Encontro histórico reúne mulheres do MST de todos os estados em Brasília

Evento tem cerca de 3.500 participantes e vai até a próxima segunda-feira (9).
Foto: Janine Moraes

Por Ednubia Ghisi e Marina Duarte de Souza
Da Página do MST

Uma plateia formada por cerca de 3.500 mulheres, coloridas com as cores símbolos do feminismo e do socialismo, lilás e vermelho. Após três anos de preparação e mobilização, a emoção era o sentimento comum entre as presentes na abertura do 1º Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra, na noite desta quinta-feira (5), em Brasília. 

O evento é inédito e marca os 36 anos de trajetória do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Há três dias da data que marca o Dia Internacional das Mulheres, o Encontro segue até o dia 9 e integra a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres, marcada por mobilizações em todo o Brasil. A atividade ocorre no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek.  

Foto Wellington Lenon

O evento traz como lema “Mulheres em luta, semeando resistência” e reúne camponesas de todos os estados brasileiros. Entre as participantes também estão integrantes movimentos e organizações parceiras do MST, e 30 internacionalistas integrantes de movimentos e organizações de 14 diferentes países da América Latina, América do Norte, Europa e África. 

Seja na expressiva participação de mulheres, na qualidade da estrutura e da programação ou na beleza da ornamentação, o encontro reflete um processo de organização e mobilização iniciado em 2017. Atiliana Brunetto, Direção Nacional do Setor de Gênero, enfatizou o esforço das militantes do Movimento na construção do evento. Entre as expressões dessa mobilização foram as mais de 200 cartas escritas por mulheres Sem Terra de todo o país, em momentos de preparação nos acampamentos e assentamentos. 

A dirigente leu para a plateia a carta de Messilene Gorete, assentada do estado de Pernambuco: “[…] Ser uma mulher Sem Terra é ser mulher liberta, emancipada, valente, bonita, alegre. É ser uma mulher que chora, que sente dor própria e da outra e do outro, mulher com pertença, enaltecida, solidária. O MST me fez mulher, me fez um ser harmônico, que tem orgulho de viver. E tudo isso e um pouco mais é o que a cada dia me fortalece para seguir firme e convicta de que estamos do lado certo da história”. 

Caravanas de todos os estados brasileiros vieram para o I Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra.

Para Ceres Antunes Hadich, assentada no Paraná e integrante da direção nacional, o Encontro é fruto de esforços coletivos, que persistem desde a origem do Movimento: “Sem dúvida nenhuma, a gente conseguiu chegar até aqui graças à construção histórica que o MST como um todo, que o conjunto da organização, sempre fez em torno desse debate da participação das mulheres, da igualdade de gênero, da gente possibilitar construir processos de igualdade. Então, isso também é resultado e mérito de toda a construção de luta social igualitária pelo que o MST constrói e acredita”. 

#EleNão 

Foto: Matheus Alves

A abertura do encontro também teve a presença das parlamentares Natália Bonavides, deputada federal do Rio Grande do Norte, Erika Kokai, deputada federal pelo Distrito Federal, ambas do PT. Natália Bonavides enfatizou o caráter do governo atual e o papel das mulheres no enfrentamento do conservadorismo. “Nós estamos num momento difícil do nosso país, em que está no poder uma família de milícias […]. Mas as mulheres organizadas que vão derrotar esse governo de canalhas”.

O pronunciamento de Erikah Kokai provocou o coro “Fora Bolsonaro” da plateia. “Quem é Bolsonaro para bater continência para Trump? A gente carrega aqui a bandeira do Brasil e por amor a essa pátria a gente segue em fileira e dá as mãos. Nesse país onde cresceu o feminicídio, com um discurso misógino e machista do presidente, que vive nos ameaçando. Saibam eles que aqui estamos as mulheres do MST. A gente não dialoga com o medo, não se curva, não se esconde na covardia”.  

“Cheguei pra ficar, cheguei pra valer, o quilombo vem lutar resistir e combater”, cantou a artista Gê Lacerda, do Mato Grosso, que encerrou a primeira noite do encontro. A cultura terá presença forte ao longo dos próximos quatro dias. A programação do encontro contará com a apresentação de mais de 100 artistas, 80 deles mulheres militantes do MST vindas dos assentamentos e acampamentos do Movimento.