Uma noite para cantar a liberdade!
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Por Wesley Lima
Da Página do MST
Correntes se arrastavam pelo chão… Nas mãos, a mesma corrente prendia, apertava, sufocava. Sufocava sonhos, aprisionava e desumanizava a cor, a raça.
Neste cenário, os olhos de 400 pessoas, da plenária da Coordenação Nacional do MST, durante a 1º Noite PanAfricana do MST, se encontravam atentos e acompanhavam a cada suspiro o sufocante aprisionamento de corpos, antes livres e agora presos.
Enquanto isso, no palco bandeiras e tambores à frente. No chão, marcas de pés acorrentados. No fundo um navio se formava, representando um navio negreiro. Era um navio de solidão, um navio de corpos negados de si mesmos. Negados de humanidade, a sua cultura, religião.
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No balançar do mar, cada corpo preto se movimentava no mesmo ritmo das ondas. Alguns caiam, outros se reerguiam, porém, no mesmo tom de voz se ouvia em alto som: “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, conectando passado e presente.
Antes foram as correntes, os chicotes, a tortura. Hoje, são as prisões, a violência, o genocídio, a falta de direitos, o não acesso aos seus territórios, a intolerância religiosa…
Um presente não tão distante do passado. Presente, que com as mesmas marcas e crueldade do passado, abre as feridas dos chicotes que ainda marcam os corpos do povo preto.
O navio, lentamente, seguia em direção ao palco enquanto os gritos de denuncia aumentavam, se tornavam ensurdecedores. E os olhos que antes estavam apenas atentos, começavam a gritar juntos: a cantar a liberdade. Esse momento marcou a passagem pelo ‘Portal do não retorno’, considerado “a última etapa da maior deportação jamais conhecida na humanidade – o comércio negreiro”, como constatam os historiadores.
Instante em que os olhos negros entreolham-se tristes, incrédulos. Olhos que procuram o velho Baobá, sua robustez, sua sombra, sua proteção. Mas, infelizmente é hora da despedida, de ir embora para não mais voltar. Assim, quatro milhões de africanos foram arrancados de seus territórios!
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(Imagem: Juliana Adriano)
A resistência, a revolta
Em África e na América Latina, a resistência negra e popular também foi lembrada na abertura da Noite PanAfricana do MST. Se por um lado a materialidade dos açoites marcam a história do negro no Brasil, a resistência é lembrada como vários gritos de liberdade.
O batuque do tambor aumenta no ritmo de corações acelerados. Foi nesse ritmo, com punhos erguidos e na ginga da capoeira, que as revoltas começaram em nosso território. E hoje, aprendemos com a lição dos antepassados e o que cada momento representa para nossa atualidade. Alguns dos momentos ecoados na representação mística.
Palmares! Malês! Greve dos Queixadas! Revolta da Chibata! Balaiada! Conjuração Baiana!
Essas e muitas outras revoltas se entrelaçaram aos gritos dos nomes daquelas e daqueles que junto ao povo negro, protagonizaram e marcaram a história nacional e internacional do povo negro.
Zumbi! Martin Luther King! Dandara! Rosa Parks! Aqualtune! Nelson Mandela!
Dezenas de vezes a palavra “presente” foi proferida como resposta, a cada nome citado. “Presente” de presença, de legado, de luta, de contribuição histórica. “Presente” de aprendizados, de referência. “Presente” de amor, amor a raça, amor e luta permanente pela liberdade!
O momento deu início a uma noite, onde a ancestralidade e a luta africana foi relembrada, homenageada e reafirmada como uma das bases na construção da Reforma Agrária Popular. Marcando assim, a história dos 36 anos de luta do MST.
*Editado por Solange Engelmann