Na luta, me entendi mulher

Foi com as formações, dentro do MST, que Maria Moreira e o companheiro, juntos, mudaram a própria realidade.
Foto: Rafaela Ferreira

Por Júlia Barbosa
Do Coletivo Magnífica Mundi

Entre tantas Marias – as Madalenas, as da Penha ou as Margaridas – nasce, ou melhor, renasce, mais uma. Negra, nem baixa e nem alta, dependendo de quem a está encarando. Quando soube que teria esta conversa, ela, entre tantas mulheres ocupando Brasília, durante I Encontro Nacional das Mulheres Sem terra, desapareceu de vista num segundo em meio ao colorido feminino que preenche o pavilhão. Quando voltou, explicou o sumiço: “não posso aparecer na câmera sem meu boné”. 

Maria Moreira é acampada em Formosa (GO), no Dom Tomás Balduíno, mas não é lá que sua história no movimento começa. Há cinco anos, um amigo da família contava, a ela e seu companheiro, talvez durante uma conversa despretensiosa, ou, quem sabe, pelo encantamento com a luta, sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Com pretensão ou não, Maria se encantou também. E não deu outra: no mesmo ano, participou de sua primeira ocupação, no Santa Mônica, também em Goiás. De lá, foi para o Acampamento Dom Tomás, onde hoje resiste às tentativas de reapropriação. Desde então, mulher, negra e sem terra.

Estas três palavras, quando assumidas, são sinônimo de emancipação para ela. Quando se deparou com a pergunta sobre o que o movimento simboliza, respondeu, como quem carrega a resposta na alma: “uma válvula de escape”. Em seguida, explica um pouco de sua vida de antes: com problemas de depressão e sofrendo pressão psicológica, em casa e no trabalho, as durezas da vida não davam trégua.

Mas isto foi o antes. O depois, cheira à liberdade. Maria conta que a pertença ao movimento a permitiu enxergar suas correntes, pois, segundo ela, quando se vive em situação de abuso, é difícil ter consciência de que está em uma relação violenta. E foi com as formações, dentro do MST, que ela e o companheiro, juntos, mudaram a própria realidade. 

Maria renasceu. Com o surgimento desta nova vida, a coragem e o orgulho em se apresentar, onde quer que esteja, como uma mulher sem terra. O que isso significa? Para ela, emancipação e liberdade, coisas que antes do movimento não sabia ser possível.

No seu próprio dicionário, com as definições criadas por si mesma – para melhor compreender o nível de sua autonomia – o nome Maria significa mulher forte, sem medo. Mulher que, como Margarida Alves, da luta não foge. Maria é alguém que, na luta, se entendeu mulher.

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Este perfil faz parte do especial “O que é ser mulher Sem Terra”. Leia mais perfis aqui:

*Edição: Ednubia Ghisi