mas acho que vai dar mais de vinte”, comenta Révero. “E acreditávamos que já estaria pronto, mas é uma trabalheira….”

A previsão é que o vídeo estreie na reunião da Coordenação Nacional do MST, em janeiro, e a partir daí entre em exibição nos equipamentos audiovisuais de assentamentos, ocupações e outros centros de formação do MST.

Na visita à escola, assistimos a projeção de um pequeno trecho (4 minutos), com duas sequências, extraídos do material bruto (sem finalização ou edição).

Comenta a autora do livro, em sua página do FB: “As crianças que têm entre 8/dez anos deram vida aos personagens principais, a Brigada do AudioVisual da Escola filmou e agora o vídeo está sendo montado. Tem coisa mais bacana? Assisti a uma pequena cena, vivida pelos dois “atores” principais, e outra ao redor da fogueira, com um grupo da militância, encenando outra cena do livro. Fiquei emocionada. Eu que não sou de chorar, acho que vou chorar no dia da estreia.”

Acho que eu também.