Festa da Partilha encerra Folia de Reis no Assentamento Carlos Lamarca em Sarapuí, interior de SP

A cantoria se iniciou no dia 22 de dezembro e encerrou com grande festa após passar nas casas do assentamento e dos bairros próximos
Em sua 16ª edição, Folia é uma importante manifestação cultural popular / Foto: João Pompeu

Por João Pompeu – Comunicação MST/SP

A 16ª edição da Folia de Reis Terra Prometida, do Assentamento Carlos Lamarca, foi encerrada com cantoria, cortejo e a Festa da Partilha na noite do último sábado (11). O assentamento, no município de Sarapuí, região de Sorocaba, foi criado pelo governo federal em 1998 após dois anos de luta do MST para que cerca de 50 famílias pudessem cultivar na área.

Surgida em 2003, a partir de um grupo de pessoas que fazia aulas de violão, a Folia é hoje uma das manifestações culturais populares mais importantes do município e agrega famílias do campo e da cidade, para além das assentadas. Segundo o Mestre da Folia, José Herculano, essa atividade é também uma maneira de falar da luta do MST. “Nesses 16 anos, aquele preconceito que tinham com o MST foi se acabando e hoje a gente tem uma relação muito boa com a região.”

A identidade do MST está em toda a alegoria da Folia de Reis / Foto: João Pompeu

Uma das características do grupo é levar a organização e a cultura popular para onde quer que se apresentem. Além das roupas coloridas, próprias dessa manifestação, o símbolo do MST está na camiseta de quem carrega a bandeira, de quem chega na frente e faz o primeiro contato com os foliões, como para reafirmar de onde são.

A Folia de Reis é uma manifestação cultural e festiva do folclore católico, que comemora o encontro de três reis magos com o recém-nascido Jesus Cristo. Segundo a tradição, os reis foram guiados até Jesus por uma estrela e o encontro se deu no dia 6 de janeiro, data que marca o encerramento das comemorações.

A festa de encerramento é realizada através das prendas recebidas / Foto: João Pompeu

Desde o dia 22 de dezembro, o grupo de Folia de Reis do Assentamento Carlos Lamarca iniciou a cantoria nas casas de famílias do próprio assentamento, do Bairro Cabaçais, Várzea de Cima, Várzea de Baixo e na cidade de Sarapuí. “A gente chega nas casas, canta uma música de chegada para abrir a porta da moradia. Quando tem o presépio, cantamos para o presépio. Depois cantamos abençoando a casa, a família e os animais. É servido um lanche e cantamos uma música de agradecimento e despedida”, conta Herculano.

Em todas as casas em que o grupo canta é feito o pedido de uma prenda para a grande festa da partilha, que marca o encerramento da Folia. “Um doa uma coisa, outro doa outra e no fim olha que festa bonita que a gente faz nesse último dia. É o jeito da gente se integrar com as pessoas que moram em volta do assentamento. Em todas as casas que vamos, além das músicas de abençoada, de acolhida e agradecimento, a gente pede a prenda. Essa doação feita durante as visitas nas casas é o resultado que está hoje aqui”, diz Rosa Maria da Silva, filha de assentada e integrante do grupo desde o início.

Tudo é construído coletivamente e de maneira voluntária / Foto: João Pompeu

Rosa destaca o papel do trabalho voluntário para a organização da festa: “É também a partilha do trabalho voluntário que se dá durante a semana, de todo mundo que vêm aqui ajudar a construir a festa. Desde quem vem limpar, ornamentar, cozinhar, cada um tem um papel bastante importante que vai somando e dá um resultado legal, bem coletivo”.

A diversidade é uma das características do grupo Terra Prometida. “Tem Folia que não tem nem mulher. Na nossa tem homens, tem mulheres, juventude. As crianças que são os palhaços. Na lógica de que as pessoas vão tomando gosto pela folia desde pequenos e dêem continuidade para não deixar essa tradição morrer”, diz Rosa.

Tradição passa por todas as gerações das famílias assentadas / Foto: João Pompeu

José Herculano também destaca a interação entre as gerações do assentamento: “A gente viu a criançada nesses 16 anos crescerem, se tornarem adultos, mas também a gente viu muita gente já de idade que hoje está com a saúde debilitada, mas que faz questão de acompanhar e de segurar a bandeira. Vai até fora da casa nos acompanhando”.

Após fazer a última cantoria em uma casa do assentamento, o cortejo seguiu até a sede da fazenda, hoje centro comunitário, onde pessoas de toda a região assistiram às cantorias e partilharam do jantar elaborado a partir das doações.

*Editado por Yuri Simeon